O olímpico Rui Bragança, o melhor atleta da história do taekwondo português, manifestou-se hoje “injustiçado” e “indignado” por falhar, pela primeira vez desde 2010, a seleção para o mundial, “apesar de ser o melhor português da categoria”.
“É tristeza, sentir-me injustiçado. Indignado. Saber que cumpro todos os requisitos em termos de qualidade. O que está ao meu alcance cumpri com tudo o que é possível. Não estar lá mesmo sendo o melhor da minha categoria, é tristeza e indignação”, vincou o campeão nacional na classe de -58 kg.
Em declarações à Lusa, Rui Bragança, olímpico no Rio2016 e em Tóquio2020, critica o regulamento da nova federação, considerando-o “muito mais virado para as provas nacionais” e, assim, impeditivo de que os desportistas apostem nas “principais competições internacionais”.
Exemplificou com o facto do campeonato nacional valer 120 pontos e um regional 40, enquanto o feito de ser número um do ranking mundial vale somente 50: de igual modo, um open luso com mais de 100 participantes, em todos os escalões, equivale-se a provas pontuáveis para o ranking mundial, com outra exigência.
“Até se pode ter apenas dois atletas numa categoria e fazer um combate (em Open português) que vale o mesmo que uma medalha de ouro no Open de Paris com cinco ou seis combates contra atletas de grande nível. Ou se faz uma preparação para um campeonato do Mundo ou para campeonato nacional e opens pequenos e tudo o que isso implica”, ilustrou.
Rui Bragança, de 31 anos, recordou os “momentos difíceis” que o taekwondo português tem vivido, recuperando o estatuto de utilidade pública apenas no início de 2023 depois de anos sem o ter, entendendo que a nova federação “não tem noção do erro gigante que está a cometer”.
Além de Rui Bragança, também Júlio Ferreira vai ficar fora do Mundial de Baku, de 28 de maio a 06 de junho, enquanto Joana Cunha, que completa o trio de eleição do taekwondo luso nos últimos anos, não tem qualquer adversária menos experiente na sua frente.
“Somos os únicos três atletas com medalhas no circuito europeu e mundial, com combates ganhos em europeus e mundiais. E os únicos no ativo a participar em Grand Prix, destinados ao top 32 do ranking olímpico. Se isto não é um critério de qualidade, não sei o que possa ser”, vincou, criticando um sistema que nem lhe permitiu ficar a menos de 20 pontos do seu rival, com o qual teria direito a discutir a presença em Baku.
Gonçalo Lopes é o eleito na sua categoria de -58 kg, enquanto Tiago Lopes superou Júlio Ferreira em -80 kg na lista para o Mundial.
Rui Bragança destacou o apoio que tem do Comité Olímpico de Portugal na preparação olímpica, pois está incluído no projeto, enaltecendo ainda a atitude do Benfica, que tem estado “incondicionalmente” do seu lado ao longo destes “anos conturbados” do taekwondo.
“Da minha parte as coisas estão muito bem esclarecidas e a minha prioridade é apuramento para os Jogos Olímpicos onde espero que as coisas me corram muito, muito bem. Se a federação continuar com estas brincadeiras, vai depender deles. O meu plano está delineado, agora é ver o que eles vão aprender no Mundial. Estou aqui para competir, as políticas não podem ser para mim. Já tenho trabalho que chegue”, desabafou o médico.
Rui Bragança diz que não lhe passava pela cabeça falhar o mundial quando em Portugal “não há qualquer adversário” do seu gabarito no ranking mundial ou olímpico, desafiando a federação a rever o caminho que está a traçar a bem “dos atletas e do futuro da modalidade”.
O apuramento olímpico faz-se através de ranking e, posteriormente, através de uma segunda oportunidade em prova final: o Mundial atribui pontos para classificação direta para Paris2024 e, mesmo que esta não seja conseguida por esta via, reservada aos cinco melhores, constitui ajuda importante mais tarde no sorteio dos combates para o último evento decisivo, de onde, na Europa, saem mais dois.
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