O ciclista espanhol Luis Ángel Maté (Euskaltel-Euskadi) conseguiu 1.100 árvores para a reflorestação da Sierra Bermeja, com cada quilómetro escapado a valer por três na Volta a Espanha, mas promete, à Lusa, não ficar por aqui.
“Oxalá, nunca tivesse de fazer esta iniciativa. Era porque não tinha acontecido o terrível incêndio aqui em casa, na Sierra Bermeja, em 2021. Infelizmente, vivemos hoje em dia um tempo em que estamos imersos, a cada verão, em terríveis catástrofes florestais. Em Portugal sabem bem do que falo”, conta, em entrevista à agência Lusa.
Aquela cordilheira na costa da Andaluzia tem sido fustigada pelos incêndios, primeiro em setembro de 2021, com mais de nove mil hectares de área ardida, e outra vez este verão, obrigando à evacuação de quase três mil pessoas.
Aos 38 anos, o antigo corredor da Cofidis, agora na Euskaltel-Euskadi, anunciou a intenção de plantar uma árvore por cada quilómetro em fuga na prova espanhola que terminou no domingo, uma iniciativa a que se juntou a fundação por detrás da equipa basca, com mais uma, e a própria organização da Vuelta, com outra.
Maté começou a somar logo na primeira etapa e depois juntou-lhe mais quilómetros, sobretudo na 16.ª tirada da sua 11.ª participação na Volta a Espanha, a 17.ª ‘grande Volta’ da carreira.
Um apaixonado por Portugal – em 2021 pedalou pelo país numa “vuelta de la Vuelta” –, Maté quis “sobretudo aproveitar a repercussão que tem um evento como a Volta a Espanha para colocar nas bocas do mundo um problema muito grave e que é responsabilidade de todos”.
“Cuidar do nosso planeta, da nossa casa... enfrentamos, como Humanidade, uma das maiores crises a que qualquer um de nós assistiu, a mudança climática e o aquecimento global. É nossa responsabilidade deixar às gerações futuras um legado natural igual, se não melhor, do que recebemos”, afirma.
Assim, se são 1.100 as árvores já ‘prometidas’ à Sierra Bermeja, conta, há ainda por ler “centenas de mensagens de pessoas que querem vir ajudar, doar uma árvore”, à espera nas caixas de entrada das suas redes sociais, assim como de “muitíssimas associações e empresas”.
“Nos próximos dias, vou organizar-me e organizar toda a ajuda, que é muito valiosa. [...] Toca-me fazer um trabalho de selecionar e receber toda a ajuda, toda a ajuda é boa. Quem quiser doar, vir plantar, ocupar-se uns meses a cuidar destas árvores... qualquer ajuda será boa”, apela.
Entre o pelotão, nas corridas “vai-se sempre muito rápido, e agora fala-se cada vez menos”, mas recebeu apoio e ofertas de ajuda, além de travar contacto com a iniciativa de outro ciclista pelo ambiente, o suíço Gino Mäder (Bahrain-Victorious).
Mäder doa um franco suíço por cada ciclista que ficar atrás de si em cada corrida ou etapa na temporada 2022, o que já ascende a mais de três mil euros, para associações que lutem contra as alterações climáticas.
O suíço lembrou, ao anunciar a iniciativa, que cresceu nos Alpes, onde teve o “privilégio” de ver glaciares e um “gelo eterno”, que agora desaparece a cada aumento na temperatura média da Terra.
“É importante que nós, como ciclistas, tenhamos consciência de que somos algo mais do que desportistas. Temos o melhor veículo para liderar uma mudança na sociedade, que é a bicicleta. Temos o maior estádio do mundo, porque hoje é Portugal, amanhã é Espanha e depois é França, etc. Temos também uma responsabilidade de cuidar da sociedade”, considera Luis Ángel Maté.
Para dar continuidade a este projeto, tem “muitas ideias”, uma característica muito sua ao longo da carreira, pejada de iniciativas paralelas, sejam 10 mil quilómetros de Santiago ao sul da Península Ibérica, na volta da Vuelta, ou a causa da adaptação face às alterações climáticas.
“A última que tive é repovoar a Sierra Bermeja com crianças, ir às escolas, para que se apercebam. Dentro de uns anos, serão adultos, e devem ver que é preciso trabalhar desde novo [pelo ambiente]”, revela.
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