Há muito se pedia algo assim. Há muito que Portugal era visto como um país de craques com a bola nos pés, mas a maldição do 'quase' no escalão sénior pairava há décadas.
O futebol de praia português contava já com um título mundial, conquistado em 2001 no Brasil, mas numa altura em que a modalidade ainda não era tutelada pela FIFA. Sob a égide do organismo que rege o futebol mundial, o melhor que a equipa das 'quinas' havia conseguido fora um segundo lugar, em 2005, com uma final perdida nos penáltis diante da França.
Uma tendência para contrariar
O futsal não tem tido melhor sorte: um terceiro lugar no Mundial de 2000, na Guatemala, foi o melhor que Portugal conseguiu nas competições seniores da FIFA. A nível europeu, e portanto em provas da UEFA, destacam-se dois quartos lugares, em 2007 e 2014.
O síndrome dos 'quase campeões' é ainda mais premente na modalidade mais popular de todas, o futebol de onze. Um terceiro lugar em 1966 e um quarto posto em 2006 são as maiores conquistas do futebol sénior português a nível mundial. Em Europeus destacam-se as meias-finais de 1984, 2000 e 2012, além da maior desilusão de todas: a 'tragédia grega' de 2004, em solo português.
O 'fator casa' não foi suficiente para contrariar o famigerado golo de Charisteas no Estádio da Luz, mas o apoio dos adeptos foi fundamental nas areias de Espinho. Com o estádio completamente cheio sempre que entrou em campo, a seleção das 'quinas' usou o apoio como catalisador para 'oferecer' à FPF e aos portugueses o título.
Um percurso quase imaculado
Foram seis jogos e cinco vitórias. Uma caminhada quase perfeita para Madjer, Belchior, Alan e companhia, que aprenderam com a derrota com o Senegal e elevaram o jogo coletivo para novos níveis.
Antes disso, uma vitória bastante tranquila frente ao Japão, por 4-2, havia dado os primeiros bons indicadores. Os pés de Madjer continuavam a valer ouro e a primeira ameaça estava contrariada. Depois, no entanto, um modesto Senegal contrariou o favoritismo luso, com uma vitória por 6-5, e fez soar as sirenes no balneário: com tanta desconcentração na defesa não seria possível ser campeão em casa. O desaire foi o ponto de viragem. Seguiu-se uma clara goleada à poderosa Argentina, por 7-2, com um trabalho defensivo quase imaculado para garantir o mínimo dos mínimos: a passagem à fase a eliminar.
O 'mata-mata' começou com um encontro com a Suíça, liderada por um pequeno 'mágico' das areias: Noel Ott. A estrela da formação suíça ainda marcou dois golos a Andrade, mas os portugueses mantiveram a veia goleadora e o encontro terminou com uma vitória por 7-3.
Seguia-se a meia-final, que em boa verdade foi quase uma final antecipada. A Rússia, bicampeã mundial em título, surgia como forte candidata a nova conquista e como a principal ameaça para Portugal. Mais uma vez, e mesmo sem um elemento importante como Torres, Portugal deu primazia à organização defensiva e colheu os frutos do trabalho no ataque: 4-2, mais uma vitória segura e a presença no jogo derradeiro garantida.
Contra um também poderoso Taiti, em claro crescendo desde o quarto lugar em 2013, Portugal fez 'das tripas coração' e conseguiu segurar as ameaças ao longo dos largos minutos em que a vantagem foi de apenas um golo. Numa altura em que a prioridade era segurar a vantagem mínima até ao apito final, o veterano Alan 'matou' o jogo em 5-3 e fez soar "A Portuguesa" em Espinho.
Percurso da seleção portuguesa no Mundial:
Portugal 4-2 Japão (Grupo A)
Senegal 6-5 Portugal (Grupo A)
Portugal 7-2 Argentina (Grupo A)
Portugal 7-3 Suíça (Quartos-de-final)
Portugal 4-2 Rússia (Meias-finais)
Taiti 3-5 Portugal (Final)
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