O afegão Farid Walizadeh quer dar um “ouro” no boxe à equipa de refugiados nos Jogos Europeus, mas não poder contar com o seu treinador na Polónia tornou-se um obstáculo ao desejo do atleta acolhido em Portugal.
“Não levo o meu técnico (Paulo Seco), por isso as dificuldades vão ser muito grandes. Não sei o que vai acontecer. O boxe é um desporto em que estás muito ligado e 50% da tua força e vontade vem do teu treinador. E eu vim sem ele. Vou trabalhar com um que não conheço e nunca vi… e é assim que vou competir ao nível mais alto do boxe”, lamentou.
Em declarações à Lusa, o pugilista de 26 anos, que vai participar na categoria de -57 kg, assume que “em qualquer competição, seja qual for o nível, o pensamento é sempre o ouro”, contudo, esta limitação, segundo o atleta imposta pelo Comité Olímpico Internacional, fá-lo repensar tudo isso.
Ainda assim, viaja com expectativas de perceber como será vivenciar um evento multidesportivo no qual terá a oportunidade de “partilhar experiências” com atletas portugueses de diversas modalidades.
Farid trabalha diariamente para concretizar o sonho maior, que é o de participar nos Jogos Olímpicos, contudo valoriza igualmente tudo o que o seu exemplo de resiliência pode fazer pelos outros refugiados, “inspirando-os a lutar por objetivos” que vão além da resignação quotidiana quanto ao futuro.
“Hoje em dia há muitos refugiados, com bastantes receios e sem força de vontade na vida. Como são refugiados, esperam pela oportunidade sem existir forma de um dia voar. Pensam que só têm de ficar no chão e aceitar uma vida normal, em vez de lutar por uma vida melhor, carreiras grandes, escreverem a sua própria história. Inspirei-me com refugiados, espero ser o mesmo para outros”, desafiou.
Farid assume que se inspirou em outros casos de dificuldades semelhantes às suas: chegou sozinho a Portugal em 2011, trazido pelo ACNUR, depois de ter atravessado o Paquistão, Irão e Turquia, onde esteve preso e foi maltratado na prisão.
“Em criança, na Turquia, vi todo o tipo de gente. Podia ser ladrão, traficante de droga ou humano. O desporto salvou-me das pessoas erradas, más. Salvou-me de muito, até para passar os traumas e stresses do passado”, confessou, quando foi acolhido em Portugal.
Em 2017, a história tornou-se mais feliz com a chegada ao país da mãe, duas irmãs e três irmãos.
“Isso foi uma das coisas mais importantes para a minha estabilidade e integração. Sinto a família integrada em Portugal. Sentimo-nos bem, mais felizes. A parte económica é como todos os portugueses, mas tirando isso estamos bem. Temos paz. É um espetáculo. Sem palavras…”, contou.
Essa integração vai ao ponto de estar a frequentar o terceiro ano da faculdade de arquitetura, além de ter tirado o curso de treinador de boxe.
“Na vida vamos cair várias vezes. Estou pronto para cair e levantar. Já sei o que é cair. Então levantar também não vai ser muito difícil, porque já tenho muita experiência nisso”, concluiu.
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