Na conversa via Internet "O Desporto em Saltos Altos" participaram a piloto Elisabete Jacinto, a ex-basquetebolista Ticha Penicheiro, a cavaleira Marina Frutuoso de Melo e a diretora da Federação Portuguesa de Futebol Mónica Jorge, que sublinham terem sido dados passos largos para contornar esses obstáculos, mas acrescentam haver ainda muito a fazer.
"Nós vivemos numa sociedade muito marcada pelo estereótipo. Nós, raparigas, fomos educadas com a ideia de que esta ou aquela tarefa não está ao nosso alcance", realça Elisabete Jacinto, que durante anos sentiu "esse peso" de achar que "estava a mais nas provas", "a fazer uma coisa para a qual não tinha capacidade".
A piloto de motos e camiões no Dakar recorreu à tenacidade, à "dedicação e empenho" para mostrar que era capaz.
"Eu ultrapassei imensas barreiras, mas tinha a convicção de que era capaz. Queria provar que não era por ser mulher que não ia atingir os meus objetivos", acentua a piloto, vencedora da África Eco Race em camiões.
Para Ticha Penicheiro, "é triste" observar que persiste uma mentalidade em que a mulher é vista com apetência para algumas tarefas e em que não é encarada com naturalidade a sua participação em outras. Um problema não apenas no desporto, "mas na sociedade em geral".
"O que podemos continuar a fazer é olhar em frente e a encorajar a nova geração de mulheres para continuarem a batalhar e a terem sucesso", acentua a agora agente de atletas, que afirma nunca ter sentido no seu círculo próximo esse tipo de discriminação, ainda que na Internet leia comentários de pessoas a sugerirem que as mulheres se dediquem à cozinha ou às tarefas domésticas.
Mónica Jorge, ex-selecionadora de futebol feminino e diretora da FPF, manifesta a sua confiança nos pais de quem é agora criança para mudar a mentalidade de que há modalidades femininas e outras masculinas.
"A nova geração de pais em Portugal está a ser fantástica, ao dar liberdade de escolha aos seus filhos para o que querem praticar. É esta geração de pais que está a mudar essa cultura enraizada", salienta Mónica Jorge, que começou a jogar com os primos e amigos na rua.
A cavaleira Marina Frutuoso Melo frisa que pratica uma modalidade mista. Se a primeira das sete vitórias no campeonato nacional causou surpresa, as que se seguiram foram sendo encaradas com toda a normalidade.
O momento mais especial vivido no desporto foi a conquista do título nacional, apenas dez dias após ter sido mãe. "Vencer é resultado de imenso esforço, trabalho. Temos de acreditar que conseguimos. Isso faz a diferença", salienta a cavaleira.
Ticha Penicheiro, durante 15 anos jogadora de basquetebol na WNBA, começou a praticar com os rapazes na Figueira da Foz, por não haver equipa feminina, e sempre quis "mostrar que as raparigas também sabem jogar", remando "contra a maré".
A fórmula que recomenda para todos os desportistas é "sonhar alto" e acreditar e trabalhar para esse sonho. "Nunca ninguém me tocou com uma varinha mágica quando nasci", graceja.
É também essa a mensagem de Elisabete Jacinto, "ter vontade de ser supermulher", porque no processo se vai perceber que se consegue ir além do expectável.
"Se alguma mulher tiver dúvidas que consegue realizar os seus sonhos, que pense eu mim. Eu, uma ‘lingrinhas’ com 54 quilos, consegui conduzir uma mota pelo Dakar fora e depois um camião de 10 toneladas e consegui ganhar", enfatiza. "Se eu consegui, as outras pessoas podem conseguir, porque eu não tinha dons sobrenaturais", acrescenta a piloto.
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