A carreira de ‘conto de fadas’ do ciclista britânico Mark Cavendish (Astana) viveu hoje novo capítulo, com o triunfo na última etapa da Volta a Itália, que o consagrou como mais velho de sempre a ganhar no Giro.
A 21.ª etapa, com 126 quilómetros com início e fim em Roma, foi vencida por Cavendish numa disputa ao sprint em que superou o luxemburguês Alex Kirsch (Trek-Segafredo), segundo, e o italiano Filippo Fiorelli (Green Project-Bardiani CSF-Faizanè), terceiro.
O português João Almeida (UAE Emirates) cortou a meta, no final dos 126 quilómetros da 21.ª etapa, com as mesmas 02:48.26 horas do campeão britânico de fundo, e viu o seu terceiro lugar final confirmado, numa 106.ª edição da ‘corsa rosa’ ganha pelo esloveno Primoz Roglic (Jumbo-Visma), que deixou o britânico Geraint Thomas (INEOS) em segundo, a 14 segundos, e o corredor de A-dos-Francos (Caldas da Rainha) a 1.15 minutos.
O ciclista de 24 anos, que também conquistou a classificação da juventude, é o primeiro português a ‘fechar’ o Giro no pódio e o segundo corredor luso a ficar entre os três melhores de uma grande Volta, depois de Joaquim Agostinho ter sido terceiro nas edições de 1978 e 1979 da Volta a França e segundo na Vuelta1974.
Em frente ao Coliseu, o dia foi de Cavendish e da vitória daquilo a que Geraint Thomas chamou “mais do que ciclismo”, como a amizade, uma vez que o britânico chegou à 16.ª vitória no Giro, e à 54.ª em grandes Voltas, numa ‘corsa rosa’ em que teve pouco apoio da nova equipa e em que confirmou o ‘adeus’ à estrada no final da época.
Ainda assim, este triunfo consagra-o, aos 38 anos e sete dias, como o mais velho de sempre a ganhar em Itália, batendo Paolo Tiralongo, que tinha triunfado em 2015 com 37 anos e 313 dias.
“A minha equipa esteve incrível. Os meus amigos estiveram incríveis. Amigos de longa data... é muito emotivo para mim, sendo sincero”, admitiu o britânico.
‘Cav’ referia-se ao apoio dado por Geraint Thomas, que após 20 etapas de luta pela vitória final no Giro – que só perdeu no contrarrelógio da última etapa - arranjou forças e vontade para, nos últimos dois quilómetros, ‘puxar’ à frente do ‘comboio’ do amigo de longa data, com quem passou tantos dias na pista e na estrada.
“A minha primeira vitória em grandes Voltas foi em 2008, no Giro. Ganhar aqui em Roma... é lindo. É um sprint para tirar da lista de coisas a fazer antes de morrer, e logo em frente ao Coliseu”, comentou.
O britânico inscreve o nome em mais uma página da história dourada do ciclismo mundial, mais uma de tantas, e renova a esperança de lograr o grande objetivo da temporada, um dos maiores feitos que ainda lhe escapa.
O ‘míssil da Ilha de Man’ quer igualar as 35 vitórias na Volta a França do belga Eddy Merckx, um registo durante décadas considerado inalcançável, e este triunfo dar-lhe-á motivação, a título pessoal, e à Astana renovada ambição de imprimir as suas cores na ‘lenda’ de Cavendish.
Fora desta luta, a etapa pouco mais teve de interesse para lá da ‘procissão’ e celebração de Roglic e companheiros de equipa, com a boa camaradagem visível entre um pelotão que batalhou doenças, frio, chuva e muita montanha ao longo de três semanas que ‘renderam’ mais de meia centena de abandonos.
O melhor italiano em prova, Damiano Caruso (Bahrain-Victorious), foi quarto e voltou a estar perto dos primeiros na prova, já no ‘ocaso’ do seu percurso, e o francês Thibaut Pinot (Groupama-FDJ), em final de carreira, despediu-se com a camisola da montanha e o quinto posto final.
O ‘top 10’ consagrou ainda, por esta ordem, o neerlandês Thymen Arensman (INEOS), sexto, o irlandês Eddie Dunbar (Jayco-AlUla), sétimo, o norueguês Andreas Leknessund (DSM), oitavo, o alemão Lennard Kämna (BORA-hansgrohe), nono, e o belga Laurens de Plus (INEOS), 10.º.
A juventude, já se sabe, foi para João Almeida, por grande margem, e a derradeira tirada consagrou o italiano Jonathan Milan (Bahrain-Victorious) como o mais forte e regular dos sprinters, aos 22 anos, apesar das ameaças do ‘rei das fugas’ deste Giro, o canadiano Derek Gee (Israel-Premier Tech).
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