Portugal falhou o apuramento para a final four da Liga das Nações e, embora cair aos pés da campeã mundial não seja motivo para alarme, após na primeira edição ter vencido a competição, a Seleção Nacional acaba naturalmente por ficar aquém das expetativas criadas.

Ainda assim, com base numa amostra de somente seis jogos, analisando apenas com base no resultado final poderemos tirar conclusões desajustadas. Importa, por isso, olhar para aquilo que foi o desempenho da equipa de Fernando Santos nestas seis partidas e entender, a partir daí, o real patamar da equipa portuguesa e os desafios que se avizinham. Houve jogos de excelência, como o da jornada inicial com a Croácia, outros de nível médio, como aqueles em que Portugal visitou a Suécia e a França, mas também um francamente abaixo do exigível, como o da derrota com os gauleses.

Olhando para o grupo de jogadores eleitos pelo selecionador para disputar esta fase de grupos é claro que Portugal atravessa, à semelhança de outros conjuntos como a Alemanha, a Espanha ou a Holanda, um processo de renovação. Há várias caras novas na equipa e, além dos que já tiveram minutos, uma série de outros com toda a capacidade para fazer parte do futuro no curto prazo. 

Esta competição serviu, desta forma, de ponte para integrar novos talentos como João Félix, Diogo Jota ou Francisco Trincão, mas ainda com muitos dos elementos marcantes dos últimos anos. O presente, portanto, foi do passado e do futuro. E tanto do passado como do futuro quem parece fazer parte é Fernando Santos, cujo lugar não é discutido após o crédito alcançado com as conquistas tanto do Euro 2016 como da Liga das Nações.

Do ponto de vista coletivo, o desafio do engenheiro parece mesmo ser capaz de dotar esta equipa com tantos elementos talentosos de um ADN mais proativo e ofensivo, que não dependa como aconteceu frente à França da vontade do adversário de mandar no jogo ou dar iniciativa. Estar refém da estratégia contrária foi um dos problemas da exibição portuguesa na derrota que ditou a eliminação da Liga das Nações – e o próprio técnico o admitiu, dizendo que os seus jogadores foram descendo e descendo em demasia no campo, mesmo sem ser essa a sua instrução. Com a qualidade da equipa na atualidade, não há razões para que aconteça desta forma, uma vez que Portugal não fica a dever nada a ninguém no que toca à capacidade dos seus executantes.

Cristiano Ronaldo: probl… solução, mas como?

Também relacionado com a identidade da Seleção está, claro, o seu capitão e maior figura, Cristiano Ronaldo. A poucos meses de completar 36 anos, a idade com que disputará o Campeonato da Europa em 2021, ainda antes de perspetivar aquilo que será o futuro sem ele convém perceber realmente como tirar proveito das (ainda muitas) capacidades de CR7, mas potenciando também os talentos e a energia que os jovens trazem ao grupo. O facto de ter sido sem ele, com a Croácia e a Suécia, que apareceram as melhores exibições desta fase de grupos, leva à legítima questão: não se Portugal deve ou não abdicar de Cristiano Ronaldo, mas como deve utilizá-lo, a ele e aos outros, de forma a obter o máximo rendimento possível?

É talvez a maior interrogação que Fernando Santos enfrenta. Já sem a explosão para jogar na esquerda, tem remetido Félix para esse corredor, onde o colchonero não se sente tão confortável como no meio, e também provoca ajustes na forma de defender, uma vez que é naturalmente um jogador ao qual se exige menos no momento sem bola. Não é uma dor de cabeça que qualquer aspirina seja capaz de resolver, mas, convenhamos, há muitas piores do que a de ter demasiados jogadores com qualidade e ter “apenas” de tirar o melhor proveito deles.

Esse é, de resto, o maior motivo de otimismo para Portugal em relação ao Euro 2020, que se disputará em 2021. Depois, provavelmente já sem Cristiano Ronaldo, haverá uma nova fase, sem o goleador do costume, mas com tantos outros talentos capazes de manter o nível a que esta geração chegou.