O ténis português lamentou hoje a ‘reforma’ do “referente” Roger Federer, com Gastão Elias a qualificar o suíço como “o melhor da história” e João Sousa a apontá-lo como uma inspiração na sua carreira.
“Ninguém estava à espera dessa notícia, eu acho. É aquele tipo de notícia que ninguém quer ouvir”, começou por dizer João Sousa, no final do treino de Portugal no Pavilhão Multiusos de Viana do Castelo, onde entre sexta-feira e sábado a seleção nacional defrontar o Brasil, na Taça Davis.
A carreira de Federer em 30 imagens
O número um nacional reconheceu, contudo, que a ‘reforma’ de Federer era algo expectável, uma vez que, “com 41 anos e com algumas lesões que o têm mantido fora do campo”, chegou o momento do suíço “respeitar o corpo e entender o que ele está a pedir”.
“Enviei-lhe mensagem, ele respondeu-me que foi uma decisão difícil, mas que estava contente. Por isso, fico feliz por ele. É um referente do ténis mundial para toda a gente. Muitas pessoas jogam ténis por causa dele. E foi uma inspiração para muitos miúdos. Vai ficar, e fica, na história do desporto como um dos melhores, se não o melhor da história”, evidenciou.
Também para Sousa, Federer, que hoje anunciou que se vai retirar do ténis após a Laver Cup, agendada para a próxima semana, foi uma inspiração, com o vimaranense de 33 anos a ‘viajar’ no tempo para recordar os seus encontros com o antigo número um mundial – em ‘court’, foram dois, em Halle2014 e no Masters 1.000 de Roma, em 2019, sempre com vitória do ‘dono’ de 20 títulos do ‘Grand Slam’.
“Quando era pequeno via-o jogar e lembro-me que a primeira vez que joguei com ele em Halle foi quase um sonho tornado realidade. Foi uma inspiração para muita gente, para mim também. Há muita gente triste por ver o Federer fora do campo”, notou.
Sousa revela que o suíço “sempre que chega a um sítio tem uma aura, uma maneira de estar diferente”.
“As pessoas notam isso e respeitam isso. Comigo foi sempre 10 estrelas. Tivemos conversas agradáveis, ele gosta de futebol, gosta de Portugal e sempre falámos muito. É verdade que o admiro imenso, como muita gente”, pontuou.
Ao contrário do número um nacional, que não viveu nenhuma história particular com o recordista de títulos de Wimbledon – tem oito -, Gastão Elias era ainda um ‘miúdo’ quando conheceu aquele que define como “o melhor da história”.
“Foi inacreditável a experiência que eu tive. Foi um bocado estranho, foi a primeira vez que o vi ao vivo quando eu fui para o Mónaco [treinar com Federer] duas semanas. Foi muito marcante ter [contacto com] uma figura daquelas, que só vias na televisão e basicamente é o auge do desporto que tu praticas… tive a oportunidade de partilhar duas semanas de experiências com ele, dentro e fora do campo”, revelou.
Naquelas duas semanas de “2006 ou 2007” – a memória do tenista da Lourinhã não o deixa precisar com exatidão o ano -, aquilo que mais marcou Elias foi a simplicidade do então número um mundial.
“Lembro-me que houve um dia que me convidou a mim e ao meu treinador na época, o Luís Miguel, para almoçar na suíte dele. Estava só ele e a Mirka [a mulher de Federer] […]. Nunca tinha visto um quarto tão grande no hotel - só tinha 15 anos -, mas eles só tinham três cadeiras. Então, obrigou-nos a sentar eu, o meu treinador, a Mirka e ele comeu assim meio de pé, meio sentado no chão. Foi marcante porque, por momentos, fez-nos sentir como colegas”, lembrou.
Para o português de 31 anos, “vai ser difícil voltar a encontrar no ténis” alguém como Federer: “Tinha uma facilidade incrível. Tem ‘n’ bolas que só ele consegue fazer, jogadas que as pessoas nem imaginam que existem no nosso desporto. Ele, de vez em quando, aparecia com umas coisas novas que ninguém nunca tinha visto. A simplicidade, a humildade e, junto a isso, todos os títulos que ele teve, para mim fazem com que ele seja o melhor da história”.
Já Rui Machado, o ‘capitão’ português da Taça Davis, prefere não entrar na discussão sobre se Federer é ou não o melhor de sempre, mas sim focar-se na marca que vai deixar na modalidade.
“Tem um jogo que, muitas pessoas, consideram que roça a perfeição, muito fluído, com muita naturalidade. É um jogador que sempre se soube comportar muito bem, sempre soube estar na maioria dos momentos face ao público. […] Para quem está dentro do ténis, é um exemplo”, defendeu, estimando que Federer deu “credibilidade, nível” à modalidade e “chamou bons valores”.
O selecionador português recordou ainda “o jogo especial” que teve com ‘King Roger’ na Taça Davis, em 2011, numa Berna vestida a rigor com as cores da equipa da casa, num pavilhão com 8.500 pessoas.
“Para mim, foi mais especial, porque eu queria provar a mim mesmo que podia jogar em grandes palcos. […] Saltei para o campo, com vontade de competir bem, de mostrar que podia competir bem mesmo com muita gente. Acho que correu bem. Obviamente que ele ganhou em quatro ‘sets’, porque na verdade era superior, tinha mais ténis do que eu, não vale a pena esconder”, disse, mostrando-se orgulhoso por ter conseguido “incomodar” Federer, que venceu com os parciais de 5-7, 6-3, 6-4 e 6-2.
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