Os atletas da seleção portuguesa de atletismo estão hoje a chegar em grupos a Budapeste, para disputarem os Campeonatos do Mundo, que começam no sábado e se prolongam até dia 27, muitos deles sem as suas bagagens.

Na véspera de se tornar no atleta com mais presenças em Mundiais, com a 13.ª participação igualando o espanhol Jesus Bragado, o veterano marchador João Vieira, de 47 anos, chegou à capital húngara com as sapatilhas para a competição e pouco mais.

Apressado, escusou-se a entrar em detalhes sobre a atribulada viagem desde Lisboa, iniciada na quinta-feira, com uma escala e uma pernoita forçada em Frankfurt, na Alemanha, e um voo alternativo via Viena, após chegar à capital húngara pelas 16:00 locais (17:00 em Lisboa).

O atleta do Sporting vai ser o primeiro dos 28 portugueses a entrar em prova em Budapeste2023, no sábado, nos 20 quilómetros marcha, que têm tiro de partida, na Praça dos Heróis, às 08:50 locais (07:50).

Mais tranquila, por competir apenas no domingo, mas também “mais leve”, a lançadora do disco Irina Rodrigues, apesar dos contratempos, não escondeu a satisfação por disputar os seus sextos Mundiais consecutivos, agora já com o percurso académico concluído.

“Sou uma Irina mais leve, não só por ter perdido peso, mas por meter saído o peso de concluir o mestrado integrado em Medicina. Já esperava, há muito tempo, que este dia chegasse e estou muito feliz por isso”, vincou a atleta, de 32 anos.

A lançadora natural de Leiria promete empenho para conseguir melhorar os seus mais recentes desempenhos, depois dos 23.ºs lugares em Oregon2022 e Doha2019, tendo como melhor classificação o nono posto na estreia, em Moscovo2013.

“O objetivo é esse, tentar fazer um bom resultado. Sinto-me bem, estou saudável, estou grata, e quando é assim, acho que as coisas podem acontecer”, afirmou.

Irina Rodrigues assumiu-se como sortuda, por ter trazido a mala consigo do aeroporto, recordando as tropelias da viagem da comitiva lusa.

“Nós partimos para Frankfurt num voo atrasado. Quando chegámos, tínhamos tempo para a ligação para Budapeste, mas houve falta de ‘staff’ e foi cancelado. Ficámos num hotel, com o objetivo de estar no aeroporto muito cedo para tentar um voo e conseguimos vir num voo direto, porque, apesar de a FPA ter comprado viagens por Viena, a Lufthansa conseguiu ‘encaixar’ alguns neste avião”, explicou Irina Rodrigues.

Tudo isto acabou por conferir pouco descanso e alguma ansiedade aos atletas, segundo a lançadora.

“Dormimos muito pouco. Eu dormi cerca de quatro horas, não almocei e estou stressada porque tive muitas horas em viagem. Não são as condições ideais, mas estou aqui, está tudo certo, e tenho de ficar grata por isto”, referiu.

Já Francisco Belo não teve a mesma sorte e também viajou sem bagagem, apesar de competir no sábado, no concurso do lançamento do peso, juntamente com Tsanko Arnaudov.

“Em termos físicos, esta viagem pode ter consequências negativas, porque dormimos poucas horas, alimentamo-nos um pouco pior, podemos desidratar e estamos mais algum tempo em pé. Já a parte psicológica, acho que conseguimos saltar muito por cima. Somos muito adaptáveis e, em princípio, nada vai alterar o nosso desempenho, por ser tão em cima da prova”, explicou Belo, também ele formado em medicina.

O lançador do Benfica, natural de Castelo Branco, declarou-se apto para enfrentar os seus terceiros Mundiais.

“Houve um problema com as malas, a minha não chegou, mas eu trouxe o material de competição comigo, por isso, estou pronto para competir, estamos em viagem desde às 12:00 de ontem [quinta-feira] com a sensação de que foi apenas um dia muito longo. Agora posso descansar e, amanhã [no sábado], vou estar pronto para dar o meu melhor por Portugal”, assegurou Belo.

Isto enquanto, no hotel da seleção portuguesa, se aguardava as bagagens e se procurava uma alternativa, com recurso ao comércio local, para suprir, por exemplo, os abastecimentos e os equipamentos entretanto ainda em trânsito.