Pedro prometeu, Pedro cumpriu. O luso-cubano Pedro Pablo Pichardo venceu a medalha de ouro na prova do triplo salto masculino, nos Europeus multidesportos que decorrem em Munique. O triplista português não deu hipóteses à concorrência e fixou o seu melhor salto em 17.50, na pista do Estádio Olímpico de Munique.
O atleta do triplo salto junta assim o título europeu aos olímpico e mundial.
A prata ficou para o italiano Andrea Dallavalle, com 17.04 metros, e o bronze para o francês Jean-Marc Pontvianne, com 16.94m. Andrea Dallavalle, campeão europeu sub-23 em 2021, ficou a 46 centímetros do português, o francês Jean-Marc Pontvianne, ficou a 56 centímetros. Dominador, de facto!
Tiago Pereira terminou no oitavo posto.
Esta é a terceira medalha de Portugal nos Europeus multidesportos que decorrem em Munique, depois do ouro do ciclista Iúri Leitão, que se sagrou campeão europeu de scratch, no ciclismo de pista, e da prata, de Auriol Dongmo no lançamento do peso.
Pichardo nem deu hipóteses à concorrência
Pichardo tinha chegado a Munique como favorito, depois de se sagrar campeão do Mundo a 24 de julho em Eugene, EUA. O português, líder do ranking europeu, ostentava a melhor marca do ano entre os 12 saltadores no concurso: 17.95 metros, ele que tem como recorde pessoal 18.08m.
O português abriu as hostilidades com a liderança logo ao primeiro salto, com 17.05m, contra os 16.66 de Ben Williams (Inglaterra) e 16.02 de Jesper Hellström (Suécia). Numa primeira ronda com vários nulos (sete), entre eles o de Tiago Pereira, o outro português na final, Pichardo avisou a concorrência que o ouro já tinha dono. E reafirmou essa pretenção no segundo ensaio, ao saltar 17.50 metros, numa altura em que era o único com saltos de 17 metros. Tiago Pereira fez 16.56 metros no segundo ensaio.
Depois, no terceiro ensaio, Pichardo fez nulo e viu um dos principais adversários, o italiano Andrea Dallavalle subir ao segundo posto mas com um salto de 16.81m, longe da marca do português.
No quarto ensaio acabou por abdicar, depois de ver os principais concorrentes fazerem nulo. Tiago Pereira melhorou a sua marca em um centímetro, ao saltar 16.60m no quarto ensaio, o que lhe valia o oitavo registo na altura.
Ao quinto ensaio, o italiano Andrea Dallavalle tornou-se no primeiro a passar dos 17 metros, depois de Pichaardo. O transalpino saltou 17.04 metros e passou para o segundo lugar da geral.
Já Tiago Pereira fez nulo no último ensaio e terminou no oitavo posto da geral.
Pichardo, que tinha abdicado do quinto salto, fez nulo no último por muito pouco, num salto que seria de 17.70, já depois de saber que tinha conquistado o ouro, numa altura em que os principais concorrentes já tinham terminado a sua prova.
Pichardo volta a voar pelo ouro para Portugal
Já em Eugene, EUA, Pedro Pablo Pichardo tinha-se tornado no sétimo português campeão do mundo em atletismo, o segundo no triplo salto, juntando o cetro mundial à medalha de ouro olímpica, depois de ter sido adotado, pelo país e pelo Benfica.
O saltador nasceu em Santiago de Cuba, no dia 30 de junho de 1993 e, desde cedo, mostrou que estava reservado para grandes voos. O maior, até agora, foi alcançado na final do triplo salto dos Jogos Olímpicos Tóquio2020.
Repetiu o feito no emblemático Hayward Field, em Eugene, a 'cidade do atletismo' dos Estados Unidos, onde sucedeu ao seu maior rival, o norte-americano Christian Taylor, quatro vezes campeão do mundo, afastado da final que consagrou Pichardo, agora já campeão de tudo a nível mundial ao ar livre - Jogos Olímpicos, Mundiais e Liga de Diamante (2018).
No triplo nacional, sucedeu a Nelson Évora, que conquistou quatro medalhas em Mundiais.
Campeão do mundo de juniores em 2012, vice-campeão absoluto no ano seguinte, juntou-se em 2015 ao lote exclusivo de triplistas que 'voaram' mais de 18 metros, ao lado do recordista mundial Jonathan Edwards, aos norte-americanos Christian Taylor, Will Claye e Kenny Harrison e ao francês Teddy Tamgho.
O saltador do Benfica fixou em Tóquio2020 o recorde nacional em 17,98 metros, apesar de ter como melhor marca pessoal os 18,08 metros alcançados em maio de 2015, quando ainda competia com a nacionalidade cubana.
Os 18,29 de Edwards são, talvez, o maior desafio que 'falta' a Pichardo, que já prometia na zona mista dos Mundiais: "Eu vou tentar, vou tentar. Estou em boa forma física. Se a saúde já está boa, vou lutar até ao último salto".
Depois dos dois segundos lugares em Moscovo2013 e Pequim2015, ainda como cubano, e do quarto lugar em Doha2019, na primeira presença como português, tentou, conseguindo 17,95 metros, num concurso em que fixou as duas melhores marcas do ano - saltou também 17,92 - e nunca baixou dos 17 metros.
Uma resultado alcançado um ano depois de ter cumprido em Tóquio a estreia olímpica - ficou afastado do Rio2016, então por decisão dos médicos da seleção cubana, devido a uma microfratura num tornozelo.
Pichardo não aceitou bem, desentendeu-se com a federação, que não o deixava ter o pai como treinador, que ainda hoje o orienta, e foi suspenso. Em abril de 2017, desertou de um estágio da seleção em Estugarda, na Alemanha, rumou a Portugal, onde foi acolhido como refugiado e assinou pelo Benfica, graças à intervenção da responsável pela modalidade, e também antiga saltadora, Ana Oliveira.
O então cubano era a resposta à transferência de Évora para o rival Sporting e, sete meses depois, em 13 de novembro de 2017 (um dia antes de nascer a filha), naturalizou-se português - um processo que só ficou concluído para a federação internacional em outubro do ano seguinte -, tendo, na estreia com as cores nacionais, sido quarto nos Mundiais de 2019, antes de conquistar o título de campeão europeu em pista coberta de 2021.
Um pouco avesso a entrevistas, apreciador do Algarve, que lhe faz lembrar a sua terra natal, e da comida portuguesa, à exceção do tradicional bacalhau, a Pichardo gabam a concentração, foco e "enorme sentido de humor".
"O Pedro é muito inteligente e tem uma enorme capacidade de aprendizagem e decisão. É um autodidata e gosta de ser autónomo, o que lhe permitiu também uma mais fácil e maior adaptação à nossa sociedade. Ele adora Portugal, é extremamente cuidadoso e exigente consigo próprio. Costuma dizer que só gostava que fôssemos menos burocráticos, mas quem não gostaria", descreveu a diretora do projeto Benfica Olímpico, Ana Oliveira.
No Hayward Field, em Eugene, juntou o seu nome aos de Fernanda Ribeiro, Manuela Machado, Carla Sacramento, Inês Henriques, Rosa Mota e Nelson Évora, entre os portugueses campeões do mundo no atletismo, depois de já integrar o 'Olimpo', com Carlos Lopes, Rosa Mota, Fernanda Ribeiro e Nelson Évora, com a medalha de ouro de Tóquio2020, conquistada no ano passado.
Agora, em Munique, juntou o título europeu, que já conquistou em pista coberta, ao Olímpico e Mundial.
*Com Lusa
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