Estamos a meio da década de 1980. A Fórmula 1 vive uma das suas épocas douradas. Em 1984, do pelotão fazem parte nomes como Nelson Piquet, Keke Rosberg, Niki Lauda (que se tornaria tricampeão nesse ano) ou Alain Prost (já na sua quinta temporada na categoria máxima). Mas um promissor 'rookie' a quem há muito se adivinhava uma grande carreira, depois de dar nas vistas, por exemplo, na Fórmula 3, iria subir ao palco: Ayrton Senna. Não tardaria muito até que o brasileiro vivesse com Prost uma das maiores rivalidades não só da história da Fórmula 1 ou dos desportos motorizados, mas da história do desporto mundial.

De um lado, a segurança, o calculismo, a experiência e o conhecimento do francês, que ficou conhecido como 'o Professor'. Do outro, a irreverência, a acutilância e a habilidade de Senna, que ficaria conhecido como 'o Mago'. Os dois viriam a travar duelos inesquecíveis e lendários. A trocar acusações e a envolver-se em incidentes dentro da pista enquanto lutavam, taco a taco, pelo título mundial de pilotos. E a caminhar, depois, para uma amizade que parecia estar a formar-se, travada pela morte trágica de Senna, em 1994.

Ayrton Senna, 'O Mago'

Ayrton Senna da Silva nasceu em São Paulo, a 21 de março de 1960. Iniciou a carreira nos karts, em 1973. Em 1983 deu definitivamente nas vistas ao conquistar o título no Campeonato Britânico de Fórmula 3, batendo vários recordes pelo meio. A reputação aí adquirida levou-o à Fórmula 1, com a estreia na categoria rainha do automobilismo mundial a acontecer no Grande Prémio do Brasil de 1984 ao volante da Toleman-Hart, equipa da segunda metade do pelotão.

Ainda assim, nessa sua primeira temporada, Senna acabaria por pontuar em cinco corridas (entre elas no Grande Prémio do Mónaco, numa espécie de primeiro ato da rivalidade com Prost, que nasceria poucos anos mais tarde). Terminou essa época no 9.º lugar da classificação geral do Mundial de pilotos, com resultados que lhe abriram as portas da Lotus, onde na temporada seguinte se estrearia a vencer, num Grande Prémio de Portugal corrido debaixo de muita chuva. Brilhar em corridas 'à chuva' acabaria tornar-se mesmo numa das imagens de marca do piloto brasileiro.

Em 1988 seguiu para a McLaren-Honda, onde estava, então, Alain Prost. E foi aí que a rivalidade - e inimizade - entre os dois cresceu. Senna acabaria por conquistar o seu primeiro título mundial logo nessa temporada de estreia na escuderia britânica, mas na temporada seguinte o título foi erguido pelo rival francês (que já antes tinha levantado o ceptro por duas vezes).

Senna permaneceu na McLaren até ao final de 1993 e aí viria a conquistar os seus dois outros títulos de campeão do mundo de Fórmula 1, em 1990 e 1991. Vice-campeão em 1993, ao volante de um McLaren 'a perder gás' e bem inferior aos Williams-Renault da altura, Senna transferiu-se no ano seguinte precisamente para a Williams. E seria ao volante de um Williams que viria a falecer, tragicamente, num fatídico acidente na Curva Tamburello, no circuito de Ímola, em San Marino.

‘O Mago’ vs ‘O Professor’: Senna contra Prost, a maior rivalidade da história da Fórmula 1?
Ayrton Senna pronto para mais um dia de testes no seu McLaren, em 1989, com o seu icónico capacete (Photo by AFP) créditos: AFP or licensors

Quando as estatísticas não dizem tudo

O percurso de Ayrton Senna nos desportos motorizados começou de forma curiosa. Na sua primeira corrida, nos Karts, com nove anos, teve pela frente adversários bem mais velhos e experientes. A ordem da grelha de partida foi determinada de forma aleatória e ditou que Senna sairia na frente (a sua primeira de muitas 'poles'). Mas o seu pai pensou que era uma loucura: "Um miúdo principiante a partir na frente? Os outros vão atropelá-lo". E tentou convencer o filho a partir mais de trás na grelha. Senna não se deixou convencer e segurou o primeiro lugar durante grande parte da corrida, até ser empurrado para fora da pista por um piloto mais experiente.

Também famosas são as histórias de Senna a treinar à chuva. Depois de um péssimo desempenho numa corrida em pista molhada, Senna decidiu começar a treinar nessas condições. Com tal determinação que mal começava a chover, corria para a pista de Karts. Uma dedicação que, depois, o iria compensar na Fórmula 1, com inúmeras exibições épicas em pista molhada que deslumbraram os fãs da modalidade.

Tudo isso contribuiu para o estilo de piloto em que Senna acabou por se tornar. Uma velocidade incomparável, técnica refinada, concentração quase sobre-humana. Características que fizeram do brasileiro o 'mago' das voltas lançadas. Senna terminaria a carreira com 65 pole positions e muitas voltas inesquecíveis, perfeitas. Como a que fez em Donnington Park , em 1993, no GP da Europa, considerada quase unanimemente como a melhor volta da história da Fórmula 1.

Mesmo com um McLaren que, com um motor Ford, estava longe de ser tão bom como o Williams Renault daquela altura, Senna brilhou. A pista, claro, estava molhada. Partiu do quarto lugar, atrás de Prost, Damon Hill e Michael Schumacher. No arranque, o seu carro patinou e caiu para quinto. De imediato recuperou o quarto lugar, depois ultrapassou Schumacher e subiu a terceiro, de seguida Hill e, ainda na primeira volta, passou Prost, assumindo a liderança da corrida.

Um entre muitos momentos míticos de Senna, como aquele em que ganhou pela primeira vez um GP do Brasil, que teimava em fugir-lhe. Foi em 1991, numa corrida em que teve sérios problemas com a caixa de velocidades, perdendo várias mudanças e acabando apenas com a sexta. Mesmo assim, conseguiu 'disfarçar' o problema. Terminou na frente, mas completamente de rastos, quase sem se conseguir segurar em pé e quase sem forças nos braços para erguer o troféu no pódio.

Os 'números' de Senna, talvez por culpa da sua morte prematura, aos 34 anos, não lhe farão verdadeira justiça. Não é o piloto com mais títulos, nunca foi o piloto com mais vitórias e até o seu recorde de pole positions, que se julgava inultrapassável, acabou por ser superado, primeiro por Schumacher (com quem estava também a começar a viver uma rivalidade algo agreste) e, depois, largamente, por Lewis Hamilton. Mas os números não dizem tudo. A forma de correr, o carisma que demonstrava, as legiões de fãs que ainda hoje, 27 anos depois da sua morte, o veneram, e o que ofereceu à Fórmula 1 numa das épocas mais douradas da modalidade fazem com que muitos o apontem como o melhor piloto de sempre.

Alain Prost, 'O Professor'

Alain Marie Pascal Prost nasceu a 24 de fevereiro de 1955 e acabou por se tornar quatro vezes campeão do mundo de Fórmula 1. Entre 1987 e 2001 ostentou o recorde do maior número de vitórias em Grandes Prémios.

Tal como Senna, Prost também começou nos Karts, mas numa idade já mais avançada. Tinha 14 anos. Sagrou-se, depois, campeão francês e europeu de Fórmula 3, antes de se estrear na Fórmula 1 ao volante de um McLaren, em 1980, com 24 anos. Ficou nos pontos na sua corrida de estreia e a primeira vitória surgiu um ano depois, em França, ao volante de um Renault.

Em 1985, de regresso ao volante de um McLaren, garantiu o seu primeiro título mundial de pilotos de F1, numa altura em que Senna corria pela Lotus, e no ano seguinte superou os Williams-Honda de Nigel Mansell e Nelson Piquet na corrida ao título, sagrando-se bicampeão.

O terceiro título chegaria já com Senna como colega de equipa - e maior rival. Foi em 1989, no meio de muita polémica. Épocas menos conseguidas, na Ferrari, em 1990 e 1991 levaram a que optasse por um ano sabático em 1992, antes de voltar, novamente entre alguma polémica, em 1993, num praticamente imbatível Williams-Renault, para o seu quarto título mundial (uma vez mais, com Senna como rival mais próximo). Pendurou, em definitivo, o o capacete nesse ano, como campeão do mundo em título. Viria, mais tarde, a assumir o controlo da equipa Ligier, que depois de tornaria Prost Grand Prix, mas sem grande sucesso.

‘O Mago’ vs ‘O Professor’: Senna contra Prost, a maior rivalidade da história da Fórmula 1?
Alain Prost festeja com a bandeira de França depois de confirmar, no GP de Portugal, a conquista do título de campeão do mundo de 1993. (Photo by JEAN-LOUP GAUTREAU / AFP)

Um mestre da estratégia e da ponderação

Prost tinha um estilo de condução suave e tranquilo atrás do volante. A alcunha de "O Professor" deriva da forma mais pensada como abordava as corridas. Chegaria, mais tarde, a reconhecer que não gostava muito da alcunha, mas que esta era apropriada para resumir a sua forma de correr. Um mestre a afinar o seu carro para as condições de corrida, Prost conseguia conservar travões e pneus como ninguém no início das corridas para, depois, poder atacar os adversários no fim.

José Miguel Barros, um dos mais conceituados jornalistas portugueses ligados aos desportos motorizados, recorda uma corrida em que esse aspeto foi evidente. "O Prost era um piloto muito cerebral, calculista no bom sentido. Dava o que precisava de dar e não se importava de ficar um pouco para trás, porque sabia que depois ia tirar partido dessa situação. Certa vez, ganhou um GP de Portugal [1987] batendo o Berger nas últimas voltas porque foi conservando os pneus para os ter em melhores condições no final e ultrapassar o Ferrari do austríaco sem dificuldades", recorda.

Prost podia não ser o mais rápido dos pilotos, mas foi sem dúvida um grande campeão. Frio, analítico, inteligente e impenetrável às emoções. Meticuloso na afinação do carro, complementava tudo isso com o seu talento em pista e com uma aceleração precisa, mas nunca excessiva, colocando a mente à frente do coração.

Para Bernie Ecclestone, ex-piloto e antigo líder máximo da F1, Prost foi mesmo o melhor piloto de Fórmula 1 de todos os tempos. "O Michael Schumacher tinha muitas vantagens do seu lado: uma equipa forte e colegas de equipa que colaboravam com ele. Prost, pelo contrário, nunca desfrutou desses privilégios. Teve sempre colegas de equipa competitivos, como Senna. Por isso, mesmo sendo difícil eleger o melhor, opto por Prost", sentenciou.

A rivalidade: Dois 'galos' (bem diferentes) para um poleiro

Senna Vs Prost
Créditos: SAPO Desporto

Quando Senna entrou, então, para a Fórmula 1, Prost já lá levava quatro temporadas completas e somava nove vitórias em 60 grandes prémios disputados, mas ainda não tinha alcançado nenhum dos seus quatro títulos mundiais. Logo nessa primeira época, de 1984, teríamos um prelúdio daquilo a que iríamos assistir anos mais tarde.

Num Grande Prémio do Mónaco (que tão especial se iria tornar para Senna, que aí lograria seis vitórias, cinco delas seguidas) corrido debaixo de muita chuva, Prost liderava no seu McLaren. Mas Senna vinha a ganhar posições no seu Toleman até chegar ao segundo lugar e estava a recuperar tempo para o francês, mas o diretor da corrida acabou por dar a mesma por concluída antes do seu fim, por não existirem condições de segurança, ainda antes da junção dos dois pilotos.

Nesse ano de 1984, Prost terminaria o Mundial no 2.º lugar, atrás do colega Niki Lauda. Senna foi 9.º. No ano seguinte, Prost continuou na McLaren e Senna rumou à Lotus. O francês sagrou-se pela primeira vez campeão do mundo de Fórmula 1 (com cinco vitórias em GPs) e Senna alcançaria as suas primeiras vitórias, em Portugal e na Bélgica, terminando o Campeonato no 4.º lugar.

"Senna tem um primeiro ano difícil, numa equipa da segunda metade do pelotão, como era a Toleman, mas ele puxou-a para cima e no final da época andava a trazê-la para os lugares pontuáveis, que eram só seis, na altura", recorda em conversa com o SAPO Desporto o jornalista José Miguel Barros, que teve oportunidade de seguir 'in loco' inúmeros capítulos desta rivalidade, quer para a RTP, quer para escrever para o ‘Autosport’ ou o ‘Volante’, marcando presença em muitos Grandes Prémios do final da década de 1980 e ao longo da década de 1990.

Em 1986, o mesmo desfecho: Prost novamente campeão, Senna novamente 4.º, desta feita com quatro vitórias para o francês e duas para o brasileiro. E, em 1987, o título escapou aos dois, ainda nas mesmas equipas. Apenas Senna ganhou uma corrida, terminando no 3.º lugar do Campeonato, com Prost a ser 4.º. O campeão foi Piquet.

No ano seguinte, tudo iria mudar...

Duelo de titãs na McLaren e as primeiras discussões

O ano de 1988 começa com a mudança de Senna para a McLaren ('levando' consigo os motores Honda que equipavam os Lotus) para fazer dupla com Prost. Os dois dominaram por completo a temporada. Com o melhor carro do pelotão e com as suas qualidades, não deram hipóteses aos restantes, vencendo entre eles 15 das 16 corridas do campeonato.

O título iria ficar decidido no Japão (curiosamente, um circuito onde Prost e Senna viveriam, nos anos seguintes, os capítulos mais duros da sua rivalidade). Nesse ano, porém, não houve polémica. Apenas um grande espetáculo, com Senna, que precisava de ganhar para garantir o título, a vencer depois de falhar o arranque, fazendo uma recuperação fantástica e acabando por ultrapassar Prost. O brasileiro garantia o seu primeiro título, à frente do francês. Mas a relação começava a deteriorar-se, com os dois a começarem a acusar a equipa de beneficiar um em detrimento do outro. Prost baseava-se na ligação que Senna já trazia com a Honda.

E 1989 traria o escalar definitivo dos atritos e da rivalidade. A primeira polémica ocorreu em Imola. Com o domínio da McLaren a manter-se, e de forma a evitar qualquer acidente entre os dois, Prost e Senna acordaram que quem desse a primeira curva na frente não seria atacado pelo outro e ficaria com a vitória. Senna partiu na frente e deu essa primeira curva na frente. Só que um aparatoso acidente de Gerard Beguer interrompeu a corrida e deu-se novo arranque. Aí, Prost partiu melhor e ultrapassou Senna, passando a primeira curva da pista na frente. O brasileiro, porém, considerou que como tinha sido ele a ficar primeiro na frente tinha direito a ser ele a liderar. Atacou o colega e ultrapassou-o, para estupefação deste, acabando por vencer a corrida.

Depois, no final dessa época, veio o incidente que tornou esta rivalidade num fenómeno mundial. No GP do Japão o clima entre os dois estava já longe de ser o melhor e Prost tinha avisado que não iria "abrir a porta a Senna" para o deixar passar, acusando-o de efetuar de manobras demasiado perigosas. Então, com Prost na liderança a sete voltas do fim, Senna, que precisava de ganhar para seguir na luta pelo título, tentou ultrapassar o rival na chicane antes da meta. Como tinha dito que faria, Prost fechou o espaço já com Senna a seu lado e os dois acabaram por bater. O francês saiu do carro, enquanto Senna (empurrado pelos comissários de pista) voltou à corrida e ainda conseguiu recuperar o primeiro lugar. Porém, acabou desclassificado por ter sido empurrado na altura do acidente.

‘O Mago’ vs ‘O Professor’: Senna contra Prost, a maior rivalidade da história da Fórmula 1?
Ayrton Senna é empurrado pelos comissários de pista enquanto Alain Prost abandona o veículo depois de os dois pilotos da McLaren chocarem no decisivo GP do Japão de 1989. AFP PHOTO TOSHIFUMI KITAMURA (Photo by Toshifumi KITAMURA / AFP) créditos: 2004 AFP

O brasileiro considerou-se injustiçado e chegou mesmo a ameaçar abandonar a Fórmula 1, mas acabou por reconsiderar. "Recuso-me a desistir de lutar. A minha natureza é ir até ao fim e é o que vou fazer", explicou.  Talvez porque Prost, que assim se tinha sagrado campeão do mundo pela terceira vez, deixou a McLaren e rumou à Ferrari.  "Para ser honesto, fico feliz por sair, porque se tornou completamente impossível trabalhar com o Ayrton", sublinhou o francês.

Mas não foi o facto de estarem agora em equipas diferentes que reduziu os atritos entre os dois. Em 1990, novamente no Japão, um ano depois daquele que é visto como um dos momentos mais controversos da história da F1, iria ocorrer mais outro. Desta vez, era Prost que tinha de ganhar para não deixar o título escapar.

Senna conquistou a pole position e Prost era 2.º da grelha, mas Ayrton criticou o facto de o lado da 'pole' ser o lado sujo da pista. Prost partiu melhor e colocou o seu Ferrari na frente. Senna tentou responder, procurando a ultrapassagem por uma nesga de espaço ainda na primeira volta e o choque foi inevitável, deixando os dois fora da corrida. O brasileiro garantia, assim, o seu segundo título, mas o incidente deu que falar. "Para se ser piloto de corridas há que arriscar. Se vemos um espaço, temos de o tentar aproveitar, porque se não o fizermos deixamos de ser pilotos. Estamos a competir para ganhar e a maior motivação para todos nós é competir pela vitória", afirmou na altura Senna, quando questionado sobre a manobra.

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Ayrton Senna e Alain Prost abandonam a pista depois de voltarem a chocar no GP do Japão, agora em 1990. (Photo by TOSHIFUMI KITAMURA / AFP)

Os duelos entre os dois esfriaram em 1991, com o Ferrari de Prost abaixo das expetativas e Senna, no seu McLaren Honda, a revalidar o título, igualando os três títulos mundiais do rival gaulês. Ainda assim, houve novo incidente, com Prost a sair de pista numa tentativa de ultrapassagem a Senna. O francês disse que a culpa tinha sido do rival e o brasileiro respondeu com duras críticas a Prost. "Ele está sempre a queixar-se. Seja o carro, os pneus ou a equipa, ou os mecânicos, ou os outros pilotos, ou o circuito. Nunca é culpa dele", apontou.

Em 1992 Prost resolveu tirar um ano sabático, mas Senna não conseguiu levar a melhor sobre Nigel Mansell, que conduzia um Williams-Renault bem mais potente (e 'abençoado' pela recém-criada suspensão-ativa).

Foi para conduzir esse Williams-Renault que Prost voltou ao 'grande circo' em 1993. Um regresso muito criticado por Senna, que chegou a chamar o francês de cobarde por não deixar que os dois fossem colegas na Williams nessa temporada. "É inadmissível que alguém assine um contrato com uma equipa e vete que eu ou o Mansell estejamos também nessa equipa. Se Prost quer ser o melhor de sempre, se quer conquistar quatro títulos, que o faça com maior desportivismo. Assim, está a comportar-se como um cobarde", acusou.

Uma amizade a nascer no adeus de Prost, encurtada pela fatídica Curva Tamburello

Prost acabaria mesmo por conquistar esse Campeonato de 1993, pela Williams, com Senna a ficar em 2.º, mas a mais de 20 pontos de distância. No final da temporada, Prost anunciava que se ia retirar em definitivo. Chegava ao fim uma era na qual ele e Senna dominaram por completo a modalidade, totalizando 76 vitórias entre os dois entre 1985 e 1993 e sete títulos mundiais em nove possíveis.

No último Grande Prémio da temporada (e último da carreira de Prost), ganho por Senna e com o francês a ficar em segundo, o brasileiro estendeu a mão ao rival e convidou-o a subir consigo ao lugar mais alto do pódio. Um gesto bonito, que marcaria o início da amizade entre os dois. Senna passou a telefonar regularmente a Prost e os dois, revelou o francês, começaram a ter longas conversas.

Senna assumiu em 1994 o lugar de Prost na Williams, mas acabaria por falecer no terceiro Grande Prémio da temporada, em ímola. Prost revelou que conversou com Senna ao almoço, antes da fatídica corrida (que já tinha custado a vida a Roland Ratzenberger na véspera), com o brasileiro a expressar-lhe as suas dúvidas quanto à segurança do circuito.

"Nessa altura eles já se davam bem. E Prost acaba por ter, depois, palavras muito elogiosas para o Senna. Ninguém melhor do que o Prost podia avaliar o valor do Senna. Ele sabia qual era o envolvimento, o carro que os dois tinham, o quanto era difícil ganhar-lhe. Percebeu-se, aí, que era uma rivalidade que tinha que ver sobretudo com a pista, entre dois espíritos fortes. E, quando deixou de acontecer na pista, as coisas resultaram numa certa amizade, que estavam a construir aquando da morte de Senna. Creio que se o Senna não tivesse morrido prematuramente, os dois seriam hoje bastante amigos", afirma José Miguel Barros.

Na opinião do jornalista, não terá havido rivalidade igual, a este nível, na F1, e dificilmente voltará a haver.

"O equilíbrio era muito grande. E é muito difícil que haja dois pilotos do nível do Senna e do Prost, tão semelhantes em termos de qualidade, na mesma equipa. Um ficou com três títulos porque não teve tempo para conquistar mais, outro ficou com quatro mas podia ter ficado com cinco ou seis", afirma.

Na memória de quem acompanhou o funeral de Senna (que em Portugal teve honras de transmissão em direto pela SIC) ficam as imagens de Alain Prost a transportar o caixão do brasileiro. Prost chegou mesmo a afirmar que "uma parte de si mesmo também tinha morrido", dada a ligação da carreira de ambos. Senna sentia também essa ligação. Depois de Prost se retirar, admitiu que sentia falta da motivação de discutir uma corrida com o seu rival de sempre e, poucos dias antes de morrer, já em Ímola, numa entrevista para a televisão francesa TF1, saudou Prost e disse: "Um olá especial para o meu...para o nosso querido amigo Alain. Temos saudades tuas".

‘O Mago’ vs ‘O Professor’: Senna contra Prost, a maior rivalidade da história da Fórmula 1?
Prost transporta o caixão de Ayrton Senna juntamente com Emerson Fittipaldi, Christian Fittipaldi Gerhard Berger e Jackie Stewart. (Photo by JULIO PEREIRA / AFP)

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