Considerado por muitos como um dos maiores escândalos da história do desporto, o ataque a Nancy Kerrigan aconteceu no início de 1994. A América parou para ver o sofrimento nos olhos da patinadora, em imagens que rapidamente chegaram às televisões nacionais e se tornaram virais, num tempo em que a internet ainda dava os primeiros passos.

A grande concorrente de Nancy Kerrigan, Tonya Harding, foi rapidamente associada ao ataque. As duas representavam dois polos opostos da patinagem artística: Tonya Harding era a rebelde, que não se esforçava por cumprir as regras que o desporto exigia, enquanto Nancy Kerrigan era a atleta perfeita, esforçada e merecedora de participação nas mais altas competições.

Não foi preciso muito para que Tonya Harding se tornasse na vilã desta história, à medida que Nancy Kerrigan ganhava ainda mais carinho entre o público norte-americano e entre os amantes da patinagem artística.

O SAPO Desporto volta atrás no tempo, até à década de 90 do século passado, e conta-lhe a história que mudou para sempre a vida de Tonya, de Nancy e do desporto em si.

Tonya Harding

Nascida a 12 de novembro de 1970, em Portland, Oregon, nos Estados Unidos da América, Tonya Harding é filha de LaVona Golden e Al Harding. Criada no seio de uma família problemática, Tonya começou a praticar patinagem artística com apenas três anos.

O pai de Tonya abandonou a família quando ela era ainda criança e deixou-a com LaVona, que tornou os maus tratos uma rotina para a jovem patinadora.

"Ela [mãe] dizia que eu era gorda e feia, arrastava-me para fora da pista e batia-me com uma escova de cabelo, com um cabide, à frente de toda a gente. Houve uma altura em que a minha treinadora lhe disse 'se voltares a tocar nela, vamos denunciar-te’. Eu gostava de ter tido uma vida mais estável", admitiu Tonya Harding, em 2009, numa entrevista a Oprah Winfrey.

Depois dos abusos da mãe e de desistir da escola para se dedicar completamente à sua carreira, Tonya Harding casou aos 20 anos com Jeff Gillooly, que daria continuidade aos maus tratos e que viria a ser elemento fundamental no ataque a Nancy Kerrigan.

Nancy Kerrigan

Nascida a 13 de outubro de 1969, em Stoneham, Massachusetts, nos Estados Unidos da América, Nancy Kerrigan é filha de Brenda e Dan Kerrigan.

Sendo a mais nova de três filhos, todos rapazes, Nancy Kerrigan acompanhava os irmãos ao ringue onde estes jogavam hóquei no gelo. Não foi preciso muito para que evoluísse para a patinagem artística e aos seis anos já praticava.

Um dos treinadores alertou os pais de Nancy para o talento que a filha demonstrava e estes decidiram investir na carreira da jovem.

O pai de Nancy tinha vários trabalhos para suportar os custos elevados da patinagem artística, que foram bem sucedidos visto que a jovem venceu a sua primeira competição com apenas nove anos.

Ao contrário de Tonya, Nancy tinha uma imagem que conquistava os júris das várias competições por onde passava e, na altura, era vista como a patinadora preferida da América, por apresentar todos os requisitos exigidos por este desporto.

Nancy não tinha dificuldades em conseguir patrocinadores porque o país inteiro queria ser representado além fronteiras pela imagem que esta passava quando entrava no ringue. Algo que não acontecia com a rival.

O ataque

O ano de 1991 foi de grande destaque para Tonya Harding. Foi nesse ano que a jovem se tornou na primeira norte-americana e na segunda mulher no mundo a conseguir fazer um salto Axel triplo - considerado o salto com maior dificuldade técnica na patinagem artística no gelo, que consiste em saltar de frente, dando impulso com a parte externa do patim, para depois fazer três rotações e meia no ar, num giro de 1260º.

Além do incrível feito, Tonya Harding superou Nancy Kerrigan no Campeonato Nacional de patinagem artística nos Estados Unidos, em fevereiro. No mês seguinte, Tonya ganhou uma medalha de prata no Campeonato do Mundo, na Alemanha, deixando Nancy Kerrigan no terceiro lugar.

Já em dezembro de 1993, Tonya Harding treinava para conseguir um lugar na equipa que participaria nos Jogos Olímpicos do ano seguinte. Tonya, que nunca foi consensual entre os júris das competições pela sua forma de estar e ser, via em Nancy Kerrigan uma rival na luta por um lugar na equipa olímpica. E foi aí que tudo começou.

Depois de Tonya Harding receber ameaças, o na altura já ex-marido Jeff Gillooly decidiu fazer o mesmo com a rival com o objetivo de a destabilizar a nível emocional.

No entanto, o que começou como um plano que envolvia apenas cartas com ameaças, rapidamente escalou para algo mais grave. Em dezembro desse ano, Jeff debateu o assunto com Shaw Eckardt, seu amigo e guarda-costas de Tonya, e juntos engendraram uma forma de tirar Nancy Kerrigan da competição.

Depois disso, Eckardt pagou a Derrick Smith e Shane Stant para agredirem Kerrigan, naquele que ficou conhecido como um dos maiores escândalos da história do desporto mundial.

A 6 de janeiro de 1994, nas vésperas do Campeonato Nacional, Derrick Smith e Shane Stant levaram a cabo o ataque. Nancy Kerrigan estava em Detroit, a treinar, e quando saiu do ringue foi atacada por Shane Stant, que lhe acertou no joelho direito com um bastão extensível.

As câmaras presentes no local registaram a reação da jovem patinadora que gritava 'porquê a mim? porquê agora?'. Os vídeos rapidamente chegaram à televisão nacional e encheram manchetes de jornais no dia seguinte.

O objetivo de Stant e Smith era partir os joelhos a Nancy para que ela ficasse de fora dos Jogos Olímpicos, mas tal não aconteceu. Kerrigan não partiu nenhum osso, ficando apenas com várias marcas do ataque.

Apesar de não ter conseguido competir no Campeonato Nacional - em que Tonya Harding foi a grande vencedora, o que lhe valeu o tão desejado lugar na equipa olímpica - Nancy Kerrigan recuperou a tempo de ir aos Jogos Olímpicos.

Fora do ringue, o FBI começou a investigar o ataque e rapidamente chegou a Shane Stant e Derrick Smith, que tinham sido mal sucedidos na tentativa de apagar o rasto no incidente.

Depois disso, Shawn Eckhardt começou a gabar-se pela cidade que tinha sido o 'cérebro' por trás do sucedido e rapidamente foi detido. Eckardt acabou por confessar o seu envolvimento, mas não sem antes incriminar Jeff Gillooly.

O discurso

Já a 27 de janeiro de 1994, o ex-marido de Tonya acabou por confessar também a sua participação, mas sempre reforçando que Harding também estava envolvida no plano.

Vista como a vilã da história, Tonya Harding viu-se obrigada a fazer uma declaração à imprensa, na qual negava o seu envolvimento no ataque:

"Gostaria de começar por dizer o quanto lamento aquilo que aconteceu com Nancy Kerrigan. Fico constrangida e envergonhada por pensar que alguém próximo a mim possa estar envolvido.

Fiquei desapontada por não ter a oportunidade de competir contra a Nancy nas competições nacionais. Tenho muito respeito pela Nancy. A minha vitória nos nacionais foi insatisfatória por não ter o desafio de patinar contra ela.

Eu não tinha conhecimento prévio do ataque contra Nancy Kerrigan. Sou responsável, no entanto, por não ter denunciado coisas que descobri sobre a agressão quando voltei para casa depois dos campeonatos nacionais.

Muitos de vocês serão incapazes de me perdoar por isso. Vai ser difícil perdoar-me.

Quando voltei para casa na segunda-feira, 10 de janeiro de 1994, estava exausta, mas ainda focada no campeonato nacional. Nos dias que se seguiram, soube que algumas pessoas próximas de mim podiam estar envolvidas no ataque. A minha primeira reação foi de descrença e essa descrença foi seguida por choque e medo. Desde então, relatei toda a informação às autoridades.

Embora os meus advogados me digam que a minha omissão não é um crime, sei que vos dececionei, também me dececionei a mim mesma.

Mas ainda quero representar o meu país em Lillehammer, na Noruega, no próximo mês. Apesar de todos os meus erros e de vários momentos difíceis, eu não fiz nada que violasse os padrões de excelência exigidos a um atleta olímpico. Nancy Kerrigan e eu podemos mostrar ao mundo dois tipos diferentes de patinação artística.

Estou ansiosa para fazer parte da equipa juntamente com ela. Dediquei a minha vida inteira a um objetivo: ganhar uma medalha de ouro olímpica para o meu país. Esta é a minha última oportunidade. Peço apenas a vossa compreensão e a oportunidade de representar o meu país com a melhor performance de patinação artística da minha vida."

O veredicto

Alguns dias depois, em troca de uma sentença mais leve, Gillooly testemunhou contra Harding e declarou-se culpado do crime de extorsão. Por essa altura, as autoridades encontraram no lixo um papel no qual Tonya tinha apontado o local e horário do treino de Kerrigan. Um especialista confirmou que a caligrafia coincidia com a de Tonya e a vida da patinadora complicou-se ainda mais.

O caso já se tinha tornado amplamente mediático nos Estados Unidos e no mundo inteiro, mas isso não impediu Tonya Harding de concretizar o sonho de participar nos Jogos Olímpicos, na Noruega.

Mas nem assim a participação seria facilitada. Já no ringue, Tonya dirigiu-se aos júris, colocou um pé na mesa e queixou-se de um atacador danificado que poderia prejudicá-la.

O júri permitiu que ela resolvesse a situação e voltasse ao gelo. No entanto, Tonya acabaria por ficar em 8º lugar, já Nancy Kerrigan conquistou uma medalha de prata, apenas atrás da ucraniana Oksana Baiul, de apenas 16 anos.

Nancy Kerrigan, a patinadora que foi agredida num dos maiores escândalos do desporto mundial
Oksana Baiul (ao centro), Nancy Kerrigan (à esquerda) e Chen Lu (à direita) no pódio dos Jogos Olímpicos de 1994, na Noruega. Kerrigan conquistam a medalha de prata. (Photo by ERIC FEFERBERG / AFP)
 

Já depois dos Jogos Olímpicos, a 16 de março, Tonya Harding declarou-se culpada de conspiração para impedir o julgamento dos agressores de Nancy Kerrigan.

A patinadora foi condenada a três anos de liberdade condicional e a pagar 100 mil dólares ao Estado (mais de 86 mil euros) e 50 mil (cerca de 43 mil) a um fundo para ajudar os 'Special Olympics'.

Para além disso, Tonya teve ainda de cumprir 500 horas de serviço comunitário. No entanto, o tormento não ficaria por aqui e meses depois Tonya viu-lhe ser retirado o título de campeã nacional e acabou banida para sempre de todas as competições da Federação de Patinagem Artística dos Estados Unidos.

Já Shawn Eckardt, o antigo guarda-costas de Tonya Harding foi condenado a 18 meses de prisão e Jeff Gilloly, ex-marido da patinadora, foi condenado a dois anos de prisão.

O tribunal deu como provado que a agressão a Nancy Kerrigan foi planeada por Jeff Gilloly, que foi condenado ainda ao pagamento de uma indemnização de 100 mil dólares (mais de 86 mil euros).

Os outros dois indivíduos alegadamente envolvidos na agressão, Shane Stant (que terá sido o presumível autor do golpe no joelho de Kerrigan que inviabilizou a sua participação nos campeonatos dos EUA) e Derek Smith (condutor da viatura em que os agressores fugiram posteriormente), foram igualmente condenados a 18 meses de prisão.

Uma vida depois do escândalo

Um ano depois do ataque, Nancy Kerrigan casou-se com o seu agente Jerry Solomon. Juntos tiveram três filhos. Depois de deixar a patinagem artística, Nancy escreveu dois livros sobre aquele desporto e dedicou-se à luta pelos direitos dos atletas com deficiências visuais e com distúrbios alimentares.

Poucas foram as vezes, ao longo de mais de 27 anos, que Nancy Kerrigan falou sobre o ataque de que foi vitima. Mas, em 2014, a antiga patinadora deu uma entrevista ao USA Today na qual admitiu que não gosta de se lembrar do sucedido.

"Na realidade eu não olho para trás, a menos que alguém me peça para o fazer, e aí eu volto no tempo até àquele momento. Caso contrário, porque razão é que faria isso? Eu fui atacada", disse, na altura.

Na sequência do ataque, Nancy Kerrigan tornou-se na heroína da América, mas a antiga atleta confessou que não queria nada disso.

"Não pedi para ser colocada num pedestal, como as pessoas me colocaram. Fui metida no centro das atenções e as pessoas olhavam para tudo o que eu fazia. Não pedi isso, nada disso", lamentou ainda.

Apesar de tudo, Kerrigan revelou que uma parte da história fê-la rir: os insólitos depoimentos dos homens envolvidos no ataque.

"Quando lemos as transcrições das 10 horas de depoimentos que eles deram, acabamos por rir. Foi engraçado às vezes. Eles vieram para Boston (para tentar o ataque lá) e esqueceram-se dos cartões de identidade e do dinheiro, por isso não conseguiram chegar a lugar nenhum. Eu ri-me em gratidão por eles não serem bons em ser maus como eles queriam ser. Tudo soa ridículo, o que faz qualquer pessoa rir", explicou.

Mas, se a vida de Nancy Kerrigan seguiu o caminho tradicional de uma família conservadora americana, Tonya Harding não quis deixar os holofotes assim tão facilmente.

Depois de ser banida da patinagem artística, Harding virou-se para as artes marciais. No início dos anos 2000, a antiga patinadora participou no programa "Celebrity Boxing" no qual enfrentou (e venceu) Paula Jones, conhecida por ter acusado Bill Clinton de assédio sexual.

Pouco depois, Harding tornou-se profissional sob o nome de "America's Bad Girl" (a rapariga má da América). Ao longo dessa curta carreira, a atleta disputou seis combates, venceu três e perdeu outros três. Harding acabaria por colocar um ponto final nesse percurso devido à asma.

Tonya Harding, a protagonista de um dos mais escândalos da história do desporto mundial
Tonya Harding na luta com Samantha Browning a 22 de fevereiro de 2003. (Photo by JEFF HAYNES / AFP)

Além disso, Tonya foi ainda comentadora de Reality Shows. Mais recentemente, a ex-atleta dedicou-se ao paisagismo, à construção civil e à pintura. Atualmente, Harding é dona de casa e dedica-se inteiramente ao seu filho.

Em 2014, pela altura em que passaram 20 anos do ataque, Harding falou também com o USA Today. "Foi há 20 anos e e há mesmo muita coisa da qual eu não me lembro. Sei que foi uma época horrível para todos os envolvidos. Foi uma sequência de acontecimentos maus, incluindo o mediatismo, mas fui capaz de superar isso. Acho que tanto a Nancy como eu temos uma vida boa agora", destacou.

No entanto e depois de mais de 20 anos a negar o seu envolvimento, em 2018, Tonya admitiu que suspeitava que algo fosse acontecer. Num documentário chamado "Truth and Lies: The Tonya Harding Story", transmitido pelo ABC, confessou que rapidamente percebeu que o então marido estava envolvido.

"Eu ouvi-os dizer qualquer coisa como ‘bem, talvez devêssemos tirar alguém do caminho para que possamos ter certeza de que ela entra na equipa'. E eu lembro-me de lhes dizer 'O que é que vocês estão para aí a falar? Eu sei patinar'".

"Isso foi um ou dois meses antes [do ataque]. Mas eles estavam a falar sobre patinagem e a dizer: 'Bem, talvez alguém deva ser eliminado para que então ela possa chegar lá", acrescentou.

"Isso surgiu na minha cabeça dois ou três dias depois de voltarmos da competição [que Gillooly e Eckardt estavam envolvidos]," revelou.

I, Tonya: o filme

Mais de vinte anos depois de um dos maiores escândalos da história do desporto, o ataque a Nancy Kerrigan virou um filme. Lançado em 2017, “I, Tonya” conta a história de vida de Tonya Harding até ao momento que acabou com a sua carreira.

Desde a infância difícil com a mãe LaVona, ao abandono do pai, passando mais tarde pela relação conturbada com Jeff, o filme passa a pente fino a vida da antiga patinadora.

Muito elogiado, o filme rendeu até um Globo de Ouro de melhor atriz secundária a Allison Janney, que interpretou a mãe de Tonya Harding.

Além disso, Margot Robbie, que interpreta a patinadora, foi indicada para o Óscar de melhor atriz. Depois do lançamento do filme, Margot Robbie admitiu que não tinha conhecimento da história.

"No início pensei que se tratava de uma história de ficção, mas, quando comecei a verificar os factos reais, o que mais me impressionou foi a bola de neve em que o escândalo se transformou e como as mulheres são retratadas na comunicação social, como são facilmente rotuladas", apontou a atriz, durante uma entrevista.

Margot Robbie destacou ainda que "não quis dar a visão de duas mulheres antagonistas que tanto agrada à comunicação social e aos roteiristas". "A história não fala dos vínculos entre Tonya e Nancy, que não eram próximas, mas sim da relação que Tonya tinha com as pessoas que mais influenciaram a sua vida, como a mãe e o marido", explica.

Um olhar profissional sobre o ataque

O SAPO Desporto falou com o psicólogo de desporto Jorge Silvério sobre o caso de Tonya Harding e Nancy Kerrigan, numa semana em que o mundo do desporto foi de novo abalado com a detenção de Aminata Diallo, por suspeita de ter organizado um ataque contra Kheira Hamraoui, sua colega de equipa e de posição no Paris Saint-Germain.

Na sua opinião, o que leva uma pessoa a agredir um adversário?

Jorge Silvério: Diria que é uma tentativa de querer ganhar a todo o custo, mesmo ultrapassando aquilo que são valores importantes do desporto e o papel que o desporto pode ter na sociedade em termos de transmissão desses mesmo valores, que ficam um pouco para trás quando não se respeitam o fair-play e o desportivismo. Acho que são valores fundamentais no desporto e que servem também para a sociedade, como o respeito pelo outro – o que implica logo que seja proibido esse tipo de comportamentos.

O que é que este tipo de atitude diz sobre o próprio atleta?

JS: É claramente um atleta que está fora daquilo que são os valores do desporto. O ideal seria que este tipo de atletas fosse impedido de continuar a sua carreira ou até mesmo de a começar, caso este tipo de comportamentos fossem detetados mais cedo. Este tipo de casos claramente mostra atletas que não respeitam aquilo que são os valores fundamentais do desporto e, como tal, devem estar fora dele.

Como se podem detetar estes casos?

JS: É preciso estar com atenção aos comportamentos dos atletas e punir severamente este tipo de atitudes. Não se deve erradicar ninguém ao primeiro comportamento, porque todos devemos ter direito a uma segunda oportunidade, mas caso estes comportamentos sejam repetidos, devemos impedir o atleta de continuar a sua carreira desportiva.

Nestes dois casos em específico, foram agressões premeditadas e não algo do momento, qual acha que é a diferença a nível psicológico?

JS: Em termos racionais, quando as coisas são premeditadas quer dizer que foram planeadas, por isso revela um investimento que é feito na preparação e mostra ainda aquilo que é a pessoa em questão, do ponto de vista de atos negativos para a sociedade e para o desporto.

Às vezes o problema está no controlo emocional e na própria pressão do desporto e dos resultados, que embora não sirvam de desculpa, mostram que alguns atletas têm mais dificuldade no controlo emocional, o que pode levar a uma agressão que não seja premeditada.

Quando as coisas são premeditadas, claramente são mais graves. Quando falamos do que deve ser feito nestas situações, deve pesar mais do ponto de vista negativo uma agressão que seja premeditada.

Os clubes e os atletas beneficiariam de um acompanhamento psicológico mais específico?

JS: Claro que sim. Nós sabemos e cada vez mais vemos notícias disso, do impacto que existe do ponto de vista psicológico o ser atleta. Hoje em dia falamos muito da saúde mental - até por várias declarações de atletas que assumiram ter passado fases complicadas - e é óbvio que deve haver intervenção de profissionais especializados na área da psicologia do desporto.

Esta intervenção faz todo o sentido uma vez que os fatores mentais são um pilar fundamental do rendimento desportivo. E, tal como os treinadores intervêm nas dimensões físicas, técnica e tática, deve haver um acompanhamento especializado desde muito cedo para que os atletas respeitem os valores desportivos e tenham o controlo emocional necessário.

Considera que um acompanhamento desde tenra idade poderia evitar este tipo de casos?

JS: Sim, claramente. Tudo aquilo que envolve o desporto, desde os comportamentos éticos ao fair-play, se for ensinado desde idades mais precoces vai agir como um fator de prevenção para este tipo de comportamentos mais graves.

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