Um cenário “desolador” e “quebras de receita de 60%” é, segundo o presidente da Federação Portuguesa de Golfe, o atual estado do golfe nacional, a contas com “um ano negro”, face à pandemia provocada pela covid-19.
“Estão a ser momentos muito difíceis para todos os clubes e campos de Portugal, que estão perante cenários de grande incerteza, mas com a garantia de que este será um ano negro para as suas operações”, comenta Miguel Franco de Sousa, em declarações à agência Lusa.
Depois de “uma quebra, em março, na ordem dos 60%, face ao ano anterior”, o dirigente prevê que, em abril e maio, “os campos vão ter receita zero”, numa altura em que “estão a assegurar as condições mínimas de manutenção, por forma a não deixar degradar os campos, ao ponto de se tornar incomportável a sua recuperação”.
“O custo médio de manutenção de um campo de 18 buracos ronda os 750 mil euros, mas no Algarve, por exemplo, esse custo ultrapassa um milhão de euros. Houve recurso ao ‘lay-off’ na esmagadora maioria das instalações, no entanto, foram assegurados os trabalhos mínimos pelas equipas de manutenção”, garante.
Além de assegurar que “esta situação não é suportável por muito mais tempo, até porque as receitas dos campos irão sofrer quebras muito significativas, mesmo retomando a atividade no curto prazo”, Franco de Sousa lembra não ser “expectável que haja uma retoma dos mercados estrangeiros tão rapidamente”.
“O impacto vai variar em função da forma como se vai viajar neste período de recuperação. Mas as estimativas apontam para quebras nas receitas entre os 45% e os 65% em 2020, relativamente a 2019, isto se se retomar a atividade em junho. Estamos a falar em perdas de cerca de 90 milhões de euros, se se verificar o pior cenário. E isto terá um impacto devastador nas operações dos campos de golfe. Desolador”, frisa.
Atendendo às dificuldades de uma indústria, que tem um “impacto direto na economia de cerca de mil milhões de euros” e gera à volta de 16 mil postos de trabalho, o líder federativo apela à retoma da modalidade o mais rapidamente possível.
“Logo que as medidas [do estado de emergência] sejam suavizadas, é fundamental permitir que o golfe reabra portas, sobretudo considerando ser uma modalidade praticada ao ar livre, não exigir contacto entre os praticantes e o contacto com colaboradores do campo e equipamento poder ser reduzido ao máximo”, explica.
Outra medida que, segundo o presidente da FPG, poderia contribuir para minimizar os danos da indústria seria analisar a possibilidade de redução do IVA que, em 2012, passou dos seis para os 23%.
“O aumento do IVA retirou capacidade de investimento aos operadores dos campos, comprometendo os níveis de serviço e qualidade das instalações e retirando competitividade a Portugal, enquanto destino de golfe. Uma medida totalmente desajustada para um setor da economia e do turismo com um peso tão significativo”, justifica, alertando para a “importância de o Governo atentar ao facto de ser melhor o golfe ter um IVA mais baixo e maior geração de riqueza ou vice-versa”.
Já depois de ter lançado uma medida de apoio aos clubes, permitindo o adiamento do pagamento das quotas dos praticantes inscritos pelos clubes como colaboradores para “aliviar as pressões de tesouraria”, a FPG enviou uma carta ao Governo “com um conjunto de preocupações” e está a elaborar “um plano de recuperação do golfe”, juntamente com o Conselho Nacional da Indústria do Golfe, a Associação Portuguesa de Gestores de Golfe e a Associação Portuguesa de Greenkeepers.
Contrariamente ao cenário económico atual, Miguel Franco de Sousa elogia, por sua vez, o panorama desportivo amador português e enaltece a atribuição do regime de alto rendimento a Pedro Lencart, Pedro Cruz da Silva e Daniel da Costa Rodrigues, numa altura em que a competição está suspensa.
Comentários