31 dias depois e a final do Euro-2020 será disputada por Itália e Inglaterra. Analisando o rendimento das seleções participantes, é justo afirmar que foram as duas melhores da prova: França, Alemanha e Portugal desiludiram; a Espanha em noventa minutos só ganhou um jogo; e a Bélgica foi superiorizada no confronto direto por uma das finalistas. Esta será uma final pela busca da glória e eternidade. De um lado, temos a Itália que, não obstante dos seus quatro títulos mundiais e um europeu, há 53 anos que não ganha um Campeonato da Europa. Por outro lado, temos a Inglaterra apelidada da eterna candidata que nunca ganha, isto porque no seu palmares tem apenas um titulo mundial conquistado há 55 anos em casa.

Itália e Inglaterra foram duas das seis seleções que fizeram a fase de grupos toda em casa, tendo ambas ficado em primeiro dos seus grupos. Não obstante, foi na fase a eliminar que a Inglaterra teve alguma vantagem pois só não jogou em casa os quartos-de-final. Curiosamente, foi neste jogo em Roma que até obteve o seu melhor resultado na prova (4-0 diante da Ucrânia). Por seu turno, a Itália no play-off não jogou nenhum jogo em casa (oitavos e meias-finais em Londres, e pelo meio uns quartos-de-final em Munique). No fim de contas, parece-me que os 3.400 km percorridos pela Inglaterra neste Euro-2020, comparativamente aos 5,410 km realizados pela Itália, não parecem suficientes para aportar qualquer tipo de vantagem.

A Inglaterra não teve um percurso especialmente difícil, mas teve algumas provações pelo meio para justificar a sua presença na final. Concretamente, ditou a sorte que tivesse no grupo a vice-campeã do mundo de 2018, e nos oitavos-de-final a campeã do mundo de 2014. Se no primeiro levou de vencida uma Croácia que não jogou particularmente bem, no segundo venceu a Alemanha num jogo intenso e dramático, onde soube defender bem o jogo todo e, perto do fim, fazer dois golos decisivos em contra-ataque. A Itália teve um percurso mais difícil, na medida em que defrontou duas das melhores seleções da competição na fase a eliminar: nos quartos-de-final fez talvez o seu melhor jogo com a Bélgica, seleção número um do ranking FIFA com uma geração de talentos e um percurso imaculado; e nas meias-finais defrontou a Espanha, campeã da Europa em 2008 e 2012, e pelo meio vencedora do Mundial-2010. Neste último jogo, soube sofrer durante 120 minutos e vencer na concentração e na assertividade nas grandes penalidades. Contudo, a Itália beneficiou de um grupo mais fácil que, perante duas vitórias nos dois primeiros jogos, permitiu rodar e dar descanso à equipa no último jogo do grupo.

A Inglaterra tem um plantel de grande qualidade ao ponto de conseguir fazer duas equipas e não se notar diferença nos níveis de competitividade. Por exemplo, tem extremos que têm rodado as suas titularidades oferecendo descanso a todos: Jadon Sancho, Raheem Sterling, Marcus Rashford, Bukayo Saka e Phil Foden. Os seus dois médios mais musculados e menos criativos, têm conseguido oferecer a estabilidade ao ataque e o equilíbrio à defesa. Concretamente, Declan Rice e Calvin Phillips terão neste jogo um papel fundamental de suster o melhor meio-campo desta prova. Os centrais Maguire e Stones têm aparecido com um destaque simpático, mas a surpresa até acaba por ser à esquerda com Luke Shaw a aparecer frequentemente no ataque a assistir os companheiros para golo. Neste campo, Harry Kane dispensa apresentações: a sua capacidade em baixar no terreno e não dar-se à referência de marcação a Bonucci e Chielini poderá trazer algumas dificuldades a estes.

A Itália é uma seleção que, tendo menos estrelas, parece ser mais equipa. De facto, a grande arma da Itália é que o seu todo é superior à soma do talento individual dos seus jogadores. A sua principal estrela é o treinador. Mancini assumiu o comando da seleção transalpina depois do falhanço histórico do apuramento para o Mundial-2018 e desde então leva 32 jogos sem perder e 13 vitórias

consecutivas. Possui três jogadores defensivamente irrepreensíveis (Bonucci, Chielini e Di Lorenzo) e um guarda-redes que enche a baliza (Donarruma). O trio de meio-campo composto por Jorginho, Verrati e Barella impõem alternâncias de ritmo ao adversário difíceis de acomodar. O jogo interior de Insigne a partir da esquerda e a objetividade de Chiesa do lado contrário aportam à Itália um ADN de matador.

Este será um jogo que terá início na razão e que, a espaços, fugirá para a emoção. O fator casa é algo importante mas não o suficiente para trazer um favoritismo marcado à seleção de Inglaterra, pois esta Itália sabe explorar com assertividade os diferentes momentos que o jogo oferece. Não é esta a partida em que os treinadores deverão adotar estratégias nunca antes utilizadas para surpreender os seus adversários. A pressão é tanta que mais informação para os jogadores gerirem só iria trazer mais instabilidade do que equilíbrio. O superior valor do plantel da Inglaterra (1.260 M€), comparativamente ao da Itália (751 M€), poderá permitir-lhe um acréscimo de intensidade vindo do banco no período de prolongamento (se necessário). Contudo e até lá, os ingleses vão ter de parar a rotatividade do meio-campo italiano.

Grande jogo em perspetiva!

Luís Vilar, Pró-Reitor da Universidade Europeia