Se há algo que a venda de Rafa Mujica para o Al-Sadd nos mostra é que os clubes fora da esfera dos ditos três ‘grandes’ também sabem valorizar e vender os seus jogadores por quantias consideráveis, inclusive acima dos respetivos valores de mercado. Foi o que aconteceu com o avançado espanhol, que acabou de protagonizar uma transferência de 10 milhões de euros (mais 2,5 milhões dependentes do cumprimento de objetivos), a maior da história do Arouca.
Depois de duas temporadas com desempenhos bastante acima do esperado na Liga Portuguesa, na qual terminaram no quinto lugar em 2022/23 e na sétima posição em 2023/24, os arouquenses querem dar continuidade ao bom momento. Isso só será possível, contudo, se forem capazes de se manterem estáveis financeiramente. Algo que, por sua vez, e enquanto não se efetiva a centralização dos direitos televisivos (entre outras medidas que poderiam ajudar os clubes que não os ‘grandes’), está diretamente ligado à realização de encaixes financeiros significativos com a venda de jogadores. Sem garantir a entrada desses tão desejados milhões na conta bancária, dificilmente um clube consegue dar o salto para outros patamares ou até mesmo, em alguns casos, manter-se no primeiro escalão no curto ou médio prazo.
Dito isto, a verdade é que, nos últimos anos, temos assistido a vendas cada vez mais avultadas realizadas pelos mais diversos clubes da Primeira Liga. Se não, vejamos: em 2019, o Portimonense vendeu Shoya Nakajima ao Al-Duhail por uns impressionantes 35 milhões de euros, um valor recorde se deixarmos fora da equação as transferências efetuadas por Benfica, Sporting e FC Porto. O mesmo Portimonense, vale lembrar, fez 15 milhões de euros com a venda de Beto aos italianos da Udinese, dois anos mais tarde. Francisco Trincão saiu do SC Braga e rumou ao Barcelona a troco de 31 milhões de euros, enquanto Vitinha deixou 32 milhões nos cofres dos minhotos quando assinou pelo Marselha. Outro exemplo, ainda no que aos arsenalistas diz respeito, foi a venda de David Carmo ao FC Porto, por 20 milhões de euros. O próprio Famalicão também encaixou, no total, mais de 25 milhões de euros com as vendas de Pedro Gonçalves e Manuel Ugarte ao Sporting. Antes, o Vitória SC já tinha vendido Edmond Tapsoba ao Bayer Leverkusen por 20 milhões de euros e, mais recentemente, o SC Braga anunciou ter negociado Álvaro Djaló com o Athletic Bilbao por 15 milhões.
Com todos estes dados em cima da mesa, tiro duas conclusões: não só os clubes ‘não grandes’ têm conseguido fazer vendas importantes nos últimos anos, como os seus jogadores são cada vez mais apetecíveis no estrangeiro. Sim, porque já existem, como se pode constatar, bastantes casos de futebolistas que não precisam de passar por Benfica, Sporting ou FC Porto para se mostrarem ao mundo.
Por outras palavras, o futebol português é, a cada dia que passa, uma montra cada vez mais apetitosa para os grandes clubes europeus – e não só. E isso só pode ser positivo. Com o crescimento financeiro e, por conseguinte, desportivo de mais clubes, maior será a competitividade do nosso campeonato. Maiores serão também as probabilidades de essas equipas realizarem boas prestações nas competições europeias, o que irá beneficiar a prestação da Liga Portuguesa no coeficiente da UEFA, com todas as implicações favoráveis que isso acarreta.
Em suma, um futebol português mais forte passa, pelo menos em parte, pelo incremento da qualidade existente em todos os clubes e não só nos do costume. Felizmente, na perspetiva do mercado, há vida para além dos ‘grandes’. Cada vez mais.
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