A portuguesa Vanessa Pereira, tricampeã mundial de jiu-jitsu, afirmou à Lusa que o maior desafio em plena quarentena é “manter o peso e o equilíbrio psicológico” para continuar a ter motivação para treinar em casa.
O isolamento social e a quarentena, necessárias para evitar a propagação da COVID-19, vieram afetar a rotina diária da maioria da população mundial e os atletas de alta competição não são exceção, como é o caso de Vanessa, residente na Suíça há 13 anos.
Vanessa Pereira, de 31 anos, é filha de pais cabo-verdianos e pratica jiu-jitsu há mais de 10 anos, na academia Karkara BJJ, na cidade de Renens, na parte francesa da Suíça.
“O meu primeiro contacto com a modalidade foi em Portugal. Tinha 18 anos, trabalhava como segurança numa discoteca, e grande parte dos meus colegas praticavam jiu-jitsu. Foram eles que me motivaram para ir experimentar. A partir daí, ficou o ‘bichinho’”, afirmou a jovem atleta, salientado que foi quando chegou à Suíça que investiu profissionalmente na modalidade.
A atleta lusa conta que “tinha um namorado que treinava jiu-jitsu” e que “um dia” o acompanhou para ir ver uma das suas lutas. “Ver mulheres a lutar, despertou em mim o desejo de me lançar neste desporto”, relatou à agência Lusa.
A atleta consagrou-se campeã mundial três vezes consecutivas no Abu Dhabi World Professional Jiu-Jitsu Championship, nos anos 2015, 2016 e 2017, e conquistou a medalha de prata no ano seguinte, na categoria de -70kg.
“O auge da nossa carreira no jiu-jitsu é dos 20 aos 30 anos, apesar de podermos lutar a vida toda”, afirmou a jovem atleta, sublinhando que chegou onde queria e arrecadou todos os prémios que desejava.
Além das três medalhas de ouro conquistadas em Abu Dhabi, numa das competições de jiu-jitsu mais conhecidas a nível mundial, a jovem lutadora ganhou cinco medalhas de ouro, na categoria até 69 kg, no European Open Jiu-Jitsu Championship, uma competição em que a lutadora participa anualmente, desde 2014, em Odivelas.
“Competir em casa traz-nos outro nível de stresse, até porque tenho sempre a minha família e amigos a assistir. A pressão é bem maior”, reconheceu.
Em plena pandemia provocada pela COVID-19, a atleta de artes marciais tem mantido os treinos em casa, para não perder o ritmo e a forma física.
“O mais difícil nesta fase é manter o peso. Andamos menos, saímos menos e o corpo tem tendência a acumular mais facilmente”, explicou a atleta, reforçando que os primeiros dias foram “os mais difíceis”, porque, segundo a jovem “a motivação em casa é muito menor”.
Desde que se declarou o estado de emergência na Suíça, em 16 de março, a atleta deixou de treinar jiu-jitsu na academia e passou a ser acompanhada à distância por uma treinadora desportiva portuguesa, com quem mantém um plano de nutrição e preparação física online.
“Treino todos os dias de manhã e ao fim da tarde, cerca de 20 horas semanais”, contou a atleta, reforçando que o mais difícil é “manter o peso e o equilíbrio psicológico”.
A campeã afirma que o que mais sente falta em plena quarentena é dos treinos de jiu-jitsu na academia e do contacto com os colegas.
“Na nossa equipa, somos todos muito unidos, até mesmo nas competições. Apoiamo-nos muito e, psicologicamente, isso é extremamente importante”, frisou a portuguesa.
A atleta adiantou ainda à agência Lusa que quer ser mãe este ano, o que a vai levar a fazer uma pausa nas competições no próximo ano.
“O sonho da maioria das atletas femininas é subir um dia ao pódio com os seus filhos nos braços. É o que pretendo fazer para o ano”, admitiu a atleta.
Questionada sobre os seus projetos a longo prazo, a atleta confessou à agência Lusa que ambiciona criar uma academia de jiu-jitsu em Portugal, destinada a vítimas de violência doméstica e mães solteiras.
“O jiu-jitsu ensinou-me a ser uma pessoa mais forte e quero poder transmitir essa mesma força a outras mulheres”, concluí a tricampeã mundial.
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