A Inglaterra foi a primeira campeã europeia de hóquei em patins, em 1926, hoje é um português que contorna dificuldades para manter viva a modalidade no país e que conduz a seleção britânica no Europeu, a decorrer em Espanha.
Carlos Amaral tem 61 anos e está há 22 na seleção inglesa, altura em que começou a construir “a casa pelo telhado, o que é errado”, como admitiu em entrevista à Lusa, na qual falou dos erros do passado, das expectativas do futuro e dos obstáculos do presente, num país que venceu as primeiras 12 edições do campeonato europeu, antes de a II Guerra Mundial arrasar o hóquei em patins.
“A minha função nos seniores é adaptar-me aos jogadores para os trazer aos campeonatos, visto que eles pagam para tudo. Infelizmente não posso dizer que seleciono a equipa, ela seleciona-se a ela própria. Em janeiro dei-lhes os custos para o Europeu, por isso estamos numa residência universitária que tem boas condições”, afirmou.
Esta é a primeira vez que tem uma equipa em que os 10 elementos foram formados por si, visto que assumiu o comando de todas as seleções de hóquei em patins em 2007, altura em que deixou o emprego como engenheiro e passou a trabalhar como diretor técnico da federação a tempo inteiro.
“Em 2007, arrisquei em trabalhar por conta própria no hóquei em patins, numa modalidade desconhecida em Inglaterra, com 700 jogadores. Agora somos 1.300. Desde que trabalho por conta própria quase dobrámos o número. O objetivo é chegar aos 5.000 nos próximos cinco anos”, indicou Carlos Amaral, apontado a meta que permitirá à modalidade ser reconhecida e financiada pelo ministério do desporto inglês.
A federação vive das inscrições dos atletas e paga uma parte do ordenado do treinador, enquanto os atletas (ou os pais) pagam para poder treinar com o selecionador “durante três horas, e há jogadores que fazem viagens de cinco horas para cada lado”, num país de tão escassos recursos, que só tem dois pavilhões adequados à prática.
“Em Inglaterra, quando mostro um jogo ou quando vão ver um jogo ficam apaixonados. A II Guerra Mundial arrumou a Inglaterra no hóquei, os pavilhões foram todos abaixo, e, quando se reconstruiu o país, o hóquei não foi reconstruído. Tentei devolver algum orgulho e prazer a jogar”, declarou.
O técnico admitiu que os resultados e o trabalho feito até agora “são essencialmente do apoio e da fé que as pessoas têm” nele, agradecendo a Vítor Pereira, atual treinador do Infante de Sagres, a Luís Gomes e ao massagista Pedro Lourenço, que “perde dinheiro para poder acompanhar a equipa”.
O Europeu da Corunha é “uma etapa para ir ao Mundial do próximo ano, em Barcelona”, e o principal objetivo é a preparação para esse torneio, mas o técnico não esconde que “chegar aos quartos de final era ganhar o campeonato, tendo em conta que a equipa só fez três treinos junta” e o futuro passa por “encurtar distâncias”.
“Estávamos a perder por muitos, começámos a perder por menos e agora perdemos por detalhes. O próximo passo é começar a ganhar mais, o que vai acontecer naturalmente porque estamos a trabalhar para isso. Não tenho dúvidas. Enquanto estiver como diretor técnico de Inglaterra, não vou desistir”, garantiu.
A Inglaterra tem três jogadores a atuar em clubes portugueses, nomeadamente, Alex Mount, na Sanjoanense, da II divisão portuguesa, e William Rawlinson e Charlie Oakes, que saem do HA Cambra para jogar na Escola Livre de Azeméis, na próxima temporada, no terceiro escalão.
Os três hoquistas – os dois primeiros de 20 anos e o outro de 19 - deixaram país, família e amigos para trás, na busca de se tornarem profissionais da modalidade, conjugando treinos com as respetivas profissões. As saudades vão passando graças às visitas regulares dos familiares, e a vontade de todos é clara: continuar em Portugal.
“Os jogadores são melhores e temos jogos todas as semanas. Quero ficar sempre em Portugal, jogar até aos 40 ou 50 anos. Gosto muito da vida no país. As pessoas são mais simpáticas”, relatou Alex Mount, confessando o objetivo de vir a “ser o melhor jogador do mundo”.
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