Roberto De Zerbi é conhecido por ter uma ideia de jogo arriscada em que privilegia o jogo curto a partir de trás, sendo que quase nunca opta pelo pontapé de baliza longo, preferindo sair jogar curto pelos defesas centrais. O treinador italiano não acredita que o sucesso esteja nas bolas aéreas, sendo que a probabilidade de ganhar a bola num duelo aéreo é baixa.
De Zerbi ficou conhecido pelo seu 2+2 em corredor central, isto é, com a construção a ser feita pelos dois defesas centrais mais dois médios centro, com os laterais a dar largura. Todavia, não foi desta forma que, por exemplo, De Zerbi começou a Premier League nesta temporada.
Frente ao Luton optou por uma construção mais perto do 2+3, ou seja, com os dois centrais mais um médio centro, com os laterais a juntarem-se ao corredor central para oferecerem vantagem numérica a partir daí. Solly March deu largura no corredor direito e Mitoma no corredor esquerdo. No fundo, o Brighton, em organização ofensiva, organizava-se em 2-3-5.
Uma dinâmica que tentaram explorar com esta abordagem foi a descida de Gross (o outro médio que estava a encostar na linha defensiva adversária de 5 jogadores), enquanto que Milner saía da construção e procurava um movimento de rotura a rasgar a linha defensiva adversária tentando apanhar a mesma de surpresa.
No entanto, na grande maioria dos jogos, os homens de De Zerbi constroem preferencialmente em 2+2. Exemplo disso mesmo é a vitória fora de casa, em Old Trafford, frente ao Manchester United (1-3). Construção com Van Hecke e Dunk mais Dahoud e Gross. Quando aplicam esta construção, o objetivo pode ser um de dois:
- Deixar um dos médios centro de frente para o jogo para poder conduzir ou;
- Explorar o espaço entre linhas.
Como é que fazem isto? Através de duas dinâmicas simples.
1. Optam por colocar os médios sempre atrás dos primeiros jogadores adversários que pressionam. Ou seja, se o adversário pressionar os dois defesas centrais com dois avançados, os médios de De Zerbi posicionam-se por trás desses avançados - totalmente contrário ao praticado normalmente.
Quando geralmente se pede para o médio procurar uma linha de passe, De Zerbi quer que o médio se esconda para posteriormente servir para uma dinâmica de terceiro homem. Ou seja, o objetivo é colocar a bola no médio que está no lado do central que está com bola, situando-se poucos metros abaixo do outro médio que está na diagonal para servir rapidamente de linha de passe em apoio de forma a ver o jogo de frente.
2. Quando bem pressionados e praticamente ao homem (4vs4), um dos médios abre ligeiramente no terreno, alargando o distanciamento entre médios de forma a criar uma linha de passe para um outro jogador da sua equipa aparecer com uma linha de passe limpa entre linhas (geralmente é Welbeck que costuma descer no terreno).
Mesmo aqui, De Zerbi privilegia ter mais um jogador perto do portador da bola para dar seguimento à jogada, normalmente um pouco mais à frente deste recetor para lhe dar um pequeno toque curto para a frente. Aconteceu frente ao Wolves e frente ao Manchester United, por exemplo.
Os princípios do jogar de Roberto De Zerbi passam por ter pelo menos dois jogadores perto da bola para, caso um perca a posse, o outro rapidamente consiga reagir à perda do seu colega. Depois, o facto dos jogadores estarem próximos, facilita também o passe, sendo que os mesmos tentam estar em diferentes planos para que posteriormente consigam receber a bola de frente para a baliza adversária. Isto vai ao encontro de outro princípio deste jogar - simplificar o jogo quando estamos a jogar de costas para a baliza adversária.
A partir daqui, se ultrapassada a primeira pressão adversária, existe muito espaço para progredir com bola controlada e para tomar a melhor decisão. No fundo, trata-se de ter paciência em primeira fase de construção para aplicar posteriormente ataques rápidos, aproveitando o espaço existente entre a primeira fase de pressão adversária e os restantes jogadores.
Claro que esta forma de jogar acarreta riscos. Aliás, no último jogo frente ao Liverpool, Steele cometeu um erro no passe em primeira fase que originou uma grande penalidade para os reds. Todavia, sem risco não há proveito. E que bonito é ver as equipas que arriscam a jogar futebol. O jogo é diferente e é por isso que tantas pessoas atualmente preferem ver um Brighton do que alguns top-6 da Premier League.
Apreciemos Roberto de Zerbi.
PS: Rafael Pacheco, treinador de futebol, tem nas bancas o livro 'Rogerball - O Benfica de Schmidt', onde analisa a época do Benfica em 2022/23, que levou os encarnados ao título de campeão nacional e aos quartos de final da Liga dos Campeões.
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