A Federação Portuguesa de Basquetebol (FPB) anulou todas as competições em 29 de abril, devido à pandemia de covid-19, sem títulos atribuídos nem despromoções, mas Ovarense e Carnide, os dois últimos classificados da competição feminina optaram pela descida.
À data da interrupção, a formação de Ovar ocupava o 11.º e penúltimo lugar, com os mesmos 25 pontos do lanterna-vermelha Carnide Clube, mas também das equipas que o antecediam na competição, casos de Guifões e CAB Madeira.
Quatro jogadoras ouvidas pela Lusa dizem que a direção já tinha definido o desfecho antes de o campeonato ter sido dado como concluído, numa decisão que consideram “injusta”, denunciando discriminação de género dentro do clube.
Confrontado pela Lusa, o presidente da Ovarense, Rui Palavra, não rebateu os exemplos de desigualdade apontados pelas basquetebolistas, admitindo que, no atual contexto, também a equipa masculina "terá razões para críticas se lhe derem oportunidade disso".
"Não se tratou de escolher entre homens e mulheres, tratou-se apenas de escolher salvar o próprio clube", frisou Rui Palavra, assinalando as "débeis condições financeiras" do clube, agravadas com as quebras de bilheteira e de patrocínio motivadas pela pandemia de covid-19.
Com "cerca de 100 mil euros de dívida" acumulada, a direção da Ovarense decidiu poupar para liquidar esses débitos em duas épocas, despediu quatro funcionários, para poupar cerca de 60 mil euros por ano, e desistiu da Liga feminina, reduzindo o orçamento de 31 para oito mil euros.
Rui Palavra assegurou que os cortes também afetam os homens, com uma redução do orçamento em 40%, mas, mesmo assim, “cinco vezes mais” do que o previsto para a formação feminina.
"São eles a gerar a principal receita", frisou o dirigente vareiro, recordando que os jogos da equipa masculina, quatro vezes campeã nacional, têm receita de bilheteira e uma assistência média de 1.500 espetadores, ao contrário dos femininos, "gratuitos e com 200 pessoas na bancada".
Sem confirmar se o investimento na equipa B masculina é semelhante à feminina, Rui Palavra realçou a importância da formação secundária como “trampolim dos sub-18”.
Há um ano na presidência do emblema de Ovar, Rui Palavra reconheceu ter conferido “melhores condições” à equipa feminina.
"Notava-se que havia alguma separação, quase como se as equipas feminina e masculina fossem dois clubes diferentes, e eu tentei corrigir isso dentro do possível. Claro que as raparigas prescindirem da Liga não é justo. Ao pensar o clube como um todo, vai haver injustiças e desigualdades, mas isso é a realidade - não vivemos num mundo ideal", defendeu.
Para dificultar, o clube, num concelho com mais de 55 mil habitantes, conta com cerca de 1.700 associados, mas apenas 400 pagantes.
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