Ela é norte-americana e uma das melhores basquetebolistas da atualidade, defensora dos direitos dos negros e da comunidade LGBTQIA+. Ele, um russo considerado um temível traficante de armas. Brittney Griner e Viktor Bout foram protagonistas, na quinta-feira (8), de uma troca de prisioneiros à moda de Hollywood entre a Rússia e os Estados Unidos da América.

Campeã olímpica com a seleção norte-americana de basquetebol e pioneira na defesa da comunidade LGBTQIA+, Griner, de 32 anos, viu a sua carreira interrompida ao ser presa na Rússia, num episódio que provocou um incidente diplomático entre Washington e Moscovo ao estilo da Guerra Fria.

A afro-americana está entre as 11 jogadoras que conquistaram uma medalha de ouro olímpica, um título da WNBA, um Campeonato Mundial e o troféu da liga universitária dos Estados Unidos da América.

Brittney Griner ajudou a levar a seleção nacional norte-americana ao topo do pódio no Rio de Janeiro, em 2016, e em Tóquio, no ano passado, o sétimo ouro olímpico consecutivo dos EUA.

Em fevereiro de 2013, Griner declarou publicamente que era homossexual, numa entrevista à revista Sports Illustrated. O seu acordo de patrocínio com a Nike foi o primeiro assinado com um atleta abertamente homossexual.

"Estou apenas a tentar ajudar. Tento fazer com que isso não seja tão difícil para a próxima geração", disse, na altura à revista People.

Cherelle Watson Griner, esposa de Brittney Griner desde 2019, estava na Casa Branca quando o presidente norte-americano Joe Biden anunciou a sua liberação.

Griner estava a jogar na Rússia durante a interrupção da temporada da WNBA, como fazem muitos profissionais dos Estados Unidos que procuram salários mais altos do que recebem no seu país.

Venceu três campeonatos russos e quatro títulos europeus com o seu poderoso clube, UMMC Ekaterinburg. No entanto, a 17 de fevereiro, uma semana antes de as tropas russas invadirem a Ucrânia, foi detida no aeroporto de Moscovo e acusada de tráfico de drogas por ter na sua posse um tipo de cigarro eletrónico, com óleo de cannabis.

Na altura, a jogadora afirmou que tinha uma receita de um médico norte-americano para usar a cannabis medicinal para aliviar dores de lesões, mas acabou por ser condenada em agosto, por tráfico de drogas, por um tribunal russo e sentenciada a nove anos de prisão.

Viktor Bout, dono de uma frota particular

Segundo um relatório das Nações Unidas, Viktor Bout nasceu há 55 anos em Dushambe, capital da ex-república soviética do Tajiquistão. Estudou no Instituto Militar de Línguas Estrangeiras de Moscovo antes de entrar na Força Aérea da URSS.

A partir de 1991 e com a queda da União Soviética, Bout soube como se aproveitar do caos que reinava no seu país para adquirir a preços baixos grandes quantidades de armamentos de bases militares deixadas à própria sorte e com oficiais que procuram formas de enriquecer ou simplesmente subsistir.

Durante duas décadas, o seu nome foi sinónimo de tráfico internacional de armas, até que foi detido na Tailândia em 2008, numa operação levado a cabo por de agentes norte-americanos.

Dois anos depois, foi enviado para os Estados Unidos após uma longa batalha judicial pela sua extradição, que provocou tensões entre Washington e Moscovo-

Apelidado pelas autoridades dos EUA de "Mercador da morte", Bout foi acusado de tentar vender para agentes norte-americanos, que se passavam por compradores da então guerrilha colombiana das FARC, mísseis terra-ar e outras armas que seriam supostamente usadas contra membros das forças de combate às drogas dos Estados Unidos da América.

As autoridades norte-americanas acreditam que Bout, que serviu de inspiração para o personagem interpretado por Nicholas Cage no filme "O Senhor das Armas", utilizou uma frota de aviões de carga constituída após o fim da Guerra Fria para transportar armas para África, América de Sul e Médio Oriente.

Após ser considerado culpado de tráfico de armas em novembro de 2011 pela Justiça federal dos Estados Unidos, foi condenado a 25 anos de prisão em abril de 2012.

Naquele momento, o Ministério das Relações Exteriores russo prometeu que faria todos os possíveis para trazê-lo de volta à Rússia, algo que finalmente conseguiu, dez anos depois.