O representante português na Eurojust, António Cluny, rejeitou hoje à Lusa que exista um conflito de interesses entre a função que desempenha e as investigações do organismo europeu de cooperação judiciária aos casos denunciados pelo ‘Football Leaks’.
“Não tive nenhuma intervenção processual nesses processos, apenas de relações públicas, explicando numa conferência de imprensa [em Haia, em 19 de fevereiro] a posição portuguesa relativamente à cooperação judiciária nos casos que deram origem à reunião de coordenação na Eurojust”, explicou António Cluny, no mesmo dia em que o jornal alemão Der Spiegel noticiou uma possível situação de conflito de interesses do magistrado.
António Cluny observou que os processos “foram despachados por outro colega”, assim como o mandado de detenção europeu de Rui Pinto, detido desde janeiro e desde então identificado como um dos ‘hackers’ por detrás do ‘Football Leaks’, atualmente em prisão domiciliária na Hungria.
De acordo com o procurador-geral-adjunto português, o sistema de distribuição automática de processos na instância europeia prova que não interveio em nenhum, assumindo apenas um papel de “porta-voz do gabinete português na Eurojust, de natureza não processual”.
Ainda segundo o Der Spiegel, o representante português na Unidade de Cooperação Judiciária da União Europeia (Eurojust), não declarou que o filho, João Lima Cluny, é associado do escritório de advogados Morais Leitão, que representa Cristiano Ronaldo, José Mourinho e outros agentes do mundo do futebol em casos de justiça levantados pela divulgação de documentos pelo ‘Football Leaks’.
António Cluny desmentiu qualquer envolvimento do filho, argumentando que João Lima Cluny “não tem nenhuma procuração em nenhum dos processos” em investigação, bem como da própria sociedade de advogados do qual é associado.
“O Der Spiegel faz uma interpretação de factos. Não afirmam, sequer, que eu ou o meu filho tivemos intervenção no processo, mas dá jeito vir criar uma nuvem de suspeição”, acusou.
O Der Spiegel refere ainda que João Lima Cluny enfrentou Rui Pinto num caso judicial em 2014, quando o ‘hacker’ terá transferido dinheiro de um banco nas Ilhas Caimão para a sua conta privada, que terminou com um acordo extrajudicial.
A publicação alemã aponta ainda para a possibilidade de destruição de documentos pelas autoridades judiciárias portuguesas, lembrando que a França tem recorrido à colaboração de Rui Pinto para obtenção de informações sobre casos que envolvem a prática de vários crimes, nomeadamente, fraude fiscal, corrupção e branqueamento de capitais, entre outros.
O representante luso na Eurojust refere ainda que existem “interesses cruzados” e denunciou a tentativa de “descredibilizar a intervenção portuguesa” no organismo e a “atuação dos magistrados portugueses no próprio país”.
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