Olga Kharlan falou pela primeira vez, depois de ter sido desqualificada da prova de sabre do Mundial de esgrima na quinta-feira, por se recusar a cumprimentar a russa Anna Smirnova no final de um combate.
A ucraniana, tetracampeã do mundo de sabre, bateu a russa por 15-7 mas recusou cumprimentar a adversária. O gesto valeu-lhe a desqualificação, já que as regras da esgrima preveem que os atiradores se cumprimentem no final do combate: a russa, que compete enquanto "atleta individual neutra", ficou vários minutos na pista, como forma de protesto perante a conduta da adversária.
Este foi o primeiro confronto entre atletas ucranianos e russos em qualquer modalidade desde a invasão da Ucrânia, à exceção do ténis. Até março deste ano, a esgrima era presidida internacionalmente pelo oligarca russo Alisher Usmanov.
Veja o vídeo
Nas redes sociais, Olga Kharlan reagiu à decisão e mostrou-se agradada com o apoio que tem vindo a receber pelo gesto em Milão, palco dos mundiais de esgrima.
"Como todos neste mundo, num mundo adequado, entendo que as regras devem mudar, porque o mundo está mudado. O que aconteceu levanta muitas perguntas, mas também dá muitas respostas. Compreendemos que o país que está a aterrorizar o nosso pais, as nossas famílias, também está a aterrorizar o desporto", começou por se justificar, num vídeo que partilhou na rede social Instagram.
Olga Kharlan já tinha reagido com "deceção, raiva e sentimento de injustiça" quando em março a federação internacional de esgrima autorizou que atletas russos e bielorrussos a competir em provas internacionais, sob bandeira neutra.
A ucraniana, tetracampeã do mundo de sabre, disse ainda que agiu "com o coração" e que o seu gesto foi fortemente apoiado.
"É impossível transmitir o que sinto quando ouço que com a minha ação estou a motivar outros. Obrigado a cada combatente que nos protege. Não se pode forçar ninguém a estabelecer a paz, principalmente os ucranianos. Não com um aperto de mãos. Nunca", escreveu ainda.
Ainda no mesmo vídeo, Olga Kharlan revelou que ficou devastada com a decisão de a excluir da prova: "Quando soube que queriam retirar-me da competição, dar-me um cartão preto, isso matou-me. Doeu-me tanto que gritei de dor."
Após a desqualificação da atleta, a federação ucraniana reagiu logo e apresentou à federação internacional o seu “protesto” e pedindo a revogação da decisão.
"Enviámos o nosso protesto para a Federação Internacional de Esgrima. Esperamos a consideração imediata deste protesto, para que esta desqualificação seja cancelada", disse o presidente da federação ucraniana, Mykhailo Illiachev.
Este combate só foi possível porque o decreto do Ministério do Desporto que proibia a participação de desportistas de delegações oficiais ucranianas em competições que envolvessem russos e bielorrussos foi alterado na quarta-feira e passou a abranger apenas “atletas que representem” aqueles dois países.
Esse facto mereceu também uma observação por parte do COI, que saudou esta mudança de posição do governo ucraniano, que assim aceita embates frente a desportistas que participem sob uma bandeira neutra.
Esta decisão de Kiev "permitirá que (os ucranianos) se qualifiquem para as Olimpíadas de Paris em 2024", saudou o COI.
A invasão russa, iniciada em 24 de fevereiro de 2022 – justificada pelo presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de desnazificar e desmilitarizar a Ucrânia, para segurança da Rússia –, foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
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