Lee Tae Hwan é otimista. "Em 10 anos, as duas Coreias estarão unidas", afirma, na fila de entrada do estádio de hóquei no gelo dos Jogos de Pyeongchang, onde a equipa unificada das duas Coreias mediu forças com a Suíça.

Ironicamente, o hóquei no gelo, considerado um dos desportos mais violentos do mundo, tornou-se nestes Jogos Olímpicos de Inverno no maior elemento de concórdia, de união, entre as duas Coreias, apesar de estarem em guerra.

"É um evento histórico. As duas Coreias devem estar juntas. A Coreia é uma só. É uma nação antiga. Este momento é importante para a nossa história futura", comentou Lee Tae Hwan, funcionário da autarquia de Seul.

A presença do presidente sul-coreano, Moon Jae-in, e de Kim Yo Jong, irmã do líder norte-coreano, Kim Jong Un, que assistiram juntos à partida na tribuna VIP do pavilhão, para animar e apoiar a equipa unificada, parecia confirmar as palavras do funcionário de Seul.

Cheerleaders da Coreia do Norte nos Jogos Olímpicos de Inverno
Presidente sul-coreano, Moon Jae-in, e Kim Yo Jong, irmã do líder norte-coreano, Kim Jong Un, ao lado de Thomas Bach, presidente do COI créditos: AFP

A irmã do líder norte-coreano aplaudiu as jogadas da equipa unificada e, com os seus gestos, mostrava grande interesse pelo jogo.

No final, os dois dirigentes foram até a pista para dar os parabéns e saudar as jogadoras.

A opinião de Lee Tae Hwan era apoiada pela maioria das pessoas nas imediações do Kwandong Hockey Centre.

Choi Sung Woong, auxiliar de escritório e com seu filho de sete anos ao lado, compartilhava o entusiasmo de Lee Tae Hwan.

"Esta jogo é algo fantástico. Somos uma raça. Este momento é o início de algo importante. Espero", assinalou.

Chong Choi, 40 anos, também se mostrou esperançoso de que esta equipa feminina unificada de hóquei no gelo seja um momento importante.

"É uma boa oportunidade para conversarmos, compreendermo-nos e comunicarmos", declarou.

"Mas não sei se uma unificação pode acontecer já", indica, com pessimismo. "Devemos estar juntos, isso está claro, mas o governo da Coreia do Norte muda muito o seu comportamento", frisou.

Uma unificação que não agrada a todos

Lisa Joung e Chelsea Byun, duas jovens sul-coreanas de 20 anos, tem opinião contrária. Não seguram as bandeiras da unificação, como a maioria dos presentes no histórico jogo.

"Não acreditamos que as duas Coreias se vão unir um dia, e não queremos que isso aconteça", afirmou Lisa, com concordância da Chelsea.

"Se vocês [jornalistas] perguntarem, a maioria dos jovens responderá o mesmo", continuou Chelsea.

Equipa unificada das duas Coreias sofre mais um golo frente a Suíça
Equipa unificada das duas Coreias sofre mais um golo frente a Suíça créditos: AFP

Lisa e Chelsea compraram os bilhetes para a partida antes de saberem que seria uma equipa unificada das duas Coreias a entrar no ringue para defrontar a Suíça.

"A Coreia do Sul está a progredir economicamente e a unificação iria travar esse progresso. Seria muito difícil mudar tantas coisas na Coreia do Norte", explica Chelsea.

A equipa feminina unificada de hóquei no gelo é uma das decisões simbólicas dos dois países vizinhos para estes Jogos Olímpicos, a par da decisão de desfilarem juntas na cerimónia de abertura.

A última vez que as duas Coreias competiram como uma só equipa foi em 1991, no Mundial de Ténis de Mesa, disputado em Chiba (Japão).

As 80 animadoras norte-coreanas enviadas pelo governo de Pyongyang para os Jogos, vestidas de vermelho e localizadas na sua maioria atrás dos bancos de suplentes, balançavam as bandeiras da equipe unificada gritando "Vamos!".

As bancadas do ringue não estavam cheias e eram vistos muitos espaços vazios, num pavilhão com capacidade para seis mil pessoas.

No final, a equipa das duas Coreias perdeu por 8-0 frente a Suíça, mas o resultado não era o mais importante.