O Arsenal é o próximo adversário do FC Porto nos oitavos de final da Liga dos Campeões. A equipa comandada por Mikel Arteta é uma das mais entusiasmantes de assistir na presente temporada. Luta por conquistar a Premier League e é cada vez mais um candidato à vitória. Nas últimas partidas goleou o West Ham (0-6) e o Burnley (0-5), para além de ter vencido o Liverpool de Klopp anteriormente por 3-1.
Então como joga este Arsenal e como é que o FC Porto pode ter mais hipóteses frente aos londrinos?
Primeiramente, é importante perceber que a equipa de Arteta destaca-se sobretudo no momento de organização ofensiva. Os jogadores do Arsenal sabem que têm de ocupar determinados espaços e que as suas posições podem e devem variar no decorrer do jogo – organizando-se principalmente em 3-2-5.
A fase de construção inicia-se geralmente a três com os dois defesas centrais mais Jakub Kiwior (lateral esquerdo) com os dois médios nas costas da primeira pressão – Declan Rice é sempre um deles sendo que o outro pode ser Odegaard ou Ben White. Ben White? Sim. Saka oferece a largura no seu corredor e Odegaard explora espaço entre linhas – à semelhança de Trossard e Kai Havertz. A largura no corredor esquerdo é oferecida geralmente por Martinelli.
Exemplo 2 de primeira fase de construção
Se anteriormente a equipa do Arsenal era reconhecida pelos seus ataques rápidos depois de conseguir ultrapassar a primeira fase de pressão, hoje em dia são cada vez mais completos a jogar frente a blocos baixos. Existem questões individuais que se destacam: o pé esquerdo de Saka e a decisão de Martin Odegaard (o grande pensador da equipa). Tal não quer dizer que os outros jogadores não tenham a sua qualidade – a velocidade de Martinelli, a finalização de Trossard ou a meia distância de Declan Rice.
Esta é uma equipa cada vez mais completa que não gosta de deixar os adversários sairem a jogar com conforto. Na primeira fase de pressão, tentam condicionar ao máximo a construção adversária onde tentam colocar uma pressão praticamente homem-a-homem a partir do pontapé de baliza, principalmente em situações de igualdade no marcador – observamos com regularidade os defesas centrais a acompanharem jogador adversário até zonas muito avançadas do terreno.
Continuam muito competentes nas transições ofensivas, sendo uma equipa rápida e com capacidade para decidir nas melhores condições. Já em momento de transição defensiva, reagem muito rapidamente à posse de bola, não permitindo o portador da bola ter tempo para pensar – pelo menos tentam.
Curiosamente é nas bolas paradas ofensivas que se têm também destacado na presente temporada. São a equipa da Premier League que mais golos apresentam a partir de pontapé de canto – mais precisamente 11 até ao momento. Atipicamente, os gunneres colocam quase todos os jogadores posicionados ao segundo poste para posteriormente atacarem determinadas zonas. Já nos livres, colocam quase todos os jogadores em posição irregular de fora-de-jogo para depois, sim, se juntarem à linha defensiva adversária para atacar a bola. O objetivo de ambas as estratégias parece-me evidente: os adversários não apresentarem uma referência de marcação de forma a existir muitas vezes uma surpresa ou uma superioridade no ataque de determinado espaço.
Exemplo de pontapé de canto
Exemplo de pontapé de livre
Como pode então o FC Porto de Sérgio Conceição tirar maior proveito desta poderosa equipa?
Face ao que fui observando, a equipa de Arteta sente-se confortável com bola, mas sem ela torna-se algo diferente. Seria importante o FC Porto deixar os gunners desconfortáveis com bola, tentando manter a posse para si quando necessário, daí defender que os dragões poderiam pressionar alto em primeira fase de construção – momento onde as equipas de Conceição se costumam destacar.
Para além disso, notam-se algumas lacunas na construção da equipa de Arteta, principalmente pelo lado esquerdo da mesma, onde estão Gabriel e Kiwior, sendo que os mesmos não apresentam o mesmo critério que os seus restantes colegas.
Porém, quando fazes uma pressão tão alta, é provável que o adversário tente colocar passes longos nas costas da tua linha defensiva. Aqui, é importante que o FC Porto consiga sobretudo anular a velocidade de Martinelli, não descartando os movimentos de rotura de Saka.
A nível individual, e principalmente em último terço defensivo, é aconselhável que o FC Porto anule por completo Martin Odegaard, retirando-lhe qualquer espaço e tempo para pensar. É o grande organizador de jogo da equipa de Londres e se o FC Porto conseguir anular o norugueguês, certamente conseguirá anular a criatividade das jogadas ofensivas do Arsenal.
Para além disso, apesar de estar cada vez melhor com o seu pé direito, é fundamental anular o pé esquerdo de Saka – quando faz movimetos de fora para dentro para procurar o seu remate é extremamente perigoso.
O Arsenal não conta com jogadores como Gabriel Jesus ou Zinchenko (por lesão), enquanto que o FC Porto não conta com Zaidu ou Taremi, recentemente lesionados. É o desafio mais complicado da temporada para a equipa de Sérgio Conceição, porém é nestes jogos que geralmente o treinador dos dragões se destaca a nível estratégico.
PS: Rafael Pacheco, treinador e analista de futebol, tem nas bancas o livro 'Rogerball - O Benfica de Schmidt', onde analisa a época do Benfica em 2022/23, que levou os encarnados ao título de campeão nacional e aos quartos de final da Liga dos Campeões.
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