O papel do treinador não é totalmente consensual. Ou seja, existem opiniões diferentes sobre a quantidade e que tipos de tarefas lhe cabem. O que parece unânime é que ser treinador não é fácil. Quem chega de novo sabe que tem pouco tempo para comprovar que vai criar mais valor. Sabe que a construção de uma equipa e identidade coletiva que o treinador quer incutir demora tempo. E que passadas algumas épocas é mais difícil continuar a motivar, liderar e acrescentar ainda novos desafios e desenvolver mais competências nos seus jogadores e na sua equipa.
Leonardo Jardim tem realizado a todos os níveis um trabalho notável. Tem alguns fatores a favor (poucas expectativas, Presidente que lhe retira as atenções, menos carga física e emocional devido a menos jogos) que foram negligenciados no início pela grande maioria dos ‘peritos’, mas mesmo assim, tem potenciado quase que ao máximo a qualidade individual de alguns jogadores. Como equipa considero que ainda podem crescer mais. Mas com pouco tempo e menos jogos, construíram uma identidade que se vai solidificando. Segura, racional, muito foco e mesmo com alguns erros de qualidade durante os jogos por parte de alguns dos jogadores, apresenta uma imagem coesa.
Leonardo Jardim aproveitou essencialmente o facto de não ser o centro das atenções. Tem sabido até agora sustentar essa vantagem. E há que valorizar e muito isso.
Uma das formas de analisar o real papel de um treinador numa equipa e no crescimento da mesma, é verificar o comportamento e o desempenho da equipa quando ele está ausente. Existe uma característica fundamental nas equipas que ganham mais vezes. São autónomas e sabem agir dentro de campo. Sabem quais as melhores decisões nos lances, nos comportamentos, na forma de agir e reagir perante a grande maioria das situações. E decidem quase sempre sozinhos, mas de acordo com o alinhamento do trabalho desenvolvido antes e durante treinos, semanas, meses e épocas com o seu treinador.
A ausência de Jorge Jesus no banco do Benfica em jogos teoricamente mais acessíveis nunca poderia ser considerada uma desvantagem. Uma equipa que deverá estar alinhada e totalmente focada para um só objetivo. Jogadores que o acompanham desde da sua primeira época no clube. Desde da 2ª época. Não poderá existir dúvidas relativamente ao que fazer. Mas haverá sobre o porquê de fazer? Como? E motivação? Jorge Jesus tem e deve ter muitos méritos. Mas isso não pode ser razão para manter-se com os louros antigos, mas sim, os presentes.
Jorge Jesus encontra-se no ponto oposto de Leonardo Jardim. Conseguirá ainda acrescentar algo? A forma como a Liga está pode cair para qualquer uma das três. E faltando ainda 18 jornadas, um inverno e considerando que Porto e Benfica estarão com jogos – pelo menos – em Fevereiro na Europa, a Liga até poderá cair para os encarnados, mas Jorge Jesus tarda em demonstrar que ainda pode ser útil.
Amanhã e na 4ª feira existirão mais uns capítulos interessantes para a durabilidade de Jorge Jesus e Paulo Fonseca nas respetivas equipas. É esperar para ver.
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