O padel tem tido um sucesso estrondoso em Portugal nos últimos anos e o número crescente de praticantes é exemplo disso. Embora seja uma modalidade que só começou na década de 1970, na Argentina, está a tornar-se agora um fenómeno de popularidade e Ana Catarina Nogueira é a jogadora portuguesa que mais contribuiu para que o padel se desenvolva no nosso país.
Atualmente com 45 anos, a atleta brilhou durante muito tempo ao mais alto nível internacional e foi responsável por ajudar a "criar" jogadoras de elite mundial quando estavam no início de carreira, como Paula Josemaría ou Sofia Araújo. A última grande conquista aconteceu em 2019, quando venceu o WPT Master de Madrid.
Mas vamos começar do princípio. Ana Catarina Nogueira nasceu a 20 de setembro de 1978, no Porto, e teve o ténis como primeira paixão. Jogou durante 15 anos, até sentir que estava na hora de avançar e mudar de vida. Em vez de praticar, passou a ensinar e acumulava as aulas de ténis com a profissão de professora de Educação Física. Foi aí que surgiu o padel na sua vida.
"Convidaram-me para experimentar e começou como uma brincadeira. A primeira vez que joguei até foi num campo em que em vez de vidro era parede e gostei logo da modalidade. Comecei a entrar em torneios sociais e, mias tarde, em competições federadas porque sou competitiva desde que me lembro", começou por contar a atleta.
Daí até perceber que tinha ali uma oportunidade para voltar à competição foi muito rápido. Foi praticando e "quando se apercebeu" já era profissional e trocou as aulas de ténis pelas de padel, como forma de conseguir ter tempo para treinar e aperfeiçoar o talento natural que percebeu ter.
Além da falta de tempo, debateu-se com um dos problemas sentidos pelos atletas de modalidades amadoras, que é a baixa remuneração, o que dificulta muito a participação em torneios e a capacidade para fazer a preparação necessária para a exigência do desporto.
Quando abandonou o ténis, sentiu que nunca mais teria uma carreira competitiva ao nível que atingiu no padel e esta possibilidade devolveu-lhe um brilho que parecia perdido há algum tempo.
"Foi muito bom voltar a sentir o bichinho da competição. Nunca me passou pela cabeça que poderia voltar a atingir este nível, que aconteceu de forma progressiva, e é bom sentir que ainda hoje me custa tanto lidar com as derrotas como quando era mais nova. É sinal que ainda mantenho a paixão pelo desporto", revelou Ana Catarina Nogueira.
O crescimento foi gradual e, fruto da veterania que não é comum para uma iniciante numa modalidade, também ajudou outras superestrelas a crescer. Uma das suas aprendizes foi Paula Josemaría, que atualmente é "apenas" a número um mundial. Na altura era uma "jovem com bastante potencial", como Ana descreve, mas foi polindo as arestas até se transformar no diamante que é hoje.
E foi ao lado de Paula que a maior atleta nacional de padel teve a maior conquista da sua carreira, já depois de ter conquistado um Challenger, em 2018. Venceu o WPT Masters de Madrid, em 2019, que é uma das principais competições do circuito. Foi o primeiro grande título de uma atleta portuguesa na modalidade e é uma memória que nuca mais vai esquecer e que deixou uma recordação curiosa.
"Foi um torneio incrível. Nas meias-finais estávamos a perder 6-1, 4-1 contra a melhor dupla da atualidade e as minhas amigas, que estavam presentes devido a uma delas fazer anos, já estavam a arrumar as malas para ir embora nesse sábado. Achavam que já iam para casa, mas nós demos a volta, vencemos a final e acabamos a festejar o seu aniversário e a minha conquista em Madrid", conta, acrescentando que à chegada ao Porto teve uma receção apoteótica no clube a que estava afiliada.
Quando Ana decidiu aceitar Paula como sua parceira, a jovem ainda estava a entrar no top-50, o que foi um risco para a jogadora número 25 do Mundo. "Correu bem" como a própria diz e acabou por se tornar a parceria de maior sucesso da sua carreira, até pelas três finais atingidas, embora também tenha atuado muito tempo ao lado de Sofia Araújo, que é neste momento a portuguesa melhor classificada (12 do Mundo), nos circuitos nacionais.
Carreira essa que teve outros pontos altos, como o facto de ter sido, a certa altura, a número 6 do ranking WPT e fazer parte da terceira melhor dupla mundial. Números e factos que fazem da atleta uma das referências nacionais (e mundiais) do padel, o que representa "um enorme orgulho".
"Gosto de poder servir de exemplo e ser uma referência para que os outros sintam que, com trabalho, podem chegar a um nível alto no desporto. Sinto-me muito orgulhosa por poder ser essa referência", salienta.
Mas nem tudo são rosas e Ana Catarina também teve momentos menos bons. Em 2022 foi castigada com uma suspensão importa pela Federação Portuguesa de Padel, por uma alegada “crítica pública ostensiva e difamatória” ao organismo que rege o padel nacional, que depois viria a ser anulado pelo Tribunal Arbitral do Desporto.
A portuguesa mantém a convicção nas críticas efetuadas, relacionadas com o impedimento da participação no Europeu e no Mundial, o que levou Ana a expor nas redes sociais a sua tristeza.
"Foi um momento muito triste e duro que tive de ultrapassar. Apenas senti necessidade de transmitir a minha desilusão por não poder participar nas competições". Ana chama ainda a atenção para um problema transversal nas modalidades que é um impedimento a um crescimento mais acelerado. "A falta de apoios que as modalidades amadoras são vítimas. É um problema estrutural, em que o próprio Governo tem culpa, e que os próprios atletas Olímpicos se queixam", lamenta.
Por falar em Jogos Olímpicos, a competição de 2032 é uma forte hipótese para primeira a ter o padel como modalidade olímpica, possibilidade que deixa a atleta "muito feliz", embora provavelmente já não poderá usufruir desse avanço na modalidade. No entanto, aos 45 anos, só faz planos a curto prazo, avaliando a sua condição física e mental no final de cada época, e não sabe quando vai pendurar a raquete.
Ainda que já tenha feito mais do que suficiente para figurar entre as estrelas da modalidade em Portugal, esperamos ver Ana Catarina Nogueira nos 'courts' durante muito mais tempo a elevar o padel nacional!
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