O Grande Prémio de Abu Dhabi marcou a última dança de Lewis Hamilton ao volante de um Mercedes. Ao fim de 12 anos e seis títulos mundiais, o britânico disse adeus à equipa com a qual mais ganhou em toda a sua carreira. Na próxima temporada irá realizar um sonho de criança ao vestir as cores da Ferrari.

A oficialização do piloto na marca do ‘cavallino rampante’ surgiu depois de muitos rumores e há quem diga que é o 'casamento perfeito', uma vez que une um heptacampeão mundial e uma escuderia que não vence um Campeonato do Mundo de Fórmula 1 desde 2007.

Mesmo que tenha sido colocado um ponto final, a relação entre Hamilton e Mercedes continuará a ser lembrada como a parceira mais bem sucedida na história da categoria rainha do automobilismo. Em 12 anos, os 'flechas de prata' venceram oito campeonatos mundiais e o britânico seis, conquistando 120 Grande Prémios no total.

Aos 39 anos, Sir Lewis Hamilton já ocupa um lugar ao lado dos melhores e exclusivo dos imortais da Fórmula 1. Igualou Michael Schumacher com a conquista do sétimo campeonato, mas é o piloto que mais venceu pela mesma escuderia em toda a história da categoria. Foi campeão seis vezes pela Mercedes, enquanto Schumacher conquistou cinco títulos pela Ferrari entre 2000 e 2004.

Mas não é o único recorde de Lewis, dado que coleciona feitos atrás de feitos. É o líder em vitórias na história da modalidade somando 105, 84 nos 'flechas de prata' e 21 com a McLaren. Para além disso, é o recordista de pole positions com a mesma equipa, tendo largado 78 vezes na primeira posição, mais 20 do que Michael Schumacher. Hamilton também detém o maior número de voltas rápidas, angariando 55 contra 53 do piloto alemão.

Relativamente ao número de pódios conquistados, o britânico conta com 153 em 12 anos de Mercedes, ao passo que Schumacher esteve por 112 vezes nos três primeiros lugares. Lewis também reúne o maior número de vitórias pela mesma construtora, na medida em que conta com 84 triunfos. O recorde estava, outra vez, nas mão do alemão que garantiu 72 pela histórica de Maranello.

O ano de 2025 será mesmo o primeiro em que o heptacampeão vai pilotar na Fórmula 1 um carro sem motor Mercedes, já que a McLaren - onde teve os restantes sucessos - contava na altura com propulsores da marca alemã.

Apesar dos últimos tempos mais intempestivos, próprios de uma má temporada, Toto Wolff, CEO da Mercedes, abordou a despedida de Hamilton e realçou a importância do piloto.

"Há um legado que transcende a Fórmula 1, com um impacto duradouro fora das pistas. Um legado que promoveu a diversidade e inclusão. O Lewis foi o catalisador de grande parte desse desenvolvimento, e temos orgulho em ter trabalhado ao lado dele. Esse trabalho não vai terminar com a saída dele, mas começou graças à sua dedicação", começou por dizer.

"Vamos celebrar tudo o que conquistamos juntos. A parceria do Lewis com a Mercedes começou há vinte e seis anos. Honraremos a nossa história em Abu Dhabi. Embora esta etapa da nossa relação esteja a terminar, o Hamilton vai sempre fazer parte da nossa família", terminou Toto Wolff.

Para o britânico, esta temporada foi um autêntico pesadelo e destruidora no que à motivação diz respeito. A frustação corrida após corrida era evidente, principalmente porque Hamilton demonstrou ter dificuldades em ritmo de qualificação e foi, em larga escala, superado pelo colega de equipa. No entanto, em ritmo de corrida conseguia estar mais forte do que George Russell, mas muitas vezes não era o suficiente para chegar aos lugares mais altos.

A caminho do último teste da época, Hamilton ocupa o sétimo lugar, com 211 pontos, a 24 pontos de Russell. Estes resultados ficam muito aquém da qualidade do piloto, que continua a demonstrar uma grande capacidade técnica em cada corrida. A par dos maus resultados pessoais, a Mercedes já não é como outrora e está no quarto lugar do mundial de construtores, atrás da Red Bull, Ferrari e McLaren.

No entanto, a história com a Mercedes vai ficar para trás e o britânico vai começar uma nova etapa com a equipa mais mítica, a única que participou em todos os campeonatos de Fórmula 1 já realizados: Ferrari.

Depois de ter visto a Red Bull dominar e a Mercedes perder a hegemonia, Lewis Hamilton deseja que a escuderia italiana volte a impulsioná-lo para o topo da categoria. Para isso, precisa de ter um carro competitivo e que o permita estar de igual para igual com os outros carros, algo que não tem acontecido nos últimos anos com a equipa alemã. A par disso, irá precisar de recuperar a vontade, motivação e confiança para regressar aos seus tempos áureos.

Ao seu lado, estará Charles Leclerc, com quem aparenta ter uma excelente relação, que estará pela primeira vez ao lado de um piloto com a dimensão de Sir Lewis Hamilton. Será curioso perceber de que forma é que a Ferrari irá lidar com os dois pilotos, na medida em que, até então, o monegasco foi a prioridade dos italianos. Irá a Ferrari adotar o heptacampeão como piloto principal ou manter-se neutra quanto a esse aspeto?

Outra das mudanças para o piloto inglês está relacionada com a mudança de equipa, nomeadamente do seu engenheiro, Peter Bonnington. Depois de vários anos juntos, 'Bono' não irá acompanhá-lo para a nova equipa e essa será uma grande transformação na carreira do piloto. Além do mais, a Ferrari vai precisar de ser mais firma nas estratégias escolhidas nas corridas, uma vez que continuam a ser cometidos erros estratégicos e falhas dos mecânicos que comprometem os resultados dos pilotos.

No fundo, Lewis Hamilton vai enfrentar uma nova etapa em 2025 e nada é previsível quanto ao futuro do piloto ou se a parceria vai resultar. São várias as dúvidas que surgem, nomeadamente se Ferrari estará de volta aos grandes palcos e títulos, superando os rivais relativamente à qualidade do monolugar?

Ainda assim, é certo que a junção da mítica equipa de Fórmula 1 com um dos melhores pilotos de sempre só dá motivos aos amantes da modalidade para que fiquem entusiasmados com a possibilidade de uma nova era vitoriosa.