Dentro das más exibições é normal apontar o dedo ao treinador, é normal que as críticas se sobressaiam sobre quem lidera a equipa. Se o 11 aparentemente indicia ser o mais forte da seleção portuguesa, as alterações efetuadas pelo técnico Roberto Martínez deixaram muito a desejar.
Contrariamente a outras seleções, a Eslovénia não defendeu predominantemente com um bloco baixo, mas sim um bloco médio, com constantes momentos de transição ofensiva (o que consequentemente originou também transições ofensivas para Portugal). Existia espaço nas costas da linha defensiva eslovena para movimentos de rotura, mas os jogadores mais avançados pouco fizeram relativamente a este aspeto, preferindo jogar de costas para a baliza, com bola no pé, não procurando espaço para jogar.
Somando a isto, Portugal apresentou lacunas na criação de jogo interior, principalmente quando o selecionador retirou Vitinha do jogo para colocar Diogo Jota. O avançado do Liverpool posicionou-se regularmente entre linhas para receber, porém, como sabemos, é um jogador que se destaca quando tem espaço ou pelos movimentos de rotura que oferece - algo que na partida frente à Eslovénia não fez. Podemos questionar se a presença de João Félix não seria mais proveitosa, por exemplo.
O jogo da seleção parecia rumar num sentido lateral, com a procura de jogo exterior através de cruzamentos constantes, com breves rasgos de individualidade de João Cancelo e Rafael Leão. A entrada de Jota fazia sentido para ser uma solução válida dentro de área, onde sabemos ser muito forte principalmente no cabeceamento, porém não o observamos muitas vezes em zona de finalização, excetuando uma oportunidade facilmente defendida por Oblak.
Curiosamente Roberto Martínez retirou Rafael Leão, o principal desequilibrador do lado esquerdo, para colocar Francisco Conceição. Não está em questão a qualidade do 1vs1 do Francisco, que sabemos ser das melhores da seleção nacional, mas o corredor onde foi colocado. Sabemos que se destaca pela capacidade que tem de cruzar pelo corredor direito, mas raramente o assistimos jogar pelo lado esquerdo. Talvez o selecionador tenha visto algo que nós não observamos com tanta clareza.
Dentro das constantes falhas de Cristiano Ronaldo, a quem ninguém lhe retira o seu passado ou as vitórias que conquistou por Portugal, não há sequer a possibilidade do jogador de 39 anos sair para dar lugar a outro jogador. Bruno Fernandes é outro jogador que aparenta não ter substituto.
"Acho que Cristiano Ronaldo não fez um grande jogo. Muito longe disso. Portanto tem de render mais para jogar constantemente 90 minutos. É uma lenda em campo, é lógico que merece todo o carinho mas hoje não esteve ao melhor nível." Carlos Daniel após a vitória de Portugal frente à Turquia (RTP).
Esta é evidentemente uma seleção de estatutos onde os mais bem reputados não abandonam o campo para ser feita uma alteração tática no jogo. Pelo contrário, as substituições são realizadas com objetivo de potenciar esses mesmos estatutos. Caso não o sejam, não consigo ver as vantagens táticas das substituições de Martínez.
Sendo treinador, sei bem que só quem está lá dentro conhece as soluções existentes e as dificuldades que cada jogador está a passar. Quem está lá dentro tem geralmente as melhores condições para decidir. Todavia, vendo totalmente de fora, não consigo compreender metade das decisões táticas de Roberto Martínez. Não percebo porque muda o sistema constantemente e não percebo como privilegia os egos sobre o rendimento. Ou melhor, percebo mas não gosto.
Ainda não enfrentamos uma seleção do nosso estatuto. Veremos o jogo frente a França.
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