Tadej Pogacar ‘apressou-se’ hoje para conquistar a vitória no contrarrelógio da quinta etapa da Volta a França em bicicleta e deixar os seus rivais à distância, mas viu o ‘gigante’ Mathieu van der Poel negar-lhe a amarela.

O “dia realmente bom” do jovem esloveno, de 22 anos, começou a partir do momento em que saiu da rampa, de sorriso no rosto e com o ar descontraído que o caracteriza, e terminou 27,2 quilómetros e 32 minutos depois, com o triunfo na quinta etapa, o seu quarto no Tour em duas participações.

“Hoje, não cometi erros. […] Nos últimos contrarrelógios, errei depois de começar a um ritmo super elevado. Controlei bem as pedaladas e encontrei um ritmo perfeito até ao final. O objetivo era não perder tempo, mas ganhei e estou muito feliz. Estou entusiasmado para todo o Tour”, declarou o campeão em título, após ter pedalado a uma média de 51 km/h.

A jornada só não foi perfeita para o líder da UAE Emirates, porque Mathieu van der Poel (Alpecin-Fenix) defendeu com ‘unhas e dentes’ (e com umas rodas vindas especialmente de Andorra para este ‘crono’) a amarela, segurando-a por oito segundos, num esforço que mereceu o reconhecimento de ‘Pogi’.

“Adoraria ter a amarela, mas o Mathieu está lindamente com ela”, disse o agora segundo classificado, que no contrarrelógio deixou o suíço Stefan Küng (Groupama-FDJ), a 19 segundos, e o dinamarquês Jonas Vingegaard (Jumbo-Visma), a 27.

Os nomes foram desfilando na liderança da classificação provisória da etapa, com o dinamarquês Mikkel Bjerg (UAE Emirates), aquele que mais tempo passou sentado na ‘cadeira quente’, o italiano Mattia Cattaneo (Deceuninck-QuickStep) e Küng, o campeão da Europa de contrarrelógio, a sonharem, ainda que momentaneamente, com o triunfo no ‘crono’.

Mas a vitória da etapa estava reservada para o maior dos pretendentes ao triunfo final, que hoje viu também os seus principais adversários a não se pouparem para dizerem ‘presente’.

De corpo (mas não de orgulho) ferido, Primoz Roglic (Jumbo-Visma) esteve longe das suas melhores prestações no contrarrelógio, mas demonstrou que a dura queda na terceira etapa e os ‘remendos’ que leva na pele não serão um obstáculo para lutar pela amarela que perdeu no ‘crono’ do penúltimo dia da passada edição, sendo sétimo na etapa, a 44 segundos do seu arquirrival, e subindo ao 10.º lugar da geral, mas já a 01.48 minutos da amarela.

Não foi o único: também Geraint Thomas (INEOS), o vencedor de 2018 e ‘vice’ de 2019, esteve melhor do que o esperado para alguém que, na terceira etapa, esteve a ponto de abandonar – confessou, posteriormente, que foi o médico do Tour que o ‘salvou’, ao recolocar-lhe o ombro no sítio logo após a queda -, e concluiu o seu exercício individual a 01.18 do vencedor, de quem já dista mais de 01.30 minutos na geral.

Em destaque estiveram ainda Julian Alaphilippe (Deceuninck-QuickStep), que ainda assim caiu do segundo para o quarto posto da geral, e Rigoberto Úran (EF Education-Nippo), agora sétimo classificado, a 01.29 minutos de Van der Poel.

Contudo, nenhum ‘voou’ como Pogacar, que foi pulverizando os tempos nos pontos intermédios até à meta, e deixou alguns dos seus grandes adversários a distâncias ‘impossíveis’, nomeadamente os trepadores Nairo Quintana (Arkéa-Samsic), Sergio Higuita (EF Education Nippo) ou Esteban Chaves (BikeExchange), que perderam todos na ordem dos três minutos.

Entre os ‘derrotados’ da jornada, Richard Carapaz (INEOS) minimizou as perdas a 01.44 minutos, uma diferença semelhante à de Enric Mas (Movistar), mas deu um ‘trambolhão’ na geral, na qual é nono. Miguel Ángel López (Movistar) até ‘só’ cedeu 02.08 minutos – menos um segundo do que o português Ruben Guerreiro (EF Education-Nippo) -, mas está já a mais de cinco do camisola amarela.

E foi precisamente o ciclista da Alpecin-Fenix, que nem bicicleta de contrarrelógio tem em casa e que raras vezes treinou a especialidade, a grande surpresa da quinta etapa: ‘MVDP’ e a sua equipa apostaram tudo na defesa da amarela, ‘importando’ umas rodas de Andorra, compradas ao ciclista da INEOS Cameron Wurf, e o holandês conseguiu hoje ser quinto, a 31 segundos do vencedor e a um segundo de Wout van Aert (Jumbo-Visma), que agora é terceiro da geral, a 30 segundos do seu eterno rival.

Desenhadas especialmente para a formação britânica, as rodas não estavam à venda no mercado, pelo que a Alpecin-Fenix pagou cerca de 4.000 euros a Wurf pelas suas rodas suplentes, ainda não usadas, e confiou a tarefa de as transportar até Laval a um fã de Van der Poel, que conduziu durante 10 horas e 900 quilómetros para as entregar ao camisola amarela.

Coincidência ou não, Van der Poel manteve a liderança da geral, na qual Ruben Guerreiro continua a ser 32.º, a 04.47 minutos do holandês, e Rui Costa (UAE Emirates), que hoje perdeu 04.45 minutos para o seu companheiro e líder, é 89.º, a 14.41 do holandês.

“Correu melhor do que o esperado, senti-me muito forte hoje. A camisola amarela deu-me asas, é único correr diante do público francês. Lembrar-me-ei disto por muito tempo”, confessou o neto de Raymond Poulidor, antes de assumir que “não seria realista” imaginar que pudesse defender a amarela do ‘assalto’ de Pogacar nas montanhas.

Para já, o holandês de 26 anos terá, na quinta-feira, uma jornada previsivelmente tranquila, nos 160,6 quilómetros entre Tours e Châteauroux.