O Sporting encontra-se numa fase de transição. Por um lado, não é de desvalorizar a tranquilidade e confiança que Rúben Amorim devolveu à equipa, e por consequência ao próprio clube, sobretudo porque é do Sporting que estamos a falar. O treinador leonino chegou em (mais uma) fase de convulsão, mas a verdade é que hoje a equipa é mais competitiva, confiante e segura de si. Para isso contribuiu a aposta na formação, que aumentou a qualidade do plantel e a ambição do mesmo, mas também a coerência nas suas escolhas táticas – o 3-4-3 foi implementado e nem em fases de contrariedade o técnico abdicou dele (embora nalguns momentos tenham existido contextos em que isso parecia o mais indicado).

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Essa estabilidade, refletida nos resultados por apenas uma derrota em sete jogos oficiais, o que deixa o Sporting no 2.º lugar da tabela classificativa, é impulsionada pela estrutura de três centrais e dois médios que têm um papel fulcral no equilíbrio da equipa e que, geralmente, até são jogadores com rédea curta no momento ofensivo.
Contudo, também é notório que há margem de progressão e que, nesta fase, os leões ainda não controlam os jogos como uma equipa grande, que ambiciona lutar por títulos, deve fazer. As palavras de Rúben Amorim após o último jogo (vitória por 3-1 frente ao Gil Vicente) foram precisamente nesse sentido: “Ganhámos como uma equipa grande, mas não jogámos como uma equipa grande”, disse. Os verdes e brancos não asfixiam os adversários com uma pressão tão forte quanto, por exemplo, a do Benfica de Jorge Jesus, nem são capazes de chegar constantemente a momentos de finalização por via do seu ataque posicional. A equipa é segura, mas não dominadora.

Há excesso de jogo exterior e falta de criatividade

Se, por um lado, a estrutura em 3-4-3 com os já mencionados três centrais e dois médios posicionais confere ao Sporting uma segurança importante, por outro lado Rúben Amorim, ao atribuir a estes cinco elementos no corredor central um foco essencialmente defensivo, fica demasiado dependente dos desequilíbrios nos corredores laterais, onde os dois alas têm liberdade máxima para subir em simultâneo. A justificação do treinador após a última partida reflete essa dependência ofensiva do seu jogo exterior: “o Gil encaixou no nosso sistema e foi muito agressivo nas marcações. Tivemos dificuldades nos corredores, o Nuno e o Pedro perderam muitas bolas”, explicou.

No fundo, sabendo que as balizas estão situadas no corredor central, atacar por dentro traz vantagens – porque os desequilíbrios deixam a equipa enquadrada com a baliza, onde o sucesso é mais provável – mas os erros nesse espaço também têm tendência para ser mais problemáticos porque dão ao adversário melhores condições para contra-atacar. Maiores valias, maiores riscos. E, nesta balança, Amorim opta por baixar os riscos, mesmo sabendo que a equipa perde fulgor ofensivo.

Além dessa tendência pelas alas na hora de atacar os adversários, o ataque da equipa verde e branca acaba por ser pouco criativo pelo perfil dos dois médios com que tem atuado. João Palhinha, impressionante em praticamente todos os aspetos defensivos, mas com limitações no que dá ofensivamente, e Matheus Nunes, mais solto desde a chegada do primeiro, mas também ele com poucos argumentos com bola, não compõem uma dupla nem capaz de tornar fluída a troca de bola da equipa, nem de dar soluções… como a que Daniel Bragança deu no lance do 2-1 frente ao Gil Vicente.

Leão pode crescer… rapidamente

A boa notícia para os sportinguistas é que há margem para melhorar, pelo menos em parte, as lacunas já apresentadas. Descartando mudanças estruturais ou demasiado profundas, porque Rúben Amorim já mostrou estar convicto da aposta neste 3-4-3 e nas dinâmicas que implementou, o treinador dos leões poderá fazer a sua equipa crescer coletivamente como gosta de o fazer, isto é, a partir das individualidades. Ou seja, mais do que mexer no sistema tático, Amorim prefere mexer nas características dos jogadores em cada posição. É assim que atua ao longo do jogo – e por isso vemos tantas vezes jogadores a cumprir papéis diferentes na mesma partida – e será assim, também, que deverá evoluir a sua equipa.

Neste sentido, há duas posições nas quais Amorim poderá mexer e, assim, dar algo novo à equipa. No meio-campo, João Mário entrará, mais cedo ou mais tarde, no 11 titular. Nos Açores, o internacional português subiu claramente o nível da equipa quando entrou pelo lugar de Matheus Nunes, e à partida será essa a troca também no 11. João Mário dá a tal criatividade e capacidade entrelinhas que nem Matheus nem Palhinha oferecem e a sua entrada, não resolvendo todos os problemas, terá tendência para os atenuar. Daniel Bragança também podia ser solução, tal como mostrou em Alvalade na passada quarta-feira, mas parte atrás de João Mário.

Depois, na frente, o menor rendimento de Jovane Cabral quando comparado àquele que apresentou no final da temporada passado em conjunto com a boa entrada de Sporar no último encontro levam a crer que também aí pode haver mexidas. Sendo jogadores muito diferentes, há que calcular as vantagens e desvantagens da troca. O treinador do Sporting gosta que o avançado baixe para ligar o meio-campo com o ataque, como Paulinho tão bem fazia em Braga, e Jovane, embora bem distinto do ponta-de-lança bracarense, oferece muita mobilidade na frente e aproxima-se dessas dinâmicas (através das quais até assistiu Pedro Gonçalves, diante do Santa Clara). Sporar é um ponta-de-lança sem tanta mobilidade, embora também ofereça apoios frontais com qualidade, mas dá maior presença nas zonas de finalização. Talvez a sua entrada não seja tão premente quanto a de João Mário, mas também teria o condão de deixar a equipa diferente.