O Presidente da Federação Portuguesa de Canoagem (FPC), Vítor Félix, acredita num bom desempenho dos canoístas portugueses nos próximos Jogos Olímpicos de Paris.

O dirigente sublinha que os grandes resultados alcançados nas últimas competições colocam Portugal com a possibilidade de lutar por medalhar olímpicas, mas sublinha que é preciso ainda ultrapassar as eliminatórias antes de pensar no pódio.

"Quando se fala da participação da canoagem nos Jogos Olímpicos falamos sempre de uma enorme expetativa, quer por parte do público, quer da parte dos próprios atletas, equipa técnica e federação. Se recuarmos um pouco no tempo, vemos que, nos últimos ciclos olímpicos, a canoagem tem sempre estado em posições de medalha. Em Londres conquistamos a prata com o Fernando Pimenta e o Emanuel Silva, no Rio de Janeiro fomos 4º, 5º e 6º, em Tóquio 2020 conquistamos o bronze com o Fernando. Por isso, quando falamos da nossa participação em Olimpíadas, a nossa fasquia está sempre muito elevada. Vamos para Paris com uma enorme ‘mochila’ de responsabilidade, baseada no facto de termos sido campeões do mundo em K1 1000 e no K2 500 No entanto é preciso ainda percorrer um longo caminho até chegarmos às medalhas; chegando até às finais, não nego, estamos entre os barcos e atletas medalháveis", afirmou Vítor Félix.

A canoagem portuguesa apresenta em Paris um contingente menor em comparação com os Jogos de Tóquio. Contudo, Vítor Félix desvaloriza a menor quantidade de atletas, e prefere apontar à qualidade dos canoístas que estarão presentes nas Olimpíadas gaulesas.

"Neste Jogos falhamos os apuramentos do K4 masculino e feminino, logo aí vemos reduzida a nossa participação. Para além disso, no slalom, também tínhamos tido participação no Rio e em Tóquio, e este ano não tivemos essa oportunidade. No Rio de Janeiro levamos a maior comitiva de sempre com oito atletas e não trouxemos medalhas. Desta vez levamos menos atletas, mas os atletas que levamos estão em posições de pódio; não me importo de levar menos atletas e sair de lá com uma ou duas medalhas. Quando falamos dos Jogos Olímpicos, o maior evento multidesportivo à escala mundial, e tendo em conta que Portugal tem tão poucas medalhas em jogos olímpicos, não me importo de levar menos atletas, mas ter mais qualidade e vir de lá com medalhas", sublinhou o dirigente.

Olhando para um panorama mais amplo do desenvolvimento de atletas com potencial olímpico, Vítor Félix aponta a pecha muito importante nesse processo, e que, segundo o próprio, contribui de sobremaneira para que vários jovens atletas abandonem o desporto.

"Falta o apoio a nível intermédio; quem chega à elite e ao projeto de preparação olímpica tem todas as condições para a sua preparação. Na base existem os clubes a operar, apoiados pelas Câmaras Municipais, que continuam a ser a célula-base do desenvolvimento desportivo do nosso país. Mas falta apoio naquele salto que o atleta dá de júnior para sub-23 ou para a elite. Essa passagem é muito difícil, e por vezes não se consegue atingir um resultado que permita acesso a bolsas, o que leva ao abandono precoce desses talentos. Apesar das tentativas por parte do COP, que tem o projeto de esperanças olímpicas no qual nós também estamos incluídos, acho que fazia falta, por parte do IPDJ, ou neste caso da nova secretaria geral do desporto, fazer apoiar estes atletas, para que não abandonem precocemente o desporto, algo que é transversal a todas as modalidades", defende Vítor Félix.

Outros dos aspetos que contribuiu para esta situação é aquilo que Vítor Félix classifica de "monocultura desportiva", onde o futebol concentra grande a esmagadora maioria da atenção social, mediática e política. Contudo, o Presidente da Federação Portuguesa de Canoagem espera que esta conjuntura sofra alterações com a recente mudança governativa do país.

"Temos uma monocultura desportiva muito centralizada numa só modalidade, quer através da cultura desportiva do nosso país, muito focada no futebol , nos clubes portugueses e na seleção nacional, quer através dos nossos órgãos de governação e da comunicação social, sempre muito focados nessa modalidade, e não colocam as restantes naquilo que é a sua agenda política, dando-lhes a atenção que merecem. É com enorme expetativa que aguardamos por esta nova agenda política que surge com este novo Secretário de Estado", disse o líder da FPC

"Volto a afirmar, o Fernando Pimenta é, para mim, o melhor atleta português de sempre. No ano passado o Fernando foi campeão do mundo em K1 1000 metros, é medalha de bronze em K1 500 metros, na semana seguinte é campeão do mundo de maratona. Passou da prova de 500m, competição de minuto e meio, para uma prova de maratona de duas horas e dez. Não conheço nenhum atleta que, em tão curto espaço de tempo, conquiste três título mundiais num espaço de dez dias, e que tenha as medalhas que ele tem.
Estes talentos não nascem todos os anos. É claro que existem outras jovens promessas que são campeões da europa e do mundo, mas 'Fernandos Pimentas' não nascem todos os anos. Por serem campeões do mundo, não quer dizer que estes jovens possam estar em condições de lutar por medalhas em Jogos futuros. Há todo um caminho para fazer, mas acredito que a canoagem vai produzir esses talentos."

Vítor Félix, a cumprir o seu último mandato como presidente da Federação Portuguesa de Canoagem, faz um balanço positivo do seu percurso de vinte anos na federação, e não esconde o seu desejo de terminar o seu mandato com a consagração de um campeão olímpico português de canoagem.

"É um balanço muito positivo. A nível de resultados desportivos fomos claramente a modalidade que mais resultados desportivos de excelência trouxe para o nosso país. Fomos a única modalidade, a par do atletismo, que conquistou medalhas olímpicas e paralímpicas em Tóquio. Tivemos um crescimento muito acentuado relativamente ao número de praticantes, fomos das únicas modalidades que conseguiu crescer durante e após a pandemia. Por isso é com enorme orgulho que termino este ciclo de quatro anos juntamente com a minha equipa. E esperamos terminar da melhor maneira com a coroação dos nossos atletas em Paris, não só nos Jogos Olímpicos como também nos Paralímpicos. O Fernando merece ser campeão olímpico, o João, o Messias e a Teresa Portela também o merecem por todo o seu percurso. Desde que cheguei à presidência da federação que tenho o sonho de poder juntar um canoísta aos cinco campeões olímpicos portugueses", concluiu.