O Sporting é, neste momento, o melhor ataque do campeonato a alguma distância da concorrência. Com 93 golos, a equipa leonina tem mais 22 golos marcados que o seu principal concorrente, o Benfica, com 71. O que mudou do ano passado para este e porque é que o Sporting é tão mais prolífico que no ano passado, em que apenas concretizou 71 tentos?
Este talvez tenha sido o ano em que Amorim mais vezes se adaptou. Adaptou-se ao adversário, mas principalmente adaptou os jogadores para serem capazes de se adaptar aos contextos e aos problemas que os adversários lhe poderiam causar.
Ainda que o Sporting parta do 3-4-3 que todos conhecemos, um dos seus grandes trunfos passa pela dinâmica, que lhe permite diversos desdobramentos do seu próprio sistema. A equipa cresceu este ano no ataque posicional e é uma equipa de paciência, mas tem muito poucos problemas na saída longa.
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Na construção, por exemplo, partindo do pontapé de baliza ou de construção baixa, é comum a equipa organizar-se numa espécie de 2-1-4, com a subida do central do meio (normalmente Coates) para as costas da primeira pressão adversária:
Em ambas as imagens é possível também verificar o posicionamento mais baixo de um dos laterais e de um dos médios, sendo que o outro médio procura ser referência para ligação numa fase posterior. Atraindo o adversário para a ligação curta, torna-se mais fácil a ligação dentro da estrutura adversária.
Por outro lado, quando o adversário pressiona mais baixo ou numa construção mais alta, apresentam-se frequentemente numa construção a três.
Esta imagem permite também observar a definição clara de um médio mais adiantado e de outro mais recuado, o que é uma das particularidades deste 3-4-3. Na imagem, repare-se nos posicionamentos de Hjulmand e Pedro Gonçalves, que jogou a médio neste jogo.
Por vezes, pela definição tão clara de um médio de cobertura, a equipa chega mesmo a posicionar-se numa espécie de 3-6-1:
A colocação de tantos jogadores junto da última linha adversário cria uma ameaça permanente, sendo um dos motivos pelos quais a equipa do Sporting se tornou tão forte no ataque à profundidade ao longo desta época. O outro motivo chama-se... Gyökeres.
Atente-se como, por exemplo, nesta construção alta, os movimentos de Gyökeres e Paulinho procuram colocar a linha defensiva adversária em sentido:
Estes movimentos têm a vantagem de ativar comportamentos de tirar profundidade à linha defensiva contrária que, inevitavelmente, deixará espaço entrelinhas.
Em zonas mais adiantadas, e especialmente chegando ao corredor, é comum a equipa envolver vários jogadores, criando alguma aglomeração. O binómio largura-jogo interior é uma faceta de análise interessante, por estar muito dependente da escolha de jogadores no onze. Contudo, é essa dinâmica que pode levar à criação de combinações para cruzamento, ou à atração de jogadores ao corredor para, posteriormente, procurar ligação interior, como podemos ver na imagem.
Talvez a principal novidade para esta época tenha sido, contudo, a possibilidade de associar Paulinho a Gyökeres, partindo o primeiro de um corredor, e metamorfoseando um pouco o sistema de Rúben Amorim. Repare-se como, na imagem, se vê praticamente um 3-1-4-2, com Paulinho em zonas interiores ao lado de Gyökeres:
É difícil dissociar, claro, o sucesso do Sporting da grande explosão que Gyökeres trouxe ao futebol português. O sueco prepara-se para se tornar o melhor marcador da Liga e foi um verdadeiro pesadelo para as defesas adversárias por ser tão completo em tantas vertentes do jogo, por finalizar com os dois pés e por ser tão capaz de explodir no ataque ao espaço. Talvez esta última vertente tenha sido o ás de trunfo de Amorim, dotando a equipa de uma capacidade na transição ofensiva e no ataque ao espaço com um volume até agora inédito.
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