Os pilotos que participam na 56.ª edição do Rali de Portugal devem “controlar as emoções” para não 'borrar a pintura' e evitar acidentes no salto da pedra sentada, em Fafe, na derradeira especial da prova.
Quem o diz é Miguel Correia (Skoda Fábia), piloto português que já fez o troço por diversas vezes, mas em provas do Campeonato de Portugal de Ralis e que, no domingo, vai ali passar em estreia numa prova do Mundial.
“O arrepio vai ser outro, a moldura humana é enorme, a coisa vai ser mais empolgante. Vou tentar controlar as emoções, fazer as coisas com juizinho, porque, depois do salto, termina logo ali a classificativa. Vamos tentar gerir as emoções”, prometeu, em declarações à agência Lusa.
Considerado um dos saltos “mais complicados do campeonato” por diversos pilotos, esta parte final do troço de Fafe, que também serve de 'power stage' (que distribui 15 pontos pelos cinco mais rápidos), já estragou a corrida a vários deles.
Que o diga o português Nuno Pinto (Citroën C3), que se deixou entusiasmar na primeira vez que ali passou, em 2004, numa prova do Nacional.
“Tenho más recordações, porque em 2004 saltei demais e parti a caixa. Foi no Nacional de ralis. Temos de ter cuidado na primeira [passagem] e saltar mais alto no segundo”, disse à agência Lusa.
Miguel Correia frisa que “o salto é mesmo muito grande”: “Se formos com velocidade a mais, podemos cair de bico e estragar a frente do carro, os radiadores. Temos de saltar um bocadinho mais devagar, mas com o acelerador a fundo para o carro se manter estável”, explica, adiantando que prefere reduzir “uma mudança” antes de chegar ao local.
“Por norma, reduzo uma velocidade uns metros antes, na travagem, e depois é velocidade a fundo”, sublinhou.
Quem também não guarda boas recordações do momento é o britânico Gus Greensmith (Skoda Fábia), que, em 2019, se entusiasmou e destruiu o Ford Fiesta WRC que tripulava na altura.
“Salto de Fafe? Tive lá um acidente lixado aqui há uns anos”, recorda o britânico, que, ainda assim, considera que é “um dos melhores saltos do ano”.
“Não é fácil, mas é sempre um momento especial”, diz o piloto, que agora participa na categoria WRC2, com um Skoda Fábia Rally 2. “[Por causa do público] queres fazer um salto grande, mas num carro de rali a sério, não nestes [WRC2]”, riu-se.
O finlandês Esapekka Lappi (Hyundai i20) também não guarda grandes recordações da passagem por um dos míticos troços do campeonato do mundo.
“Fiz um salto no primeiro ano, em 2017, mas não o quero repetir. Foi espetacular, mas a aterragem foi muito forte”, conta.
Ainda assim, lá vai adiantando que “é preciso travar muito forte antes”.
“Se formos quatro kms/h mais rápidos do que devemos, corre mal. É difícil prever onde aterrar. O melhor é ir mais devagar, até porque há muitos espetadores. Em 2017, como havia muita gente, quis dar espetáculo, mas não correu bem”, sublinha.
Lappi, que está habituado aos muitos saltos nas pistas finlandesas, garante que este é mesmo especial.
“Este é um salto maior, e tem uma curva logo a seguir. Na Finlândia, também temos muitos saltos, mas não vamos tão alto, saltamos mais longe, mas não tão alto”, aponta.
O japonês Takamoto Katsuta (Toyota Yaris), já com pouco a ganhar em termos de classificação, admite que a pressão por somar pontos na 'power stage' pode condicionar na hora de dar espetáculo.
“Não podemos ir de prego a fundo. Se formos a fundo, aterramos na zona dos espetadores. Há muitos saltos diferentes no campeonato. Mas neste, se alguém saltar muito, vai despistar-se, de certeza. Parece um salto simples, mas não é fácil de fazer. O melhor é pelo centro da pista”, adverte.
Menos preocupado está o finlandês Kalle Rovanperä (Toyota Yaris). O campeão mundial venceu ali no ano passado, garantindo a vitória no Rali de Portugal.
“É um salto giro. É incrível com todos os fãs presentes. A abordagem depende da necessidade que temos de forçar ou não o andamento, mas é sempre bom saltar para os fãs”, concluiu.
Mais experiente é Armindo Araújo (Skoda Fábia), que já vai na 18.ª participação no Rali de Portugal e já disputou por várias vezes aquele troço em provas nacionais.
“É um salto que deve ser tomado de forma conservadora, que é estranho de se fazer, o carro tem um comportamento estranho. Tem tendência a ‘embicar’ à frente e não aterrar direito”, frisa.
Araújo lembra que “já ali aconteceram muitos acidentes e acabaram muitas corridas”. Por isso, decide, “por norma, nunca arriscar em demasia”.
No domingo, os pilotos fazem uma primeira passagem pela especial de Fafe, com 11,18 quilómetros, a partir das 08:35 horas.
A segunda e derradeira passagem começa a partir das 12:15.
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