O presidente da Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP), Luís Horta, disse hoje que Lance Armstrong podia ter ido mais longe na confissão do uso de substâncias dopantes, lamentando que o antigo ciclista não tenha esclarecido várias suspeições.
«É muito positivo que ele tenha confessado. É sempre bom que a pessoa assuma os seus erros», começou por dizer Luís Horta à agência Lusa, destacando que a admissão de um passado ligado ao doping por parte do norte-americano «é uma demonstração daquilo que foi o processo da USADA [Agência Antidopagem dos Estados Unidos]», que revelou «uma verdade absoluta».
No entanto, o presidente da ADoP reconheceu que «Lance Armstrong podia ter ido um bocadinho mais longe».
«Há ali coisas que não se percebem. Quando diz que os atletas se podem dopar sozinhos, quando ele defende a imagem do doutor Ferrari, que todos sabemos que está envolvido em práticas de dopagem desde há muitos anos e por isso não pode exercer medicina em Itália», enumerou.
Para Luís Horta, o processo contra o texano, antigo recordista de vitórias na Volta a França em bicicleta, levantou «muitas suspeições», que não «devem ficar no ar».
«As suspeições têm de ser investigadas e é preciso chegar a uma conclusão. Se são verídicas ou não verídicas, porque senão, daqui a 10, 20 anos, ainda estaremos a falar das suspeições», acrescentou.
O responsável pelo combate ao doping em Portugal defendeu que a investigação deve continuar e devem ser punidos aqueles que «eventualmente» colaboraram nas práticas de dopagem, «porque de certeza absoluta que há muitas pessoas envolvidas».
De fora, na opinião do presidente da ADoP, está a hipótese de José Azevedo, o único português que participou nas conquistas do norte-americano na Volta a França, ser implicado pela investigação, que será da responsabilidade da União Ciclista Internacional (UCI) e não das entidades nacionais.
«Neste caso, mesmo sendo um ciclista nacional numa equipa de nível internacional, a jurisdição é sempre da UCI. Mesmo que houvesse eventualmente, coisa que eu não acredito, o envolvimento de um atleta português, o assunto seria tratado dentro da esfera desportiva», esclareceu à Lusa.
Apesar de reconhecer que as pessoas querem que os ciclistas subam cada vez mais alto e mais depressa, Luís Horta rejeitou a tese defendida por Lance Armstrong de que seria impossível vencer o Tour sem recorrer a substâncias dopantes.
«Penso que é possível correr uma Volta à França sem utilização de substâncias proibidas, mesmo com o traçado que a prova tem neste momento. O que eu penso que é impossível é correr a Volta a França com o traçado e os dias que tem às médias que são realizadas», apontou, indicando que são feitas médias acima dos limites fisiológicos dos atletas.
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