Muitas linhas já foram escritas sobre como o mundo mudou com a pandemia de COVID-19. É sabido que o vírus impactou todas as atividades humanas e o desporto, enquanto lazer ou indústria, não foi exceção. Quantos de nós foram obrigados a fazer uma pausa nos treinos desportivos, ou a transformá-los numa prática totalmente individual e isolada dos outros? Quantas competições desportivas foram canceladas ou adiadas, como as Olimpíadas de Tóquio?
Ao contrário do que se poderia pensar, devido ao contacto físico total entre os atletas praticantes, o UFC foi uma das raras organizações desportivas a nível mundial que fez regressar rapidamente a alta competição aos ecrãs dos telespectadores. Apesar de alguns percalços iniciais, que envolveram o adiamento de eventos e o cancelamento de combates devido ao teste positivo de COVID-19 de alguns atletas, o MMA regressou diferente mas a todo gás.
Nesta nova Era sem público nos recintos e com muitas máscaras a serem usadas pelo staff dos eventos, Abu Dhabi substituiu temporariamente Las Vegas e tornou-se na nova capital mundial dos desportos de combate, graças à Fight Island do UFC. A fazer lembrar o filme “Enter the Dragon”, protagonizado por Bruce Lee, a nova arena de Dana White recebeu fight cards de luxo, recheados com disputas de título que tiraram a barriga de misérias dos fãs de MMA.
O UFC provou toda a sua maturidade e experiência na organização de grandes eventos desportivos e conseguiu reunir condições (logísticas, sanitárias, etc.) excecionais em tempos excecionais. A própria gestão da promoção dos eventos ganhou um novo fôlego através da construção de narrativas de confronto em geografias distantes e inóspitas, à semelhante dos clássicos do boxe dos anos 70 do século XX “The Rumble in the Jungle” e “Thrilla in Manila” com Ali, Foreman e Frazier.
Contrastando com o UFC, a segunda mais importante promoção desportiva de MMA, foi duramente afetada pelo contexto. Depois de uma longa paragem de quase meio ano, o Bellator regressou no passado dia 24 de julho, com um fight card bem mais tímido que os seus congéneres. Neste sentido, o porta-estandarte português Pedro Carvalho continua a aguardar ansiosamente a sua grande oportunidade de disputa do título com Patrício “Pitbull” Freire.
Como acontece em qualquer crise pandémica de larga escala, lamentam-se as perdas de vidas. Uma delas foi o falecimento precoce de Abdulmanap Nurmagomedov, que deixou o mundo dos desportos de combate e artes marciais de luto. Abdulmanap Nurmagomedov foi um dos melhores treinadores de MMA do mundo. No seu currículo lê-se Master of Sports em Luta Livre Olímpica pela URSS, especialista em Sambo e em Judo, mas Abdulmanap foi muito mais do que isso. Foi o pai e treinador de um dos melhores de sempre - Khabib Nurmagomedov - e responsável pela formação de uma geração de ouro vinda do Daguestão, encabeçada por nomes como Islam Makhachev, Rustam Khabilov, Shamil Zavurov e muitos outros.
Apesar de todas as transformações, o MMA que floresce nesta nova Era está a tornar-se cada vez mais interessante. Estão confirmados os combates dos já estabelecidos super campeões Khabib, Daniel Cormier e Adesanya. E, de entre os grandes combates que ocorreram recentemente, criaram-se novas estrelas: os recém-titulados campeões Petr Yan e Deiveson Figueiredo; o renascido e mediático Jorge Masvidal; e os rookies Sean O’Malley e Khamzat Chimaev, um jovem checheno que tem marcado a agenda com performances incrivelmente dominantes e uma confiança sem limites. O futuro parece estar assegurado com uma cada vez maior constelação de atletas de topo que povoam os densos rankings das divisões de peso do UFC.
David Pimenta
Gestor e Politólogo, autor do blogue “Fight Corner” (https://fightcorner.blogs.sapo.pt/)
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