O cabo-verdiano Hélder Semedo veio viver para Portugal, aos 16 anos, por motivos familiares, e procurou jogar no Sport Algés e Dafundo, mas uma imposição da Federação Internacional de Basquetebol obrigou-o a esperar 16 meses para se estrear.
Foi a 5 de janeiro que Semedo, hoje com 18 anos, fez os seus primeiros cinco minutos de jogo na 1.ª divisão de basquetebol. E foi o culminar de 16 meses de treino e de um longo processo, segundo Pedro Catita, diretor da secção de basquetebol do Sport Algés e Dafundo, junto da Federação Internacional de Basquetebol (FIBA).
"A FIBA pedia três mil francos suíços, cerca de 2.600 euros, para validar a inscrição do Hélder, uma vez que ele tinha jogado num clube em Cabo Verde e era menor", explica Catita à agência Lusa.
Atendendo à impossibilidade de pagar a verba, o clube, com a colaboração da Federação Portuguesa de Basquetebol, apresentou mais documentação a provar a "autorização da mãe de Hélder Semedo e a residência em Portugal, onde estudava, estava integrado e gostava de jogar basquetebol”.
"Mas a FIBA manteve a exigência ‘cega' e nem todos os processos são ‘chapa cinco'", defende o diretor, alertando para a "situação castradora para muitos jovens estrangeiros que residem em Portugal e só querem fazer desporto."
Depois de uma época no Clube Desportivo ABC de Cabo Verde, Semedo viu-se obrigado a acompanhar a mãe e irmã mais nova que, por problemas de saúde, veio para Portugal procurar tratamento.
Uma vez estabelecido na Buraca e a frequentar a Escola Secundária Dr. Azevedo Neves, o estudante de Ciências e Tecnologia procurou o Sport Algés e Dafundo e, durante cerca de um ano e meio, treinou nos sub-18, mesmo sabendo que não podia jogar. O sonho era entrar em campo.
"O Hélder é um exemplo para a nossa sociedade consumista e individualista. Teria sido mais fácil desistir, mas ele lutou sempre para fazer aquilo que mais queria. Tenho muito respeito por ele, como pai, como treinador e como homem", reconhece Jorge Bruno, atual treinador do poste na equipa sénior masculina.
Quem o recebeu foi, contudo, Pedro Marques, treinador dos sub-18, e recorda-se do episódio "pouco comum de um jovem querer começar a treinar, na fase final da formação."
"Mas foi uma agradável surpresa. Era um jovem grande, calado e com muita vontade de aprender, apesar de algumas lacunas, o que era normal, porque só tinha jogado ocasionalmente. Treinava semana após semana e era considerado como os outros jogadores, pela sua conduta e atitude. Foi perseverante e teve a sua oportunidade", destaca Marques.
Já Hélder Semedo não esconde a "tristeza por não poder jogar”, mas, “como gostava de basquetebol”, treinava e esperava pela maioridade.
"É desmotivante, mas a minha mãe, os meus colegas e treinadores apoiavam-me e eu tinha a esperança de, aos 18 anos, poder jogar. Pensei em desistir, mas não tive coragem", reconhece o antigo aspirante a futebolista que, por ter atingido 1,97 metros, tornou-se "lento" e dedicou-se ao basquetebol, em Cabo Verde.
Após "perder um ano e meio”, em que, segundo Pedro Marques, "poderia ter tido uma evolução importante a jogar", Hélder Semedo foi integrado na equipa sénior e, depois de fazer 18 anos a 21 de dezembro de 2019, já entrou em dois jogos.
"Ele estava muito nervoso, ansioso e cometeu alguns erros, o que é normal. Mas contra o Estoril BC jogou dez minutos e marcou os seus dois primeiros pontos", conta Jorge Bruno, considerando o poste "humilde, respeitador, trabalhador e com valores raros hoje em dia”.
“Um diamante em bruto, com um basquetebol de rua, que precisa de adquirir capacidade de leitura e perceção de espaços, mas com potencialidade de ser jogador de basquetebol", analisa.
Uma missão que Hélder Semedo traçou para a sua vida. "Estava nervoso e com medo de errar, mas senti-me realizado! No segundo jogo, joguei melhor, senti-me mais confiante e leve. O meu sonho é ser jogador profissional", conclui o admirador do grego Giannis Antetokounmpo.
Comentários