Foi este domingo que a aventura de Portugal no Mundial de andebol no Egito conheceu o seu epílogo, 18 anos depois da última participação. Contudo, os 'Heróis do Mar' fizeram história ao arrecadarem o 10.º lugar, a melhor classificação de sempre em Campeonatos do Mundo.
A equipa das 'quinas' foi derrotada, por uns concludentes 32-23, frente à poderosa França e viu assim cair por terra o sonho de chegar a uns inéditos quartos de final.
Portugal acabou por ficar no terceiro lugar do grupo atrás de franceses (10 pontos) e noruegueses (oito), num Mundial onde somou quatro vitórias e duas derrotas.
É inegável que o andebol português tem tido uma grande evolução nos últimos anos - e este Mundial só serviu para confirmar que o 6.º lugar no Europeu de 2020 não foi um acaso. Ao SAPO Desporto, o presidente da Federação de Andebol de Portugal (FAP), Miguel Laranjeiro, considera que a equipa das 'quinas' fez uma participação que muito orgulha os portugueses.
"Todos vimos com grande orgulho a participação da seleção no Mundial. Há 18 anos que não estávamos presentes numa competição deste nível e estivemos a jogar com os melhores dos melhores. Todos queremos chegar mais longe pela postura, pela ambição. O que a seleção demonstrou nesta semana no Egipto, o país ficou a ganhar com a esta presença de Portugal no Mundial de Andebol", começou por dizer, destacando "a ambição, o trabalho e compromisso" da seleção liderada por Paulo Jorge Pereira.
"É esta mudança que se está a operar nestes últimos anos que é muito relevante. Para chegarmos ao topo temos que estar entre os melhores. É o que tem acontecido com esta geração excecional liderada pelo selecionador nacional Paulo Pereira que tem conseguido interpretar aquilo que deve ser a postura no desporto: ambição, trabalho, compromisso com o país e com a seleção e isso tem acontecido. E todos temos um orgulho imenso neste trajeto."
As exibições frente à atual vice-campeã mundial Noruega (derrota por um golo) e frente à poderosa França fazem com que Portugal hoje esteja em condições de se bater contra as melhores seleções do mundo. É essa também a convicção do líder federativo. "A abordagem dos atletas que vão para uma competição destas hoje em dia é completamente diferente. Hoje em dia, para Portugal, nenhuma equipa adversária é um 'bicho de sete de cabeças'. Essa atitude, essa capacidade de olhar para o jogo e para um competição tem evoluído de uma forma extraordinária", destaca.
Apesar da eliminação e um jogo menos conseguido frente aos gauleses, a seleção já pensa em outros voos e o objetivo passa já pela qualificação para o Euro 2022, assim como a participação, já este ano, nos Jogos Olímpicos de Tóquio, algo que "seria um sonho para qualquer atleta."
Miguel Laranjeiro: "Para chegarmos ao topo temos que estar entre os melhores"
"Temos uma equipa com elementos jovens, temos uma capacidade de progressão que importa aqui realçar. Estas presenças com regularidade em fases finais de competições é importante para o crescimento das seleções, da equipa e de toda a estrutura. E este ano temos já dois desafios nos próximos tempos: um é garantir definitivamente o apuramento para o Europeu de 2022 daqui a um ano e a abordagem para o torneio pré-olímpico. Estar presente numa competição como os Jogos Olímpicos é o sonho de qualquer atleta, o sonho de qualquer equipa e portanto estamos já muito focados e determinados em abordar estes dois desafios que vão estar agora pela frente", destacou o líder federativo.
"Nesta equipa os atletas têm um profissionalismo e uma dedicação e uma compreensão da realidade extraordinária. Não é por perderem um jogo ou dois que alteram os seus objetivos, reforçam sim o compromisso, os objetivos e o empenho com a mesma determinação de sempre", completou.
Laranjeiro considera ainda que o papel do selecionador Paulo Jorge Pereira tem sido decisivo nos recentes sucessos da equipa portuguesa, destacando a "simbiose entre Federação, atletas e clubes", na medida em que têm todos remado para o mesmo lado.
"Foi fulcral sim, tem havido aqui uma simbiose muito importante com o selecionador nacional que tem sabido interpretar quer por um lado a ambição de uma Federação e a ambição dos atletas. Estamos todos focados no mesmo objetivo e isso é a chave de qualquer sucesso. Temos estado todos a trabalhar para o mesmo objetivo, é por isso que também aparecem os resultados. Esperamos já daqui um ano estar num Europeu, naquela que será a terceira fase final consecutiva e isso só se consegue com trabalho, ambição, coordenação, cooperação entre todos, também com os clubes que têm aqui também um papel extraordinário de trabalho permanente com os atletas e a seleção tem sabido aproveitar. É uma equipa a todos os níveis consolidada e assim continuará a ser certamente", elogia.
Com uma lista de convocados dominada pelo FC Porto (11 jogadores), é inegável a influência da equipa nortenha na seleção das quinas. As rotinas adquiridas no clube são naturalmente uma vantagem para o selecionador Paulo Pereira e quem lucra é a equipa de todos nós.
"É evidente, o FC Porto com o número de jogadores que tem na seleção também tem aqui um papel importante. São os jogadores que se conhecem, que treinam todos os dias, que com um simples olhar conseguem construir a próxima jogada e isso tem sido importante e também interpretado pelo selecionador e pela seleção nacional, o que é muito relevante e tem sido uma vantagem", refere o dirigente, que destaca ainda a experiência adquirida pelas equipas portuguesas nas competições internacionais de clubes como a Liga dos Campeões como também uma das razões para o aumento da competitividade da seleção nacional.
"Espero que continue este ambiente de cooperação, de entreajuda e de diálogo entre todos porque está visto que é meio caminho andado para o sucesso."
"A partir do momento que fazemos percursos longos nas competições europeias, com as diversas equipas, com Sporting e FC Porto, isso tem permitido essa rotina e essa competição junto dos melhores. Uma equipa que esteja na Champions está a jogar com o melhores clubes da Europa que também transportam para as suas seleções os respetivos jogadores. Há um efeito positivo permanente em que todos ganham. Os clubes ganham por estarem nas competições de alta dificuldade , os atletas que também ganham por fazer parte desses jogos internacionais. (...) Todos juntos conseguimos melhores resultados, remando para o mesmo lado conseguimos atingir os objetivos mais rapidamente e isso tem sido uma das bases do sucesso do andebol em Portugal. Quer ao nível de clubes quer da seleção nacional espero que continue este ambiente de cooperação, de entreajuda e de diálogo entre todos porque está visto que é meio caminho andado para o sucesso", atirou.
A finalizar, Miguel Laranjeiro espera, apesar deste contexto de pandemia, que os resultados da seleção possam conseguir captar mais jovens para a prática da modalidade.
"A pandemia trouxe na área da formação problemas inimagináveis, paragem nos campeonatos. Temos que esperar para perceber o impacto, porque terá algum. Mas nós estamos atentos a lutar para minorar ao máximo esses impactos. Agora, como é evidente ter uma seleção nacional a jogar as competições internacionais, assim como os clubes, ajuda e de que maneira a angariação, e traz a atenção dos mais jovens pela modalidade e isso é muito importante. Essa é uma das razões para a importância da presença da seleção nacional nas grandes competições. A visibilidade, os jogos na televisão, os artigos dos jornais, notícias nas rádios, o ser falado. Percebermos que podemos estar no topo do topo. Muitas vezes é aquilo que falta para os jovens aderirem a determinada modalidade", concluiu.
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