A instalação do primeiro campo de golfe relvado de Cabo Verde por um investidor italiano, cuja primeira fase implica ainda uma unidade hoteleira com 100 camas, foi classificada pelo Governo com o estatuto de utilidade turística.
A atribuição do estatuto de utilidade turística de instalação, aprovada por despacho conjunto dos ministros das Finanças e dos Transportes e Turismo, de 10 de março, permite aos investidores ter acesso a benefícios fiscais ao abrigo da legislação em vigor e aplica-se à sociedade Viveiro, constituída na ilha do Sal pelo italiano Giannino Mariani, para o empreendimento “Viveiro Golf Resort”.
De acordo com o Governo, trata-se de um investimento empresarial cuja primeira fase, com inauguração prevista para abril, está orçada em cinco milhões de euros e prevê a construção de um resort turístico numa superfície de 400 hectares.
Esta primeira fase, além dos nove buracos iniciais (de 27 previstos), inclui a construção de um ‘club house’ com 45 suítes e o máximo de 100 camas, um hotel, vivendas e edifícios residências, representando a criação de 70 postos de trabalho.
A história deste projeto, o primeiro campo de golfe relvado em Cabo Verde, foi recentemente contado à Lusa pela filha de Giannino Mariani, investidor italiano que chegou ao Sal há mais de vinte anos, para abrir o primeiro grande hotel da ilha cabo-verdiana e já a sonhar com aquele desporto.
“Quando o meu pai apresentou o projeto do campo de golfe à Câmara, em 2001, disseram-lhe que o turismo não era o futuro da ilha. Como se vê, agora”, recordou Paola Mariani, à conversa com a Lusa na ilha do Sal, que se tornou a mais turística de Cabo Verde, com quase meio milhão de turistas por ano.
O italiano, juntamente com a filha e com o genro, Camilo, argentino, continuou o sonho e ao fim de 20 anos, numa ilha praticamente sem água doce para a relva, o “Viveiro Golf” está pronto para abrir portas.
Giannino Mariani não desistiu de levar a sua paixão desportiva ao Sal. Sem água doce na ilha, e num projeto inicialmente de pouca importância localmente, a família foi desenvolvendo a ideia e a primeira prioridade foi encontrar a relva perfeita para o primeiro campo de golfe relvado de Cabo Verde.
“Encontrámos uma relva que usa a água salgada e começámos a fazer experiências cá, com um viveiro”, recordou Paola, que hoje é a porta-voz da família. O turismo, o viveiro e o campo de golfe foram, de resto, motivos que a levaram a trocar Itália por Cabo Verde, logo depois do pai.
“Como sempre digo, as coisas acontecem quando têm de acontecer. O campo de golfe foi o que me trouxe aqui, ao Sal, há 14 anos. E finalmente vamos inaugurar o campo de golfe em 2021, na Páscoa”, explicou.
Em plena pandemia de covid-19, e praticamente ainda sem turistas no Sal, Paola sabe que o projeto é para implementar em “três a cinco anos”, até estarem concluídos os três circuitos interligados, cada um com nove buracos, totalizando um campo de 27 buracos, com zonas de passeio, de treino, restaurante e bar.
O campo será protegido com barreiras naturais, essencialmente palmeiras que começaram a produzir localmente, no viveiro, juntamente com outras plantações, que é o verdadeiro “know-how” da família.
Cada circuito terá uma decoração própria, com espécies de flora especialmente escolhidas, por entre um lago criado artificialmente, com 14.000 metros cúbicos de água doce, que também garante as necessidades de consumo do empreendimento.
“Acho que até outubro dificilmente a ilha do Sal terá muito turismo, mas o ‘timing’ é perfeito para nós, para termos o campo preparado e já alguma experiência”, assumiu.
Influenciado pela forte presença inglesa, Paola admitiu que o golfe é um desporto com que os cabo-verdianos já estão familiarizados, prevendo mesmo usar o campo como escola para fomentar a prática no Sal, além de ser mais uma oferta para os milhares de turistas que habitualmente passam pela ilha.
“Acho que vai ser uma mais-valia para o turismo, mas também para a população local. E para o turismo interno, que é o queremos trabalhar”, explicou.
Apesar dos efeitos da pandemia, a família Mariani não tem dúvidas do sucesso do primeiro campo de golfe relvado em Cabo Verde.
“Vai ser fácil ter 100 pessoas por dia, quando temos 15.000 camas só em Santa Maria [a principal localidade turística da ilha do Sal]. Não vai ser um problema ter a quantidade necessária de jogadores para encher o campo”, referiu Paola.
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