A expulsão de Peter Sagan, por ter causado a queda de Mark Cavendish com uma cotovelada, ofuscou hoje a primeira vitória de Arnaud Démare na ‘sua’ grande Volta, a primeira de um ciclista francês no Tour ao ‘sprint’ desde 2006.
O momento mais bonito da carreira de Arnaud Démare (FDJ) foi o mais feio da de Sagan: num gesto que envergonha a camisola de campeão mundial que enverga, assim como o seu estatuto de ciclista mais popular da atualidade, o eslovaco da Bora-hansgrohe deu uma cotovelada a Mark Cavendish, quando este tentava passá-lo pela direita, e causou a aparatosa queda do britânico da Dimension Data.
Resultado? Expulsão para o vencedor da classificação por pontos nas últimas cinco edições, ida ao hospital e possível fratura de clavícula para o ciclista mais vitorioso em prova, e festa estragada para o campeão francês, que hoje, em Vittel, se tornou no primeiro ciclista nacional a vencer uma etapa ao ‘sprint’ desde Jimmy Casper, em 2006.
“É extraordinário. Sonhava com isto desde que me tornei profissional”, assumiu o ciclista da FDJ que, com a expulsão de Sagan, foi secundado pelo norueguês Alexander Kristoff (Katusha Alpecin) e pelo alemão André Greipel (Lotto Soudal), respetivamente segundo e terceiro na tirada, com o mesmo tempo do vencedor (04:53.54 horas).
Não fosse o polémico final e a quarta etapa teria passado à história sem honra nem glória, apesar do esforço de Guillaume van Keirsbulck, que saltou do pelotão ao quilómetro zero dos 207,5 entre a localidade luxemburguesa de Mondorf-les-Bains, cidade natal dos irmãos Schleck, expoente máximo do ciclismo local, e Vittel.
Na sua estreia no Tour, a Wanty-Groupe Gobert continua apostada em dar nas vistas, tendo lançado na frente de corrida o ciclista belga, que por lá andou até à entrada nos 16 quilómetros finais e chegou a ter mais de 13 minutos de vantagem sobre o grupo.
Anulada a fuga, as equipas dos ‘sprinters’ atabalhoaram-se na preparação dos comboios de lançamento, com a desorganização a ser por demais evidente e a resultar numa primeira queda com a ‘flamme rouge’ à vista, que derrubou o camisola amarela Geraint Thomas (Sky), sem consequências de maior – “Está tudo bem, não tenho nada de grave”, garantiu no final.
Com o pelotão completamente despedaçado, ficaram na frente apenas os principais ‘sprinters’. Quando Démare já seguia lançado para a sua primeira vitória na Volta a França, Cavendish tentou ultrapassar Sagan pela direita e o bicampeão mundial, num gesto irrefletido, acotovelou-o, atirando o ciclista da Dimension Data contra as barreiras.
O homem da ilha de Man, o mais vitorioso dos participantes desde Tour (está a apenas quatro vitórias do recorde absoluto de 34 triunfos de Eddy Merckx), caiu desamparado, de cara, contra as baias de proteção, antes de impactar com o asfalto, derrubando também o alemão John Degenkolb (Trek-Segafredo) e o compatriota Ben Swift (UAE Team Emirates).
Enquanto o campeão francês celebrava efusivamente a sua conquista, ‘Cav’ era assistido durante longos minutos pela equipa médica da prova. Depois de a sua participação ter estado em dúvida até ao último momento, devido a uma mononucleose que o afastou das estradas, o caminho do ciclista da Dimension Data nesta edição pode ter chegado ao fim, sem que o castigo imposto a Sagan sirva para atenuar a sua desilusão.
A expulsão do eslovaco, que era quarto à partida para a quarta etapa, é mesmo a única alteração significativa na geral, que continua a ter Geraint Thomas na primeira posição e o seu companheiro e compatriota, o tricampeão Chris Froome, na segunda, a 12 segundos.
Na quarta-feira, os homens da Sky vão enfrentar o seu primeiro grande teste, na ligação de 160,5 quilómetros entre Vittel e a contagem de primeira categoria de La Planche des Belles Filles, para a qual Tiago Machado (Katusha Alpecin), o único português presente, vai partir no 50.º lugar da geral, a 01.30 minutos de Thomas.
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