O Mundial de hóquei no gelo de 2021 foi hoje retirado à Bielorrússia, com a federação internacional da modalidade a alegar “motivos de segurança”, depois da violenta repressão governamental aos protestos na sequência das eleições locais de 2020.
“A decisão de mudar o mundial de hóquei sobre o gelo de 2021 é inevitável”, sentenciou o organismo na sua página na Internet.
A decisão foi tomada depois da oposição da Bielorrússia pedir o cancelamento do torneio no país – foi criada uma petição com dezenas de milhar de assinaturas -, após a forte repressão aos protestos antigovernamentais ao regime de Alexander Lukashenko, no poder desde 1992.
“Atualmente, é impossível garantir o bem-estar das equipas, dos espetadores, e dos árbitros durante a disputa do campeonato na Bielorrússia”, justificou a Federação Internacional de Hóquei no Gelo (IIHF).
A líder da oposição do país do Leste da Europa, Svetlana Tijanóvskaya, ativista dos direitos humanos e que se revelou o principal rosto do repúdio ao poder de Lukashenko, considerou esta decisão uma “vitória”.
A dirigente política afirmou que assim não haverá “uma nova onda de repressão” com a desculpa do torneio e porque Lukashenko não poderá demonstrar que “está tudo sob controlo”.
“Esta é uma vitória de cada bielorrusso que sabe que o hóquei no gelo é um jogo e os bielorrussos não pensam jogar com criminosos”, disse, na rede social Telegram.
O presidente da IIHF, René Fasel, admitiu ser “muito triste” ter de retirar a candidatura conjunta da Bielorrússia com a Letónia.
O dirigente, que foi muito criticado por se ter reunido no início do ano com Alexander Lukashenko, disse que tentou promover o Mundial como “uma arma de reconciliação” para acalmar a situação na antiga república soviética, que foi a eleições em agosto de 2020, classificadas como fraudulentas pela oposição e vários organismos internacionais.
“Foi um pouco ridículo. Eu também me sinto incómodo como a situação. Devo reconhecer que joguei com o fogo. E queimámo-nos um pouco”, reconheceu Fasel, que agora colocará o organismo que lidera a discutir a realização da competição num só país, por motivos de segurança relacionados com a pandemia da covid-19.
Nessa reunião, Lukashenko, que desde sempre negou a pandemia no país, garantiu que a prova na Bielorrússia não significaria “qualquer perigo” para os adeptos.
“Se a federação internacional resistir à pressão injusta, isso significará que vamos organizar o Campeonato do Mundo. Se a Letónia se recusar, vamos organizar o Mundial na Bielorrússia e será o melhor campeonato da história. Tudo depende de si”, disse Lukashenko, na reunião com Fasel.
O Mundial estava previsto para decorrer de 21 de maio a 6 de junho.
“Peço-vos que não fecheis os olhos ao facto de se planear um torneio num país dirigido por um regime sangrento. Nenhuma competição é mais importante do que as vidas humanas”, dizia a petição que circulou na Internet, criada por Yulia Abbasova, conhecida jogadora de hóquei no país.
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