O treinador nacional de marcha atlética, Paulo Murta, considerou, à agência Lusa, que a World Athletics anda aos “esses” nas distâncias da disciplina, depois de aprovar nova mudança para 2026.

Na quarta-feira, o Conselho da World Athletics aprovou a alteração nas distâncias das provas seniores de marcha, com os 20 quilómetros a passarem a ser uma meia maratona (21,0975 quilómetros) e os 35 uma maratona (42,195), com os Mundiais de sub-20 a ser disputada uma corrida de cinco quilómetros, metade da atual distância.

“Isto é o andarmos aos esses, não é? O facto de serem 20 quilómetros ou serem 21,0975 a diferença é mínima. [...] Daí não vejo problema. Agora, os 50 sempre foram a distância mítica da marcha. E é diferente fazer 40 do que fazer 50 e é diferente fazer 35 do que é 50. Não consigo entender porque se passou para 35, depois passou-se para a maratona estafeta de 10 quilómetros. E agora, volta-se outra vez a fazer 42, que não são os 50, que é a mítica distância, já com 100 anos de olimpismo”, afirmou.

Paulo Murta disse que não sabe “o que é que se pretende, porque volta a ser quase a mesma questão que se punha quando pensaram nos 35 quilómetros”, distância que favorece mais os atletas do 20 quilómetros do que os dos 50, porque “treinando um pouco mais são os que têm a maior vantagem nessa distância”.

“Verificámos que no primeiro Mundial em que isto foi implementado, em femininos [a campeã] dobrou, foi duplamente campeã nos dois Mundiais que se realizaram, e nos masculinos, um foi duplo e os outros não foi porque não participaram. Porque se os melhores de 20 estão lá, têm muito mais vantagem para os 35 do que os que eram de 50”, referiu.

O treinador da ex-marchadora Ana Cabecinha lembrou a decisão de fazer uma estafeta mista nos Jogos Olímpicos Paris2024, que “não foi, se calhar, a melhor opção”, até porque “não há continuidade”, uma vez que nos próximos Mundiais voltam os 35 quilómetros, não se sabendo quais serão as distâncias para Los Angeles2028.

“Esta nova mudança, efetivamente, é tentar colocar na marcha o que se faz na estrada. Nomeadamente, tentar, é a minha opinião ainda muito quente, aproveitar organizações de estrada já implantadas, quer na meia maratona, quer na maratona, e fazer essas distâncias”, afirmou.

Contudo, Paulo Murta diz que caso seja esta a ideia possa “trazer alguns constrangimentos”, sobretudo ao nível do ajuizamento, pois deixa de ser feito em circuito, tornando mais difícil que este seja “o mais correto possível e justo”.

“Isso é a maior dificuldade de como é que nós técnicos conseguimos cativar um jovem com uma perspetiva de carreira, porque ele nunca sabe o que é que vai ter. Não sabe o que é que vamos ter neste ciclo olímpico e o que é que vamos ter no ciclo seguinte”, referiu, lamentando ainda a redução das provas de juniores.