“Claro que tinha esperanças e sabia que havia essa possibilidade, mas não dependia de mim e nunca se sabe até receber o telefonema. É um orgulho imenso olhar para aquela fotografia de todas as jogadoras e ver-me no meio delas. Estar ali como a única europeia e a única que não fala em inglês como primeira língua é uma distinção incrível. Talvez, a melhor de todas as distinções que já tive”, vincou à agência Lusa a ex-base, de 46 anos.
A partir de um grupo inicial de 72 atletas, a WNBA formou um lote prestigioso, designado de “The W25” e revelado no domingo, em pleno intervalo da partida entre Chicago Sky e Las Vegas Aces (92-84), da fase regular da prova, em Chicago, no estado de Illinois.
Um painel de meios de comunicação social e pioneiros do basquetebol feminino dedicou-se desde março à seleção das 25 figuras, que deveriam ter jogado pelo menos duas temporadas na WNBA e atender a critérios como desempenho e habilidade na quadra, liderança, espírito desportivo, contribuição para o sucesso coletivo e ações comunitárias.
“Ainda não estou em mim nem aterrei da nuvem em que tenho estado nas últimas 24 horas. Quer dizer, já sabia desde quarta-feira, mas pediram-me que não contasse a ninguém”, contou a antiga ‘estrela’ de Sacramento Monarchs (1998-2009), franquia na qual se sagrou campeã (2005), Los Angeles Sparks (2010-2011) e Chicago Sky (2012).
Depois de ter homenageado 15 atletas já retiradas da competição e 10 no ativo, entre as quais as reputadas Sue Bird (Seattle Storm), de 40 anos, e Diana Taurasi (Phoenix Mercury), de 39, a WNBA apela aos adeptos que escolham a melhor de sempre através de uma votação nas plataformas digitais da organização, extensível até 19 de setembro.
“Olhando para trás e vendo o meu percurso, saí de Portugal e de casa aos 16 anos e fiz tantos sacrifícios pessoais para ir atrás dos meus sonhos. São distinções como estas que me fazem saber que tomei todas as decisões certas em relação ao meu trabalho e à carreira que eu queria ter”, admitiu Patrícia Nunes Penicheiro, conhecida como Ticha.
Com inúmeras distinções individuais e coletivas colecionadas durante 15 épocas na WNBA, a ex-internacional lusa já tinha sido considerada uma das 15 melhores atletas da história da competição, em 2011, e integrado o corredor da fama da modalidade, a mais relevante distinção da carreira de uma basquetebolista nos Estados Unidos, em 2019.
“Cresci sem nenhum ídolo feminino. Os meus ídolos eram todos homens que jogavam na NBA, além do meu irmão e pai, já que foi por causa deles que eu comecei a jogar. Vendo agora, não só no basquetebol, a evolução da mulher no desporto, todas as raparigas, principalmente as portuguesas, podem olhar para mim e saber que é possível”, afiançou.
Atualmente dedicada ao agenciamento de jogadores, a ex-base, com 100 desafios pelas várias seleções portuguesas, disputou quatro jogos ‘All Star’, entrou por três ocasiões no ‘cinco’ ideal e foi em sete épocas líder de assistências, estatística na qual é a segunda melhor de sempre, com 2.599, quatro anos depois de ter sido superada por Sue Bird.
Igual lastro também aporta em roubos de bola, com 764, numa prova em que foi incluída duas vezes na equipa do ano e, desde 2016, no ‘top-20’ de basquetebolistas dos 20 anos inaugurais da WNBA, para lá das aventuras em solo europeu (Polónia, Itália, França, Rússia, Letónia, República Checa e Turquia) assim que acabava a época nos EUA.
“Ninguém me tocou com uma varinha mágica quando eu nasci. Este é o fruto de muito trabalho, dedicação e sacrifício para conseguir chegar ao topo. Acho que é importante esse papel de ser um exemplo para muita gente, principalmente para a juventude portuguesa”, enalteceu Ticha, apelidada de ‘Lady Magic’ pelo ídolo Magic Johnson.
Nascida na Figueira da Foz, lançou-se na ribalta através de Ginásio Clube Figueirense e União Desportiva de Santarém e embarcou no ‘sonho’ americano em 1994, estudando comunicação enquanto alinhava pela Old Dominion University, para, ao fim de quatro anos, entrar na elite da modalidade como segunda escolha da primeira ronda do ‘draft’.
“Fui um bocado às escuras. Não tinha ninguém que tivesse feito o que fiz antes de mim e, às vezes, somos pioneiros em certas coisas. Ter, não só a mim, mas também a Mery Andrade e agora o Neemias Queta a conseguir ser escolhido no ‘draft’ são exemplos espetaculares para a juventude continuar a dar tudo e a acreditar nos sonhos”, reiterou.
O poste Neemias Queta tornou-se em julho o primeiro português a ser escolhido no ‘draft’ da NBA, após três épocas nos Utah State Aggies, e vai iniciar a carreira profissional com os Sacramento Kings, instalados na capital da Califórnia, onde brilhou Ticha Penicheiro.
“Trocámos algumas mensagens. Muitos querem estar na posição dele e queriam estar na minha, mas não é para todos, sobretudo na WNBA, em que só jogam 144 atletas. Claro que existem mais equipas e chances na NBA, mas, às vezes, o mais fácil é ser escolhido e o mais difícil é ter uma carreira longa e evoluir todos os dias, meses e anos”, concluiu.
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