O francês David Lappartient‎ defende que o desporto terá de continuar a ser central no Comité Olímpico Internacional, ao qual é candidato, apontando a digitalização, a situação geopolítica “bastante complicada” e as receitas dos Jogos como principais desafios.

“Temos muitos desafios no futuro para o desporto, com a digitalização, uma situação geopolítica bastante complicada, com as receitas dos Jogos. Temos muitos desafios e queremos continuar a fazer crescer o desporto. Penso que, como presidente de um Comité Olímpico e de uma federação internacional, tenho o ‘background’ para apresentar ideias e ajudar o movimento olímpico a crescer. Tenho a experiência para ser candidato”, afirmou, em entrevista à agência Lusa.

Presidente do Comité Olímpico de França, país que alcançou em Paris2024 os seus melhores resultados de sempre em Jogos Olímpicos – os franceses conquistaram um recorde de 64 medalhas e foram quintos no ‘medalheiro’ -, e da União Ciclista Internacional (UCI), o francês de 51 anos é um dos sete candidatos a suceder a Thomas Bach na presidência do Comité Olímpico Internacional (COI).

“Thomas Bach é um grande líder, para ser sincero. Tem o meu apoio total, o meu respeito absoluto e ele foi muito bem-sucedido. Mudou o COI para melhor e é um líder forte e todos o reconhecem. O COI é um grande ‘navio’, por isso o objetivo não é mudar completamente. Primeiro, é continuar a fazer o que estamos a fazer, porque está a correr bem. Claro que enfrentaremos muitos desafios e perguntamo-nos de que forma irá afetar a nossa instituição”, admitiu.

Em declarações à Lusa durante a assembleia geral da Associação dos Comités Olímpicos Nacionais (ANOC), a decorrer no Centro de Congressos do Estoril, David Lappartient estimou que o ponto central para distinguir as sete candidaturas será a pergunta ‘qual é a visão para o amanhã’ do organismo olímpico.

“O que precisamos de potencialmente alterar? Ou precisamos de ter alguma evolução no que estamos a fazer? O nosso ‘core business’ tem de continuar a ser o desporto, isso é claro para mim. Somos uma organização desportiva, embora também um pouco política, mas a nossa atividade principal tem de estar centrada no desporto e em continuar a transmitir a nossa mensagem, de paz, de união das pessoas”, defendeu.

Antigo presidente da Federação francesa de ciclismo e responsável pelo pelouro dos esports no COI, o cavaleiro da Legião de Honra de França pensa que uma das características fundamentais para o sucessor de Bach, além da capacidade de liderança e visão, é a capacidade de unir as pessoas. “Espero tê-la”, pontuou.

“Vimos em Paris2024 os impactos positivos da agenda desenhada pelo presidente Bach, nuns Jogos um pouco mais ‘abertos’, e é ótimo para o futuro dos Jogos Olímpicos. Por isso, penso que podemos ampliar a nossa visão, os valores olímpicos, e há muito mais coisas em perspetiva: os Jogos dos esports são claramente uma oportunidade para nós. É por isso que precisamos de ter um líder ligado a todas estas realidades de hoje”, fundamentou.

Bach vai deixar a presidência do COI em 2025, depois de cumprir o limite de 12 anos no cargo, com os sete candidatos já anunciados a terem de apresentar uma lista formal até janeiro, três meses antes da reunião eleitoral de 18 a 21 de março, na Grécia.

“Somos sete candidatos, temos um profundo respeito uns pelos outros, e todos são candidatos fortes. Espero ser eu o vencedor, mas apoiaremos quem quer que seja o vencedor. Há alguns membros que têm mais apoio do que outros, mas quem sabe? Saberemos a 21 de março. Tem de ser uma competição justa. Eu não sou um campeão olímpico, mas sou presidente de uma federação e sou o único candidato que é presidente de um comité olímpico”, salientou David Lappartient à Lusa.

Além do presidente da UCI, são candidatos à liderança do COI outros três presidentes de federações internacionais: o antigo campeão olímpico britânico Sebastian Coe (atletismo), o japonês Morinari Watanabe (ginástica) e britânico Johan Eliasch (esqui).

Na lista de sete candidatos há apenas uma mulher, a antiga nadadora Kirsty Coventry, do Zimbabué, com a campeã olímpica em Atenas2004 e Pequim2008 nos 200 metros costas a tentar terminar com o domínio masculino nos 130 anos de história do COI – foi a única candidata que não marcou presença no Estoril.

Filho de Juan Antonio Samaranch, que liderou o COI de 1980 a 2001, o espanhol Juan Antonio Samaranch Jr. é um dos quatro vice-presidentes do organismo e procura ‘imitar’ o pai e ser eleito presidente, a mesma ambição do príncipe Feisal al Hussein, da Jordânia, membro do organismo desde 2010.