A decisão da cavaleira Luciana Diniz de deixar de representar Portugal em Paris2024 para voltar a fazê-lo pelo Brasil foi acolhida com “surpresa” pelo Comité Olímpico de Portugal (COP), que exige a devolução das verbas de preparação entretanto pagas.
“Os contratos-programa com os atletas são perfeitamente claros. A desistência da participação em representação de Portugal obriga à reposição das verbas, desde que aconteça por vontade própria. É completamente claro, tem de haver reposição do que foi recebido. Não há volta a dar a isso. Não podemos perdoar. Se não forem eles a repor, terá de ser o COP e isso não me parece muito razoável ou sensato”, frisou, à Lusa, o presidente José Manuel Constantino.
Em causa, segundo o dirigente, estão “à volta dos 13.000 euros”, divididos entre apoios à atleta, ao seu treinador e à Federação Equestre Portuguesa, “que recebeu dinheiro para a sua preparação”.
“Todas têm de ser repostas. As da federação é relativamente simples, fazemos um acerto de contas, abatendo às transferências da preparação olímpica. Quanto ao treinador e atleta, tem de haver vontade deles em repor. Senão criamos uma situação muito complicada, pois temos de justificar perante a administração pública a utilização da verba”, completou, acrescentando que “não está fácil” garantir essa devolução.
Depois de ter competido pelo Brasil nos saltos de obstáculos em Atenas2004, Luciana Diniz fê-lo por Portugal em Londres2012 (17.ª classificada), Rio2016 (nona) e Tóquio2020 (10.ª), tendo agora anunciado a resolução de voltar a vestir as cores da ‘canarinha’.
José Manuel Constantino assumiu que não contava com esta atitude de Luciana Diniz, garantindo que nunca houve qualquer problema na relação entre a entidade e a cavaleira.
“Foi uma surpresa. Não estava à espera. Quando fomos confrontados com a decisão, ficamos surpreendidos. Perguntámos se havia alguma razão de ordem funcional ou queixa relativamente a Portugal, disse-nos que não. Que era uma opção que tinha a ver com a vontade de terminar a carreira representando o país com que iniciou a sua participação olímpica. Em relação à federação não acrescentou muito mais do que isto”, esclareceu.
Ainda a lidar com o espanto, José Manuel Constantino questiona-se se esta não será uma “situação inédita”, nomeadamente um desportista “participar nos Jogos Olímpicos por um país, depois por outro e agora regressar ao país de origem”.
O presidente do COP só encontra como explicação o facto de Luciana Diniz ser em si “um caso muito especial, uma pessoa sob o ponto de vista comportamental com procedimentos muito distintivos em relação ao que são as características dos restantes atletas de alto rendimento”.
“A própria relação com os cavalos e éguas revela essas características muito especiais, de natureza muito mística. Há um traço comportamental que é próprio (…) que ajuda a explicar esta instabilidade de representação internacional. O que posso dizer? É simpática, muito agradável, sempre nos tratou bem, reconhece que sempre a tratamos bem. Está triste por ter tido de tomar esta decisão. Entendeu que esta era a situação mais adequada, terminando a carreira representando o país com o qual a iniciou”, concluiu.
A Lusa tentou um depoimento da atleta e uma reação da Federação Equestre de Portugal, mas sem sucesso.
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