A autobiografia de Li Na, a única tenista asiática a ganhar um torneio do Grand Slam e símbolo de rebeldia entre a juventude chinesa, vai ser adaptada ao cinema pelo realizador e produtor Peter Chan.
"Li Na é um ícone", realçou Peter Chan a uma revista norte-americana da especialidade, afirmando: "Tudo aquilo por que ela se bateu é muito atípico do comportamento convencional chinês e, ao mesmo tempo, típico das pessoas nascidas na década de 1980".
O filme, em que a própria Li Na trabalhará como "consultora", começará a ser rodado no outono e a estreia deverá ocorrer em 2016, adiantou o produtor.
Uma equipa da produtora "We Pictures" esteve a promover o projeto durante a ultima edição do Festival de Internacional de Cannes, de 13 a 24 de maio passado, estimando-se que os custos de produção do filme se situem entre 15 e 20 milhões de dólares.
Peter Chan, 52 anos, nascido em Hong Kong e formado em Los Angeles, nos Estados Unidos, já realizou e produziu cerca de 30 filmes.
É um dos mais populares realizadores chineses entre o público de Hong Kong e da China continental e um admirador de Li Na.
"Ela quebrou regras e desafiou convenções e, contra todas as probabilidades, tornou-se uma lenda", disse Peter Chan, acerca da heroína do seu próximo filme.
Segunda a imprensa local, já se sabe que o filme será rodado em chinês e em inglês, mas o realizador ainda não decidiu se recorrerá a atores profissionais ou a jogadoras de ténis para desempenhar o papel de Li Na.
A avaliar pelos entusiásticos comentários difundidos nas redes sociais, esse será uma das maiores dificuldades do projeto.
"Ninguém poderá substituir Li Na", garantiu um admirador.
O filme é uma adaptação do livro "Li Na: A minha vida", publicado em 2014, o ano em que a tenista chinesa alcançou o 2.º lugar do ranking mundial, outra proeza inédita para uma atleta asiática, depois das sua vitórias em Roland Garros e Austrália, em 2011 e 2014, respetivamente.
Li Na, nascida em 1982 em Wuhan, uma cidade industrial banhada pelo rio Yangtze, no centro da China, retirou-se das competições em setembro passado e quatro meses mais tarde anunciou que estava grávida.
Em 2013, a revista Time incluía-a entre as "100 personalidades mais influentes do mundo", ao lado do presidente XI Jinping; do arquiteto Wang Shu, o primeiro chinês galardoado com o Pritzker Prize, (o Nobel da Arquitetura); a Primeira Dama chinesa, Peng Liyuan, e o patrão da multinacional Huawei, Ren Zhengfei.
"Li Na é uma rebelde. Quem mais conseguiria erguer-se contra o centralizado sistema desportivo, como Li Na fez em 2008, quando reclamou mais controlo sobre a sua própria carreira", salientou então a antiga campeã Chris Evert.
Num país em que coletivismo, o espírito de "servir o povo" e o socialismo são considerados "os princípios básicos da educação", a postura "individualista" de Li Na deu rapidamente nas vistas.
"Nos manuais da escola primária, ensinam-nos a 'servir o povo' e a 'amar o país'. Mas só na universidade aprendemos que não se deve cuspir para o chão", conta a tenista na sua autobiografia.
Aquela observação não é a única suscetível de ofender os líderes mais conservadores do Partido Comunista Chinês.
"Não quero que um filho meu passe pelo sistema de educação chinês. É muito difícil ser criança na China. Há demasiadas pessoas com quem competir e os recursos são limitados", escreveu Li Na.
"Porque é que os estrangeiros são mais confiantes que os chineses? Porque podem crescer à sua maneira", afirma também a tenista.
Uma das máximas de Li Na, que a atleta aprendeu com um dos seus treinadores, reivindica precisamente essa liberdade: "Precisamos de ter a oportunidade de cometer erros"
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