"Amarillo es el Villarreal/amarillo es/amarillo es". Ao ritmo da mítica "Yellow Submarine" dos The Beatles, nasceu o cântico que deu origem ao epíteto pelo qual um clube de uma pequena cidade valenciana é conhecido. Estávamos em 1968, o famoso quarteto de Liverpool já era à época escutado em todo o mundo e o Villarreal procurava o acesso à terceira divisão espanhola (como os tempos mudam…).

Praticamente cinco décadas e meia depois, o Submarino Amarelo está estabelecido entre a elite europeia e gaba pelo continente fora o escudo de vencedor da Liga Europa (primeiro troféu de nomeada ganho pelo Villarreal), enquanto luta por aceder à segunda meia-final da Liga dos Campeões em 99 anos de existência.

A história do emblema da Comunidade Valenciana é fascinante: apenas jogou pela primeira vez na La Liga na temporada 1998/99 e desde então tem vindo a impor-se entre os históricos do futebol espanhol. E até aí, nem 10 participações no segundo escalão somava, para entendermos a dimensão do fenómeno.

Em 1997, o Submarino estava “parado” a meio da tabela da 2ª divisão e apareceu Fernando Roig, o ainda proprietário do clube e um dos investidores de maior sucesso em Espanha, para catapultar o clube para outros patamares. Estava dado o primeiro passo rumo ao topo e daí se seguiram vários grandes momentos, ainda que com um ou outro percalço pelo meio (tão depressa o Villarreal subiu como desceu, embora tenha regressado ao primeiro escalão de seguida).

2004 foi outro ano importante, porque ficou marcado pela chegada de Manuel Pellegrini ao comando técnico do clube. O treinador chileno construiu uma equipa lendária com elementos como Forlán, Riquelme, Sorín, Arruabarrena ou Marcos Senna e conquistou Taças Intertoto, começou a participar na Taça UEFA, chegou à tal inesquecível meia-final de Champions ante o Arsenal de Wenger (2005/06) e somou um épico vice-campeonato na La Liga na época 2007/08.

Liga Europa
O momento em que os jogadores do Villarreal erguem o troféu

A era Emery e a primeira conquista europeia

A última década e meia do Villarreal ficou marcada por um tropeção (nova descida na época 2011/12, ano em que o clube havia jogado novamente a Champions), mas que foi rapidamente esquecido com o imediato regresso à La Liga (e com um sexto lugar conquistado, a valer acesso à Liga Europa). O Submarino Amarelo veio para ficar e tem tido esse proveito de não fugir habitualmente ao top-6 da tabela classificativa.

Ainda assim, os títulos iam escasseando e para a temporada 2020/2021, a família Roig pensou numa solução: contratar um treinador com provas dadas na Liga Europa (prova para a qual o clube se havia apurado). Sem clube desde novembro de 2019 (depois de ter sido despedido do Arsenal), Unai Emery tinha a fama de ter conquistado uma tríade de troféus da segunda maior prova de clubes da UEFA ao serviço do Sevilha – entre 2014 e 2016.

O basco chegou, viu e o Villarreal finalmente venceu um título de maior importância. A final de Gdansk frente ao Manchester United (já depois de ter batido Salzburgo, Dinamo Kiev ou Arsenal no caminho) ficou para a história e a vitória nos penáltis catapultou o Submarino Amarelo para o regresso à fase de grupos da Liga dos Campeões, uma década depois.

Depois da Juve, o Bayern é o alvo a abater

Unai Emery ainda não perdeu nenhuma eliminatória europeia desde que assumiu o leme do Villarreal e o desafio que se gera para a noite desta terça-feira na Allianz Arena de Munique é manter o registo invencível. Nos oitavos de final, caiu a Juventus, numa ode à eficácia, defensiva e ofensiva. O adversário que calhou logo de seguida não convidava a otimismos exagerados, mas o treinador dos valencianos preparou a estratégia certa para fazer escorregar o Bayern no Estádio de la Cerámica.

Villarreal 1-0 Bayer Munique
Muller desolado na partida entre o Bayern e o Villarreal créditos: CHRISTOF STACHE / AFP

Com um 4-4-2 de vistas largas, o Villarreal não só demonstrou uma saudável coesão defensiva e capacidade de entreajuda notável sem bola (o compromisso do criativo Lo Celso a fechar pela direita foi exemplar), como também soube preparar com critério as saídas para o ataque, com um Parejo exemplar a lançar ataques, um Lo Celso dinâmico e incisivo na condução e último passe e ainda uma dupla de ataque notoriamente complementar (à amplitude de movimentos à direita e qualidade na definição de Gerard Moreno, juntou-se a capacidade de rutura no espaço e de finalização do neerlandês Arnaut Danjuma).

Kimmich teve margem para crescer com bola após o intervalo (depois de ter sido inferiorizado por Parejo nos primeiros 45 minutos) e Coman soltou-se mais, mas o Bayern esteve quase sempre numa posição de inferioridade (mesmo tendo terminado com mais posse de bola e mais remates enquadrados do que o Submarino Amarelo). A barreira de Emery contou também com linhas juntas, centrais implacáveis na defesa da área, um guarda-redes eficaz entre os postes e dois laterais capazes de conter o perigo exterior do Bayern (Foyth destacou-se nesse sentido).

Claro que a Allianz Arena intimida e que não será fácil o Villarreal derrubar o gigante, que agora mais parece ter pés de barro (nota-se a instabilidade na transição defensiva e os problemas no controlo da profundidade). Ainda que o Bayern de Nagelsmann esteja longe de ser uma obra terminada, há qualidade individual de sobra e uma equipa que quando assume o jogo no meio terreno contrário e subjuga os adversários a um domínio e pressão de alta intensidade é capaz de golear qualquer oponente.

“Full steam ahead it is, Sergeant” (“É a todo o vapor, Sargento”, numa tradução para português) pode ser um verso inspirador do “Yellow Submarine” dos The Beatles para o jogo na Baviera. O Villarreal sabe que o caminho será em frente, rumo à baliza bávara e que marcar esta noite pode ajudar a empurrar os espanhóis para a rota milionária de Paris.