Hoje cumpre-se uma das etapas mais difíceis do rali, a segunda da Mauritânia. Partimos psicologicamente preparados para o grande esforço físico, com a convicção de que tudo aguentaremos e de que nada nos fará quebrar.

Os primeiros quilómetros fazem-se com ânimo. Atravessam-se dunas que nos deixam sem fôlego... mas esta é apenas a primeira sequência de dunas de muitas que estão para vir. Entra-se e sai-se do oued vezes sem conta e serpenteia-se no meio de vegetação que nos fecha completamente o horizonte. Sobem-se e descem-se montanhas, anda-se em pistas estreitas, pedregosas, sinuosas... desviamo-nos de todas as pedras bicudas e protestamos sempre que pisamos alguma. Dá-se voltas e mais voltas ao volante, o camião vai sacudindo vezes sem conta. A paisagem não é ampla. À nossa frente não temos o deserto a perder de vista!

Sem aviso o cansaço começa a instalar-se... a situação começa a complicar-se para o meu lado quando olho para o conta-quilómetros e constato que o tempo passa... mas os quilómetros não! O sol já subiu ao ponto mais alto do horizonte e já começou a descer. Desce rápido! Olho inúmeras vezes para o conta-quilómetros mas não adianta. Os braços começam a doer, a respiração arde no peito. As reações já não são tão rápidas quanto seria conveniente, as passagens de caixa já não se fazem no sítio certo. As notas do navegador começam a perder importância. Começo a cometer erros. As prioridades mudam. O meu único desejo é chegar ao fim da etapa e nada mais. Abrir a porta e deixar-me deslizar para o chão com as pernas bambas... sorrir e, ao mesmo tempo, fingir que o cansaço não existe.

Vai ser assim esta etapa da Mauritânia. Apesar de não serem iguais todos os anos conheço bem todas as suas dificuldades. Este ano vivo-a apenas na minha imaginação.