Em entrevista à Lusa, o diretor do Instituto Português de Administração de Marketing (IPAM) enalteceu a tendência de subida da representação feminina no número de atletas federados a nível nacional entre 2014 e 2017, segundo os dados do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ), em que ascende já a 30% do total de 624.001 praticantes registados no final do último ano.
"Estes números vão aumentar nos próximos anos e as coisas vão caminhar cada vez mais para uma paridade. Há dois fatores muito importantes para o crescimento: a independência da mulher -- económica, social e cultural -, e a cultura de beleza e juventude permanente que o mundo tem hoje em dia, uma tendência muito clara e com uma indústria muito poderosa", explicou.
Representar cerca de metade da população portuguesa nunca correspondeu a uma representação fiel das mulheres no desporto português. No entanto, o equilíbrio não se estabelece de um dia para o outro, advertiu Daniel Sá, apesar de frisar que "os clubes, agentes e organizadores de eventos olham para esse mercado com um potencial muito interessante" e com novas estratégias de comunicação.
"A questão da igualdade não se resolve apenas com a discussão pública do assunto, às vezes demora gerações. Do lado do consumo via espetadores, penso que tem acontecido exatamente o mesmo, ou seja, o interesse das mulheres é cada vez maior. Quer do ponto de vista da prática, quer do ponto de vista do consumo, são mercados muito importantes", explicou.
Sem conseguir quantificar de imediato a dimensão económica que 185.280 atletas federadas têm ou o valor de muitos milhares que praticam ainda desporto regularmente sem se filiarem numa federação, o professor universitário observa que é preciso uma ação abrangente para mudar a imagem da competitividade no desporto feminino, nomeadamente no futebol, a modalidade mais mediática, ainda que apenas a oitava entre as atletas federadas, entre as quais se inclui também o futsal.
"Por um lado, em algumas modalidades o desporto feminino é menos interessante do que o masculino e, portanto, o produto é inferior e de menor qualidade. Por outro lado, a sociedade, por questões culturais e sociais, está mais interessada em consumir desporto masculino do que feminino. Tem de se atuar nos dois níveis em simultâneo e leva o seu tempo", notou.
Por fim, Daniel Sá salientou o exemplo do atletismo como uma modalidade não estereotipada por um género em relação a outro, muito por força do que designa por "o culto das estrelas", cuja influência contribui para um equilíbrio saudável.
"Sempre tivemos grandes vedetas femininas e masculinas. O culto de personalidades, como a Rosa Mota ou a Fernanda Ribeiro, aumenta o interesse. São atletas que, pela sua performance desportiva, ajudaram a colocar as coisas ao mesmo nível", concluiu.
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