Tendo em conta a vantagem de 10 pontos do Sporting CP relativamente ao FC Porto, e sendo este o último jogo entre as equipas na competição, poderá não ser precipitado apelidar a partida deste sábado como “o jogo do título”.

Pelo menos em caso de vitória dos leões, fica difícil imaginar um cenário em que a equipa de Rúben Amorim perderá 13 pontos em outros tantos jogos quando nas primeiras 21 jornadas só não conquistou 6. Pela mesma ordem de ideias, o encontro acaba por ser essencial sobretudo para os dragões, que têm nesta 21.ª jornada a oportunidade de reduzir as distâncias e relançar a discussão pelo título.

É, assim sendo, um jogo de importância máxima. O erro pode custar mais caro e, também por isso, há espaço para algumas questões. Teremos um Sporting CP à procura da vitória como até aqui, sabendo o que a derrota pode custar? Vai o FC Porto jogar, no terceiro encontro com os leões, com dois avançados após não o ter feito anteriormente? Tendo diferenças claras, mas também alguns pontos comuns, quem vai ser a equipa que conseguirá impor a sua pressão face ao adversário?

Leões com mais vontade de ganhar ou receio de perder?

Começando pelos atuais líderes do campeonato, há a dúvida sobre a postura do Sporting CP num jogo em que, por um lado, uma vitória aproximaria muitíssimo a equipa do título, mas, por outro, a derrota relançaria definitivamente o maior rival na luta pela Liga NOS. Rúben Amorim rejeitou preparar a equipa para procurar o empate, e, até pelo modelo de jogo habitual dos leões, é de facto provável que a equipa não se descaracterize para este que será o jogo mais importante da temporada até ao momento.

O Sporting CP não é, genericamente, uma equipa que corra muitos riscos, e por isso mesmo não há muita margem para alterações. A equipa constrói de forma curta quando possível, mas não tem problemas em alongar o seu jogo à procura de uma ligação mais direta aos seus avançados e à conquista de segundas bolas quando o adversário pressiona alto, e é esse o cenário mais provável no Estádio do Dragão.

Tal como nas meia-final da Taça da Liga, onde um bis de Jovane decidiu o jogo a favor dos verdes e brancos, também nesta 21.ª jornada as equipas não devem correr muitos riscos nas suas zonas de construção, o que multiplicará os duelos a meio-campo e a luta pelas segundas bolas.

Por outro lado, também não acredito que Rúben Amorim baixe linhas e abdique de tentar pressionar tanto quanto possível os comandados de Sérgio Conceição – pelo menos inicialmente, enquanto o jogo estiver empatado.

Depois do 4-2-3-1 e do 3-4-3, vai o FC Porto apresentar-se no seu 4-4-2?

Tendo jogado em 4-2-3-1 na partida da 1.ª volta, em Alvalade, e replicado o sistema do adversário na meia-final da Taça da Liga, será hoje o dia em que Sérgio Conceição aposta no 4-4-2 mais utilizado frente ao Sporting CP? Com a obrigatoriedade de vencer, jogando em casa e com os dois avançados – Marega e Taremi – disponíveis e com confiança, acredito que o técnico azul e branco vai desta feita apresentar-se com dois avançados.

Ofensivamente, a equipa tentará explorar aquela que parece ser a maior debilidade defensiva do Sporting CP – os espaços intermédios ao lado de João Mário e João Palhinha, nas costas dos extremos mas à frente dos laterais – com Otávio e Corona a pedir entrelinhas, criando a dúvida nos alas, Pedro Porro e Nuno Mendes, sobre se devem ir, e abrir espaço para movimentos de dentro para fora em que Marega é forte, ou ficar e deixar Corona e Otávio receber.

Por outro lado, o 4-4-2 poderá levar a uma maior complexidade aquando dos momentos de posse leonina, desfazendo os encaixes automáticos que existiram na Taça da Liga. Rúben Amorim disse na conferência de imprensa que é assim que espera os dragões, em 4-4-2, e isso poderá ser explorado pelos leões: superioridade 3vs2 na primeira fase de construção, bem como de 5vs4 perante a última linha defensiva dos da casa.

As perguntas para o Quem é Quem? que pode decidir o jogo

Independentemente da postura do Sporting CP e do sistema escolhido pelo FC Porto, há algumas questões que podem estar na base do desfecho deste jogo que pode, ou não, ser o duelo do título. Tendo em conta que tanto uma equipa como a outra são fortes no ataque à profundidade, mas não se distinguem pela criatividade e complexidade da sua organização ofensiva (algo que os dois técnicos admitiram, de forma mais ou menos clara nas conferências de imprensa), importa perceber qual será o coletivo que se vai apresentar mais pressionante e, ainda mais importante, qual a pressão que vai ser mais eficaz.

Os azuis e brancos distinguem-se desde a chegada de Conceição pela forma como condicionam o jogo do adversário logo junto da sua área, mas o Sporting CP também o fez, sobretudo no encontro da primeira volta. Será o FC Porto a ser FC Porto ou os leões a matar as aspirações dos dragões naquilo em que eles costumam ser mais fortes?

Depois, o possível embate 4-4-2 vs 3-4-3 poderá abrir espaços cruciais. A equipa de Amorim costuma ter algumas dificuldades a defender o tal espaço nas costas dos extremos, mas jogando no seu sistema predileto não poderão ser os dragões a ter dúvidas na forma como devem parar a dinâmica entre os dois Pedros à direita e os dois Nunos à esquerda? Não há encaixe direto, a menos que os extremos do FC Porto persigam os alas leoninos de forma individual, e se o fizerem estarão sujeitos a um desgaste enorme e possivelmente a jogar constantemente muito recuados. Assim, estará em maior destaque a dupla Otávio e Corona na ocupação do espaço entre linhas, expondo o Sporting CP nas dificuldades que tem sentido ocasionalmente, ou vão ser os leões a impor uma dinâmica superior nos seus corredores?

Quem souber as respostas, provavelmente saberá quem vence. E, consoante o resultado, pode ser apenas o jogo… ou o título.