A reta final do campeonato é sempre a altura em que os clubes, e respetivos adeptos, trazem para junto de si as calculadoras. Uns para fazer contas aos pontos de que precisam para garantir os seus objetivos, outros precisam de olhar para os jogos dos rivais porque já não dependem de si próprios. A 10 jornadas do final da Liga NOS, apesar de na luta pelo título termos o Sporting CP a comandar as operações e com um favoritismo claro relativamente aos demais, na luta pela manutenção a realidade é outra: a separar os últimos 10 classificados há apenas 6 pontos.
Perante este cenário, sobram dúvidas e muita incerteza sobre o que se passará no fundo da tabela, mas os clubes têm tentado chegar a esta fase o mais bem preparados possível – a questão é: estarão a fazê-lo da melhor forma? Olhando para os últimos 7 classificados, só o Portimonense ainda não mudou de treinador. O último foi o Nacional, que abdicou de Luís Freire, treinador que havia subido na época passada, para fazer regressar Manuel Machado. Antes, Ivo Vieira substituiu Silas no Famalicão, Jorge Costa tomou o lugar de Sérgio Vieira e por aí adiante.
Se tanto no Farense como no Famalicão a mudança parece ter surtido efeito, com ambas as equipas a melhorarem num curto espaço de tempo, a verdade é que há casos diferentes, como o Boavista, que mudou após 9 jornadas, mas agora encontra-se no último lugar. De resto, historicamente as ‘chicotadas psicológicas’, como ficaram céleres as mudanças de treinadores no futebol nacional, não têm garantido resultados práticos. Olhando para a época passada, as duas equipas que desceram recorreram à troca de treinadores, em oposição ao Tondela, que terminou ligeiramente acima da linha de despromoção após aguentar Natxo González do início ao fim.
A verdade é que cada caso é um caso e generalizar poderá levar a maus julgamentos, desde logo porque as equipas têm problemas diferentes, e por isso exigem soluções diferentes. Importa, assim, olhar para casos práticos. Ao Famalicão, por exemplo, reconhece-se um plantel de qualidade (mesmo que inferior ao da época passada) e portanto percebe-se que a direção entenda que o potencial máximo dos jogadores não estava a ser alcançado e altere o treinador. Ivo Vieira, na minha opinião um dos melhores treinadores da liga, mostrou isso mesmo nos seus dois primeiros jogos.
No entanto, o problema é precisamente que para diferentes males, a solução seja sempre a mesma: a troca de treinador. E, pior ainda, que os clubes, ao mudar de treinador, revelem a completa falta de planeamento existente – de outra forma é impossível perceber que o Nacional deixe Luís Freire para avançar para Manuel Machado, sendo dois treinadores tão diferentes, ou que o Boavista substitua Vasco Seabra por Jesualdo Ferreira. É legítimo que qualquer clube mude de treinador, mas fica difícil entender que no início da época definam um caminho (composto pela escolha de treinador, estilo de jogo e por conseguinte um plantel adequado aos primeiros pressupostos) e, a meio, enveredem pelo oposto – dando a um novo treinador um plantel composto e trabalhado para jogar um futebol que não é o seu.
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